Com o resultado do primeiro turno da corrida pela Presidência da República, as campanhas do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do atual chefe do Executivo, Jair Bolsonaro (PL), recalculam a rota para o segundo turno.
LEIA TAMBÉM
Por enquanto, o objetivo dos dois lados é focar no Sudeste para angariar novos votos —4 em cada 10 votos de todo país saem da região. Considerando esses estados, Bolsonaro venceu com diferença entre 7 e 12 pontos percentuais em São Paulo, Rio de Janeiro e Espírito Santo. O petista ganhou apenas em Minas Gerais, onde ficou com cinco pontos percentuais à frente.
Com 99,99% das urnas apuradas em todo o país, Lula tinha 48,43% dos votos e Bolsonaro, 43,2%. O resultado frustrou petistas que tinham expectativas de vitória no primeiro turno ou de grande vantagem na ida ao segundo turno. Já a equipe bolsonarista comemora o resultado e tem quatro semanas para reverter o cenário.
Início da semana com reunião. Ambas as campanhas se reúnem nesta segunda-feira (3) para discutir a agenda e as próximas viagens. O segundo turno está marcado para 30 de outubro.
A equipe do presidente se reúne em Brasília, nesta tarde, mas já existem caminhos sendo discutidos. O UOL apurou que o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira (PP-PI), deve ser o interlocutor da campanha de Bolsonaro em busca de apoios.
A intenção é retomar as viagens o mais rápido possível —o chefe do Executivo declarou que pretende visitar o máximo de estados que conseguir nas próximas semanas
Na campanha de Lula, após a apuração dos votos, ainda havia um clima de assimilação do resultado. Em reunião nesta tarde, eles devem fazer um mapeamento do desempenho, abordar os números com mais detalhes e discutir os futuros compromissos.
A avaliação petista é que os institutos de pesquisa acertaram as porcentagens de votos de Lula e Haddad, porém não conseguiram calibrar qual era o peso de Bolsonaro na eleição.
Onde estão os votos. A exemplo do que aconteceu no primeiro turno, os estados do Sudeste devem receber maior atenção.
Lula deve mirar inicialmente Minas Gerais e São Paulo e tentar entender o que aconteceu nos dois estados. Em São Paulo, a campanha tinha expectativa de vitória, mas não só Lula perdeu —teve 40,89% dos votos contra 47,71% de Bolsonaro—, como o petista Fernando Haddad foi para o segundo turno atrás de Tarcísio de Freitas (Republicanos), ex-ministro do atual presidente.
Em Minas, Lula venceu, mas com uma margem apertada —teve 48,29% dos votos, contra 43,6% de Bolsonaro.
Na campanha de Bolsonaro, os principais focos são:
Na coletiva que concedeu na entrada do Palácio da Alvorada depois da apuração, na noite de domingo, Bolsonaro afirmou que Zema, reeleito com 56,18% dos votos, é o principal alvo da busca por aliados. Ele declarou que já procurou um interlocutor do governador e sinalizou que a primeira reunião para articulações para o segundo turno será em Belo Horizonte.
Diferentemente de 2018, Zema evitou declarar apoio para Bolsonaro no primeiro turno.
São Paulo polarizado. Por sua vez, Lula deverá rodar o interior de São Paulo com o candidato a vice na chapa, Geraldo Alckmin (PSB), que ganhou duas eleições para o governo do estado em primeiro turno, e com Haddad.
No discurso após o resultado, o ex-presidente disse que o principal palco do segundo turno será o estado. "É um confronto de ideias, um confronto programático, é um confronto de propostas para a sociedade. E estou disposto a fazer tudo o que for possível, Haddad. Tenho certeza que nós dois juntos vamos ganhar São Paulo e vamos ganhar o Brasil."
Do outro lado, o desempenho de Tarcísio na disputa pelo governo paulista foi bastante celebrado por Bolsonaro e auxiliares. A equipe do presidente considera que o palanque do ex-ministro será um grande trunfo que pode ajudar a decidir a eleição.
Mais surpresas para o PT. O partido de Lula também esperava uma diferença menor com Bolsonaro no Rio de Janeiro. E não previu o aumento da abstenção. O PT focou as últimas semanas, em especial, nas populações em que eles têm vantagem, porém apresentam abstenção alta: as classes média-baixa e baixa, além dos jovens.
Em 2018, 20,3% dos eleitores deixaram de votar. Agora, com quase 100% das urnas apuradas, a abstenção se aproximava de 21%.
Nordeste também no radar. A equipe do presidente também fará um esforço no Nordeste. A intenção é diminuir a desvantagem em relação a Lula —o petista ganhou em todos os nove estados da região, com vantagem que chegou a 54 pontos percentuais no Piauí.
Nesta empreitada, o candidato à reeleição espera contar com reforço na Bahia —quer ACM Neto como aliado. Favorito no começo da campanha, ACM Neto passou ao segundo turno das eleições como vice-líder.
Junto às negociações nas regiões, os bolsonaristas apostam no aumento de rejeição a Lula e no discurso econômico para passar para a liderança na disputa.
Os petistas buscam ampliar as alianças —já falam em intensificar o diálogo com o MDB, com oferta de uma pasta à presidenciável derrotada Simone Tebet, como noticiou a Folha de S.Paulo.
Vendendo otimismo. Depois da apuração, a campanha de Bolsonaro tentou passar um clima positivo. Ao UOL o ministro das Comunicações, Fábio Faria, disse que a diferença pequena entre Lula e Bolsonaro mostra "uma tendência total de vitória do presidente Bolsonaro e todos sabem disso".
"Agora é trabalhar politicamente, continuar o que estamos fazendo para conseguir a vitória daqui a quatro semanas."
No PT, as lideranças tentaram emplacar o mesmo tom. Alckmin afirmou que o grupo está "em festa". "Agora é começar a segunda tarefa: ganhar a eleição, salvar a democracia e fazer o Brasil voltar a crescer."