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Jovem acorda vesga e descobre pseudotumor: ‘Sentia uma dor de cabeça insuportável'

Marie Claire | 20/08/24 - 19h33
Foto: Arquivo TNH1

A estudante de odontologia Valentina Queiroz, 19, é diagnosticada com uma doença rara chamada hipertensão intracraniana idiopática, também denominada pseudotumor cerebral. O primeiro sintoma de Queiroz foi uma cefaleia persistente, que ela não acreditava ser algo mais sério.

O incômodo surgiu em julho de 2023. “Era uma dor de cabeça insuportável. Eu dormia e acordava com ela. Nenhum remédio resolvia. Mas eu fui empurrando com a barriga porque achava que era por passar muito tempo no celular”, lembra a moradora de Araras (SP).

Além da cefaleia, Queiroz sentia o pescoço rígido. Ela procurou um quiropraxista e sentiu melhora, mas a dor de cabeça continuava. O especialista disse que seu caso era de tensão muscular.

“Só que, no dia seguinte, eu acordei vesga. O meu olho direito estava torto e eu não sabia o que fazer. Entrei em desespero”, relata a jovem. Embora assustada com o que estava acontecendo, ela não procurou ajuda médica de imediato.

Ela só foi até o pronto-socorro quando sua avó pediu para ela investigar a causa do olho torto. Uma tomografia e um raio-X não acusaram nenhuma alteração, e Queiroz foi internada para uma investigação mais detalhada. Os médicos suspeitavam de paralisia do nervo óptico, o que fez com a jovem tivesse medo de seu olho não voltar ao normal.

A moradora de Araras foi encaminhada para a ressonância magnética. “O desespero veio quando o médico me deu o diagnóstico às 22h, na porta do quarto do hospital. Quando ele entrou, meu mundo desabou”, lembra.

O especialista informou Queiroz que ela tinha hipertensão intracraniana idiopática, também conhecida como pseudotumor cerebral. A condição afeta cerca de uma a cada 100 mil pessoas. É até 20 vezes mais comum em mulheres com sobrepeso e obesidade, em idade fértil.

“A hipertensão intracraniana idiopática (HII) é uma condição em que há um aumento da pressão dentro do crânio sem uma causa aparente. Ela também é chamada de pseudotumor cerebral porque os sintomas podem mimetizar aqueles que são de um tumor no cérebro, como dor de cabeça, náusea, vômito e problemas de visão. No entanto, não há uma massa ou crescimento anormal no órgão que explique os sinais, o que justifica o termo pseudo, ou seja, falso tumor”, esclarece a neurologista Bruna Proença, do Hospital Nove de Julho.

A causa exata da HII não é completamente entendida. Mas sabe-se que ela está relacionada “a uma disfunção na absorção ou produção de líquido cefalorraquidiano (LCR), o que leva ao acúmulo de pressão no cérebro”, explica Proença.

Os desafios do tratamento

Segundo a especialista, a intervenção para a condição consiste em: uso de medicamentos para reduzir a produção de líquido cefalorraquidiano e procedimentos cirúrgicos, como punções lombares repetidas para drenar o excesso de LCR ou colocação de uma derivação (shunt) para desviá-lo e aliviar a pressão no cérebro.

No caso de Queiroz, o tratamento inicial seria com diurético. No entanto, ela foi transferida para um hospital de São João da Boa Vista, cidade vizinha de Araras, onde passou com um especialista no assunto e levou um susto ao ser informada que precisaria de uma cirurgia de emergência.

“O médico me disse que eu estava no estágio mais avançado da doença e que, se eu não operasse, perderia a visão”, relata. O procedimento cirúrgico consistiu na colocação de uma válvula no cérebro da jovem, capaz de drenar o líquido cefalorraquidiano e amenizar a pressão cerebral.

“Assim que eu saí da cirurgia, meu olho já estava voltando ao normal. Fiquei muito feliz. Mas a recuperação foi bem complicada. Eu lembro que, nos primeiros dias, eu não conseguia sair da cama. Meu pescoço doía muito. Mas com muito esforço e remédio, voltei para casa depois de uma semana internada”, relata.

Possível confusão no diagnóstico

Neste ano, a estudante começou a passar mal diariamente no almoço e fim da tarde. Isso fez com que ela procurasse por um novo especialista, dessa vez em Ribeirão Preto.

“Ele disse que o médico que me operou se precipitou em já colocar a válvula porque ela é a última opção quando a pessoa tem hipertensão intracraniana idiopática”, explica Queiroz.

O novo médico também suspeita que a jovem tenha tido um quadro temporário de pseudotumor cerebral e não a doença em si. No entanto, para comprovar essa hipótese, a estudante precisa se internar para tirar a válvula e ser monitorada.

“Hoje em dia, estou tentando lidar com essa dor da melhor forma possível até eu conseguir operar de novo. É uma doença muito desafiadora e nunca imaginei passar por isso. Mas o conselho que eu dou, para as pessoas que estão suspeitando da condição, é procurar um médico o quanto antes. Não cometa o mesmo erro que eu”, reflete Queiroz.