"Mancha espumosa muito grande", diz pesquisador da Ufal, sobre morte de peixes no Rio Santo Antônio

Publicado em 24/10/2023, às 14h37
Reprodução / MPF-AL
Reprodução / MPF-AL

Por TNH1 com TV Pajuçara

A morte de milhares de peixes no Rio Santo Antônio, na Barra de Santo Antônio, já está sendo investigada pelos órgãos de fiscalização competentes. O pesquisador da Universidade Federal de Alagoas, Emerson Soares, afirmou nesta terça-feira, 24, que uma grande mancha espumosa foi visualizada no rio do litoral norte do Estado. 

"Estivemos in loco para averiguar a situação, tiramos fotos, fizemos imagens e colhemos depoimentos dos pescadores. A gente monitora aquele rio há quatro anos, temos indicativos do que pode ter acontecido. Agora é óbvio que precisamos coletar material e analisar em laboratório para referendar os dados e apresentá-los à sociedade. O que constatamos foi uma grande mortandade de peixes, geralmente esses peixes têm pouca capacidade natatória, ou seja, eles não têm opção de fuga muito rápida. Vimos uma mancha, quantidade de mancha espumosa muito grande, o que indica poluentes". 

De acordo com o professor, equipes do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio) já realizaram coleta da água e o resultado deve ficar pronto em uma semana. 

"Tratamos sempre com duas ou três hipóteses: a primeira é que pode ser um boom de algas. O que é isso? Quando um ambiente está com condições de nutrientes muito altas, uma certa alga tóxica libera toxina e mata os peixes. A segunda opção, que eu acho mais plausível, foi algum produto lançado no ambiente. E essa mancha, por onde passou, foi dizimando e intoxicando os peixes, matando-os. Sem opção de fuga, esses peixes acabaram morrendo", iniciou o professor. 

"A outra opção é uma grande quantidade de poluentes lançados de origem difusa pelos municípios, o acúmulo de matéria orgânica, de esgoto, que também pode influenciar e prejudicar aumentando a condição de degradabilidade do ambiente", complementou.

O Ministério Público Federal expediu ofícios de urgência para que o ICMBio APA Costa dos Corais verifiquem o pode ter causado e o Instituto do Meio Ambiente de Alagoas (IMA-AL) enviem relatório de fiscalização no local, a fim de aferir a causa e os responsáveis pela mortandade de peixes, fiscalizando diretamente empreendimentos das proximidades que possam estar realizando descartes irregulares no corpo hídrico. O MPF também acionou a Polícia Federal para investigar o incidente. 

Mortandade ocorreu há alguns anos - O professor Emerson Soares relembrou que essa não é a primeira vez que o meio ambiente é afetado por esse tipo de problema naquela região. 

"Sim, eu mesmo presenciei uma grande mortandade em 2019, nesse mesmo período, as coisas não são coincidentes. As coisas acontecem em momentos que temos junção de fatores, como o clima, mudança de correntes como a hidrodinâmica do ambiente, e alguma atividade agropecuária ou atividade que usa o solo na região, o que é muito coincidente nesta época, e acaba por acontecer esses problemas. Não foi a primeira vez, não será a última, enquanto não levarmos a sério que o meio ambiente precisa ser cuidado, fiscalizado e monitorado", cobrou. 

O MPF ressaltou que a situação do corpo hídrico do rio Santo Antônio, que corta os municípios de Barra de Santo Antônio e São Luís do Quitunde, em Alagoas, está sendo acompanhada. Um inquérito civil instaurado em 2020 investiga a morte de peixes no rio, que pode ter sido causada por poluição industrial, agrícola ou pelo esgoto doméstico.  

"Agora é esperar, se for poluente, que se dissipe. Se for microalgas, que também se dissipe. É uma fase de observação e deve-se evitar comer peixes daquele ambiente. Evitar pescar e tomar banho naquela área. A gente não sabe que produto está ali. Se é uma toxina de microalga, se é um produto que foi lançado. A gente espera que o próprio ambiente dilua esse material, e isso leva alguns dias", explicou Soares. 

O especialista afirmou ainda que um grande relatório sobre os rios da Área de Proteção Ambiental Costa dos Corais apontou que o rio Santo Antônio é um dos mais problemáticos da região. 

"Do ponto de vista de degradabilidade de área de ecossistema e mortalidade. Assim como tem esses problemas, nós também averiguamos que a biodiversidade ali é muito baixa, justamente porque é um rio que tem muitos problemas de contaminação de esgoto, de poluentes, de erosão, de assoreamento, de desmatamento das áreas marginais. Isso tem que ser levado em conta. A sociedade precisa cobrar, os órgãos fiscalizadores precisam estar ali, serem mais enfáticos para que isso não ocorra. Quem está pagando é o pequeno, é o pescador, que sofre, não pode pescar o peixe, não pode vender. Ficamos com um ecossistema totalmente comprometido pelo próprio homem, pela situação que o homem faz".

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