As mariposas do gênero Aellopos chamam a atenção dos pesquisadores pelo menos desde o século 19. O naturalista britânico Henry Bates (1825-1892), durante visita à floresta amazônica, teve dificuldade de distinguir o inseto voando entre beija-flores.
O voo frenético, a presença de cauda e de uma faixa branca em seu dorso são características compartilhadas com a ave da espécie Lophornis chalybeus. De hábitos diurnos, essas mariposas desenvolveram adaptações morfológicas semelhantes às do pássaro para escapar dos predadores.
A interação entre esses animais é amplamente conhecida, mas a forma de olhar para ela pode mudar. É o que propõe artigo do professor Felipe Amorim, biólogo do Instituto de Biociências da Universidade Estadual Paulista (Unesp), publicado em agosto na revista Ecology.
Os insetos Aellopos são comumente lembrados nas discussões sobre mimetismo, relação ecológica que pressupõe um animal modelo e outro (ou outros) que age como mímico, imitando-o em algum aspecto.
O mimetismo pode ser batesiano (em homenagem a Henry Bates), no qual um animal inofensivo reproduz uma característica ameaçadora de outra espécie para afugentar seu predador, ou mulleriano, em que duas ou mais espécies se assemelham a outras que são tóxicas ou impalatáveis ao predador, que evita se aproximar de todas.
No caso das mariposas, Amorim defende a hipótese de se tratar de um novo tipo de mimetismo. "Um predador de insetos não vê o beija-flor como uma ameaça. Quando ele vê a mariposa Aellopos, ele apenas ignora, enxerga um animal que não faz parte de sua alimentação", explica.
A ausência de um possível efeito danoso ao predador caracterizaria, na visão do biólogo, uma nova situação. Soma-se a isso a existência de poucos animais que se alimentam de beija-flores, presas rápidas e pequenas, que nem sempre valem o esforço de captura.
"Não é uma coisa particular, que só eu vi. Todo biólogo já viu, mas classifica normalmente como mimetismo batesiano", afirma.
O pesquisador agora busca recursos para comprovar sua hipótese com uma pesquisa detalhada, que estima levar um prazo de três anos. Ele lamenta a pouca atenção dada aos estudos na área de taxonomia e história natural.
"Não conhecemos nem 1% de todas as espécies de seres vivos do mundo e, entre as que conhecemos, o percentual estudado profundamente ainda é muito baixo", diz.
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