Médicos faziam procedimentos estéticos em membros do PCC presos, diz Promotoria

Publicado em 14/01/2025, às 16h25
Médicos faziam procedimentos estéticos em membros do PCC presos, diz Promotoria - Divulgação / SSP
Médicos faziam procedimentos estéticos em membros do PCC presos, diz Promotoria - Divulgação / SSP

Por Francisco Lima Neto / Folhapress

Investigação da Polícia Civil e do Ministério Público identificaram que médicos e dentistas faziam procedimentos cirúrgicos e estéticos em membros do PCC (Primeiro Comando da Capital) presos em unidades de segurança máxima em São Paulo.

Presidiários como Wanderson Nilton de Paula Lima, o Andinho; Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue, morto em fevereiro de 2018; Paulo Cézar Souza Nascimento Junior, o Paulinho Neblina; e Marcos Willians Camacho, o Marcola, estão entre os membros do PCC que tiveram atendimento ao plano de saúde VIP, como foi chamado informalmente o esquema.

Marcola, segundo a investigação recebeu aplicação de botox.

"Tinha pedido até para o Marcola colocar botox. Quando eu fui verificar o que embasou esse pedido, o médico havia dito que ele tinha uma inflamação no nervo trigêmeo, cujo tratamento era o botox. Então, veja, eles utilizam de subterfúgios para poder obter algumas regalias e benefícios", explicou o promotor Lincoln Gakiya.

Ainda de acordo com o promotor, havia solicitações para que os presos recebessem procedimentos dentários e, junto, eram feitos clareamentos nos dentes.

Apenas membros com determinados status dentro da facção conseguiam esses atendimentos.

O PCC contava com os serviços da ONG Pacto Social e Carcerário, que defende os direitos do presos, e que segundo a investigação, foi constituída sob demanda da facção.

As investigações começaram há cerca de três anos, quando uma visitante tentou entrar na Penitenciária 2 de Presidente Venceslau, de segurança máxima, com droga e cartões de memória escondidos nas roupas.

Os itens foram apreendidos e analisados, assim como como manuscritos de detentos, que apontaram para crimes de setores do PCC, divididos em "gravatas", "saúde" e "financeiro".

"O que se vislumbrou dentro daqueles cartões de memória que haviam diversos arquivos ali, contendo pastas dos setores de saúde da facção, de médicos e dentistas, advogados com codinomes, e havia um material da ONG, que prestava contas à cúpula da facção que estava ali estabelecida na unidade prisional. Esse material foi aprendido em setembro de 2021. Em 2022, uma nova remessa de manuscritos foi apreendida no interior da penitenciária, lá traziam novas referências a esses advogados, a médicos e dentistas", explicou o delegado Edmar Caparroz, do Deinter (Departamento de Polícia Judiciária do Interior) 8.

Os advogados são os responsáveis pelo setor dos "gravatas" e têm a função de fornecer assistência jurídica, além de gerenciar outros departamentos da organização criminosa, como os da "saúde", para selecionar médicos e dentistas que prestavam atendimento a membros da facção dentro das penitenciárias.

Os profissionais da saúde não tinham conhecimento de que estavam prestando serviços para membros do PCC e eram escolhidos aleatoriamente, segundo a investigação, eles cobravam valores acima do praticado no mercado e eram pagos com depósitos não identificados, e até de forma parcelada, com dinheiro do crime, intermediado pelo setor "financeiro".

Os policiais descobriram, ainda, que há um quarto setor da facção, o das "reivindicações", que ingressa com ações judiciais com denúncias falsas de tortura e outros abusos, para desestabilizar o sistema de justiça criminal e colocar a opinião pública contra o estado.

A ONG também seria responsável por fomentar manifestações populares contra o sistema penitenciário sob as mesmas alegações de supostos abusos e tortura contra presos. O objetivo principal seria acabar com o RDD (Regime Disciplinar Diferenciado), que é um regime de cumprimento de pena mais rígido.

Em novembro de 2023, a investigação encontrou na cela de um preso na P1 em Presidente Venceslau a indicação de que a facção pretendia matar três agentes públicos não identificados, que provavelmente seriam diretores de presídio ou policiais penais.

Nesta manhã, foram cumpridos 12 mandados de prisões preventivas e 14 de busca e apreensão.

Foram presos três advogados responsáveis pelo setor "gravatas" do PCC; a mulher que tentou entrar no presídio com droga e os pen-drives, o presidente e o vice-presidente da ONG; um casal de Presidente Prudente, responsável pela logística e operação de manifestação realizada em dezembro de 2023, contra o sistema penitenciário. Os demais são pessoas ligadas à ONG e outros que já estavam presas, como o detento que receberia os pen-drives.

Os mandados foram cumpridos nas cidades de São Paulo, Guarulhos, Presidente Prudente, Flórida Paulista, Irapuru, Presidente Venceslau e Ribeirão Preto, no estado paulista, e em Londrina (PR).

A entidade teve os seus serviços suspensos por ordem judicial. A ONG Pacto Social e Carcerário foi procurada por telefone, mensagem e email na manhã desta terça, mas não houve resposta até esta publicação.

A operação foi batizada de Scream Fake (falso grito, em inglês), e a investigação está em segredo de Justiça.

Gostou? Compartilhe