De 2000 a 2021, 93.850 idosos morreram de desnutrição proteico-calórica no Brasil. É o que afirmam pesquisadores da Ufam (Universidade Federal do Amazonas) e da UFVJM (Universidade Federal dos Vales do Jequitinhonha e Mucuri), em um artigo publicado na Revista Brasileira de Geriatria e Gerontologia, na segunda (12).
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Apesar da tendência geral de queda, nas duas últimas décadas, no público de 60 a 79 anos, o estudo mostra que as taxas de mortalidade por essa condição na população de 80 anos ou mais foi estacionária e permanece alta.
"Houve uma redução nas taxas de mortalidade por desnutrição proteico-calórica em idosos de um modo geral e também por sexo. Agora, quando estratificamos a tendência temporal por faixa etária, observamos que de 60 a 64 anos, 65 a 69 anos, e 75 a 79 anos reduziu a mortalidade. Em idosos com idade igual ou maior a 80 anos, a tendência foi estacionária", diz Ronilson Ferreira Freitas, epidemiologista, professor e um dos pesquisadores que elaboraram o estudo.
"Mesmo com a tendência decrescente, essas taxas continuam altas. O ideal seria que fossem baixas, por ser uma causa de óbito que pode ser prevenida por meio da implantação de políticas públicas efetivas", comenta.
Em toda a população acima de 60 anos, as taxas maiores foram registradas de 2003 a 2006, ano que registrou a mais alta de toda a série história 28,74 por 100 mil habitantes.
Entre as mulheres, a taxa de mortes mais alta ocorreu em 2006, com 25,01 por 100 mil habitantes.
No sexo masculino, os anos de 2005 e 2006 apresentaram taxas mais altas de mortalidade 33,53 por 100 mil habitantes em ambos. As taxas são maiores entre os homens, o que pode indicar negligência em relação a um estilo de vida saudável e a práticas de cuidado com a saúde, segundo o pesquisador.
Na população com 80 anos ou mais, o destaque também foi 2006, quando foram registradas 17,98 mortes por 100 mil habitantes.
O levantamento analisou a tendência de mortalidade de idosos por desnutrição proteico-calórica, caracterizada como uma deficiência grave de proteínas e calorias devido ao consumo insuficiente por um longo período.
Para a análise, foram consideradas pessoas com idade igual ou superior a 60 anos. Os dados de óbitos que compõem a série histórica de 2000 a 2021 foram extraídos do SIM (Sistema de Informação de Mortalidade), coordenado pelo Datasus.
De acordo com a pesquisa, a desnutrição proteico-calórica vitimou especialmente pessoas com 80 anos ou mais (63%). Do total, 50,7% são mulheres, 49% brancos, 33,4% analfabetos e 39,3% viúvos.
Na visão do pesquisador Ronilson Ferreira Freitas, as políticas públicas implantadas foram insuficientes para acabar com a mortalidade por desnutrição.
"É importante que novas políticas públicas sejam pensadas a partir das evidências geradas por esses estudos, pela literatura científica, e que estes possam ser utilizados por gestores e profissionais da saúde que estão na ponta, no sentido de repensar políticas públicas que possam ser discutidas, aprimoradas e implementadas. Deve-se levar em consideração, principalmente, as pessoas longevas, com idade igual ou superior a 80 anos", comenta.
Freitas também chama a atenção para a importância da atenção à saúde da população idosa e da qualificação dos serviços de saúde.
"A rede precisa estar preparada para identificar de forma precoce os indivíduos com risco nutricional e para que eles possam ter condições de estabelecer intervenções adequadas nos que já estão em estado de desnutrição. Essa falta de qualificação é um dos fatores que podem estar impactando nos resultados das políticas públicas já existentes", afirma.
Outra questão apontada pelo pesquisador é a escassez de estudos epidemiológicos que avaliam a mortalidade idosa por desnutrição proteico-calórica. "Temos dificuldade de encontrar estudos para podermos discutir. Então, deixamos como perspectivas futuras que os pesquisadores possam se interessar pelo tema, desenvolver novos estudos, novas evidências científicas, para colaborar com os gestores e os profissionais de saúde que estão na ponta dos serviços, para que esses serviços sejam qualificados", finaliza Freitas.
O estudo não apresentou recortes regionais, o que evidencia a necessidade de mais pesquisas sobre o tema. "É preciso entender melhor quem são e onde estão os idosos expostos a maior risco de desnutrição proteico-calórica, e identificar, no contexto atual, quais são as condições que aumentam o risco de tal evento."
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