Justiça

Júri de PM que matou motorista no trânsito de Maceió começa com depoimentos de testemunhas; veja

João Victor Souza | 03/05/24 - 10h40
Testemunha é ouvida durante julgamento no Fórum do Barro Duro | Ascom MPAL

Começou, na manhã desta sexta-feira, 03, o julgamento do policial militar aposentado Gedival Souza Silva, acusado de matar o motorista Fábio Jhonata da Silva, no ano de 2021, no Centro de Maceió, após uma briga de trânsito. O júri estava marcado para o dia 22 de abril, porém foi adiado para o dia 3 do mês seguinte devido à ausência de três testemunhas tidas como imprescindíveis pela defesa e pela alegada falta de tempo para analisar o prontuário médico da vítima.

Família pede Justiça - Antes do julgamento, os familiares de Fábio Jhonata conversaram com o repórter Bruno Protasio, da TV Pajuçara, no Fórum do Barro Duro, e afirmaram que esperam pela condenação do PM. Eles usaram camisas com a imagem da vítima e com a frase "Justiça pelo Fábio", e levaram um cartaz também com a foto do motorista e com uma frase para chamar a atenção do Poder Judiciário.

Fábio Jhonata morreu depois de ser baleado durante briga no trânsito de Maceió (Foto: Arquivo Pessoal)

"Esperamos que a justiça seja feita, para nós prosseguirmos com as nossas vidas, com o sentimento de dever cumprido pela vida dele que foi tirada", disse Eveline Vieira, viúva da vítima.

Rosângela Joventino, mãe de Fábio, também destacou o sentimento antes do júri. "Agradeço o apoio de toda a população. Estamos aqui em busca de justiça. A expectativa é de que hoje acabe esse martírio, esperamos que ele [o PM réu] seja condenado". 

Eveline e Rosângela foram com camisas com frase com pedido de Justiça (Foto: Reprodução/TV Pajuçara)

MP sustenta a tese de homicídio duplamente qualificado - O promotor de Justiça Napoleão Amaral Fraco enfatizou que o trabalho do Ministério Público no julgamento é mostrar que o réu deve responder por homicídio duplamente qualificado por motivo fútil e por recurso que tornou impossível a defesa da vítima.

"Nós estamos aqui para mostrar ao Conselho de Sentença a necessidade de reconhecer a responsabilidade criminal do réu. O Ministério Público vai sustentar essa tese. A primeira qualificadora subjetiva é justamente a desproporção entre o crime praticado e a razão que motivou o crime. Ou seja, uma briga de trânsito é completamente desproporcional para justificar um crime de homicídio. A segunda qualificadora é o fato de a vítima ter sido lesionada com tiro nas costas, e não houve possibilidade da vítima oferecer o recursos suficiente", informou. 

Promotor Napoleão Amaral (à direita) acompanha depoimento de testemunha (Foto: Ascom MPAL)

"Abstratamente, ele está numa pena prevista de 12 a 30 anos, mas o réu é primário, confesso e sem antecedentes. Pela experiência, o MP acredita que se o magistrado reconhecer as duas teses, há uma pena de 16 ou 17 anos, variando em torno disso. Vai depender do prudente critério do magistrado", complementou.

Depoimentos de testemunhas - A primeira testemunha a depor foi o policial militar Gomes dos Santos, que estava a trabalho no dia do fato e atendeu a ocorrência no Centro de Maceió. Veja abaixo trecho do depoimento dele:

"Estávamos de serviço nesse dia. Na rua, o trânsito estava congestionado e nós estávamos parados. Cerca de 100 ou 150 metros à frente da guarnição ouvimos estampidos. Como era próximo aos camelôs, achamos que alguma placa teria caído, não acreditávamos que seriam disparos de armas de fogo. Quando a gente chegou até o local, os taxistas e as pessoas que passavam no local disseram que foram tiros o que houve ali e teriam alvejado um cidadão. Chegamos a avistar o cidadão sentado, gesticulando, ainda lúcido. Nesse momento, foi passado para a gente os números da placa do veículo do autor que teria feito os disparos. Tomamos essa decisão de tentar capturar o autor. Em ruas próximas ao evento, conseguimos encontrá-lo. Nós o abordamos. O autor parou de imediato e já desceu com as mãos para cima e disse que fez uma besteira. Assim que ele me viu, ele não esboçou reação nenhuma. Foi dada voz de prisão. Ele falou que tinha ido até o centro tratar da documentação para casar e que uma manobra de trânsito onde ocorreu o evento, o cidadão o fechou com o carro, aquelas coisas de trânsito. Eles vieram a discutir. Trocaram insultos. Em uma troca de insultos, não me recordo se chegaram a se agredir, mas o que foi dito verbalmente foi muito forte. Até o momento da vítima se descolar e abaixar em seu veículo, ele (o réu) acreditou ser arma de fogo, foi quando ele efetuou os disparos. Ele acreditava piamente que era uma arma de fogo". 

O promotor de Justiça questionou se havia de fato arma de fogo no carro da vítima. A testemunha disse que foi feita revista no carro e não foi encontrado nada.

(Foto: Ascom MPAL)

Já a segunda pessoa a ser ouvida foi a assistente social que atendeu a vítima no HGE. Ela deu detalhes da chegada e do atendimento de Fábio Jhonata na únidade de saúde. Confira abaixo o relato dela:

“Eu estava trabalhando no HGE, o paciente deu entrada na área vermelha. Dentro do HGE, quando o paciente entra, eu, como assistente social, entro em contato com a família para dizer que o paciente deu entrada no hospital. Comuniquei que ele deu entrada e que a família aparecesse. A gente pede para a família aparecer, chama equipe médica, psicólogo. A área vermelha é a porta de entrada para trauma. O paciente que tem ferimento de arma de fogo, arma branca entra pela área vermelha. Ele estava desesperado, pedindo socorro, dizendo “me ajuda, não consigo respirar”. Ele pediu celular para falar com a esposa dele. Ele foi para o centro cirúrgico”

Napoleão Amaral Franco perguntou se a assistente social chegou a ver os ferimentos da vítima. Ela disse que, em um primeiro contato, não. Mas, quando o médico começou a manusear o paciente, a funcionária viu os ferimentos nas costas do homem. A assistente social informou ainda que, após a cirurgia, a vítima foi para a UTI, e faleceu dias depois.

(Foto: Ascom MPAL)

Um homem que mora no local e prestou socorro à vítima foi a terceira pessoa a prestar depoimento. Ele disse que colocou Fábio no carro que conduzia e o levou até o hospital. Leia a seguir:

“Eu moro lá próximo. Em uma pousada. Eu ouvi disparos. Eu olhei pela janela e vi a movimentação de pessoas. Desci rapidamente, quando cheguei, vinha chegando viatura da Policia Militar. As pessoas que estavam próximo acenavam para viatura. Eu atravessei, me deparei com Fabio de joelho no local. Pessoas perguntaram se alguém iria socorrer. Ele estava já baleadao. Ferimento nas costas. Coloquei ele no carro que ele conduzia. O carro estava com a porta aberta. Coloquei ele no banco de trás e conduzi até o HGE. Fui até o HGE, me identifiquei. O pessoal do HGE fez o atendimento rápido, o carro tinha adesivo da Prefeitura de Maceió. O moço disse que ele já estava no centro cirúrgico e pediu o celular dele, que estava no carro. Entreguei a chave e vim embora. Chegando no centro, vim de mototáxi, me falaram o que tinha acontecido”

Ainda não há previsão para o término do julgamento. Ele está sendo conduzido pelo juiz José Braga Neto, da 8ª Vara Criminal de Maceió. Por volta das 11h, o réu começou a depor. 

O caso - Consta no processo que o denunciado e a vítima tiveram uma discussão de trânsito, e ambos desceram do veículo. Em seguida, Fábio foi em direção ao seu carro, procurando algo no piso. Neste momento, o PM correu para se armar e disparou duas vezes contra a vítima.

Gedival confessou o crime, afirmando que interpretou que Fábio iria fazer algo contra ele. Ainda durante o interrogatório, o acusado disse que estava arrependido e que não tinha intenção de matar a vítima.