O aumento do salário mínimo para o valor de R$ 1.302, confirmado ontem em Medida Provisória publicada no Diário Oficial da União, deve ter um impacto fundamental na economia alagoana para 2023. É o que diz o professor de economia da Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Francisco Rosário.
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Em entrevista ao TNH1, o especialista destacou que o aumento tem grande impacto na região Nordeste, especialmente em Alagoas, onde 50,36% da população vivem na pobreza, segundo dados do Centro de Políticas Sociais da Fundação Getulio Vargas (FGV Social).
"Se você olhar para Alagoas em particular, onde a maioria dos trabalhadores recebe salário mínimo, tem ainda aposentadoria e os BPCs (Benefício de Prestação Continuada), você tem cidades do interior que vivem praticamente desse dinheiro. Aqui do lado, em Coqueiro Seco, praticamente não há emprego formal na rede privada. 96% do emprego formal é do setor público e o resto é aposentadoria e benefícios. Como Alagoas vive basicamente de transferência, essa é a melhor notícia para um estado como o nosso, aumento real de salário mínimo, porque você começa a sinalizar que a injeção de recursos vai ser grande. É um impacto enorme na nossa economia alagoana, é fundamental", analisou Rosário.
A Secretaria-Geral da Presidência da República explicou que o valor do reajuste considera uma variação da inflação de 5,81%, acrescida de ganho real de cerca de 1,5%. Esse acréscimo deve injetar R$ 6,8 bilhões no cenário nacional. Apesar da importância do aumento de R$ 90 em relação ao mínimo deste ano, o professor ponderou que o salário perdeu quase 20% em comparação com os últimos quatro anos devido à inflação e os cortes de orçamento.
Cálculos feitos pela Pesquisa Nacional da Cesta Básica de Alimentos, realizada pelo Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (Dieese), apontaram em agosto que o salário mínimo ideal para atender às necessidades de uma família de quatro pessoas seria de R$ 6.298,91, valor cinco vezes maior que o atual mínimo de R$ 1.212.
Rosário: salário mínimo é fundamental para a economia de estados como Alagoas. (Foto: Ufal)
Economia em 2023 - As projeções para 2023, quando o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva iniciará o terceiro mandato à frente do Governo Federal, ainda são incertas, opina Francisco Rosário. Ele cita que ainda é preciso aguardar o resultado da votação sobre a Proposta de Emenda à Constituição (PEC) da Transição, além de visualizar dificuldades com os preços dos combustíveis por causa da Guerra na Ucrânia.
"Está todo mundo muito calado, mas a guerra não está com previsão de acabar. Não estão querendo aumentar a produção de petróleo e os EUA precisam recompor os estoques internos, que estão muito baixos. Significa que haverá pressão no preço do petróleo quando o inverno pegar mesmo, no começo de janeiro, o que vai repercutir para a gente".
Para o professor, a nova regra aprovada pela União Europeia na semana passada, que determina às empresas exportadoras demonstrar que os produtos vendidos ao mercado europeu não têm ligação com o desmatamento, pode ser um ponto a balancear a inflação em 2023.
"Caso a União Europeia comece a barrar determinadas exportações de carne e outros tipos de comida, pode haver aumento de oferta no mercado interno, o que ocasiona na queda do preço do alimento e compensa mais ou menos o preço do combustível", disse Rosário.
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