Isolamento social turbina as vendas de robô aspirador

Publicado em 20/06/2020, às 15h41
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Por Bruna Narcizo/Folhapress

Robô que aspira, secador de cabelo, churrasqueira elétrica. Eletrodomésticos como esses estão entre os produtos que tiveram crescimento exponencial de vendas desde o início da pandemia do novo coronavírus.
Quem atua no varejo atribui o movimento de alta ao distanciamento social, que fechou estabelecimentos como salões de belezas e mantém as pessoas em casa, o que exige fazer a própria faxina e de forma mais frequente.

Chama a atenção em especial a busca por robôs aspiradores. O produto, considerado uma excentricidade até bem pouco tempo, entrou na lista de compras das famílias.

Dados da GFK, empresa de estudos de mercado, apontam que aspiradores tiveram um crescimento de 116% nas vendas logo no início do isolamento, na semana do dia 16 a 20 de abril, na comparação com a mesma semana de 2019. Foi a maior porcentagem registrada pela empresa entre todos os 28 produtos analisados.

Alguns fabricantes comemoram a descoberta do aparelho. Segundo Giovanni Marins Cardoso, presidente da Mondial, as venda de aspiradores robôs tiveram um crescimento de 500% no mês de abril. Mas ele mesmo pondera que parte da alta é reflexo da baixa demanda de antes.

Segundo ele, no mês de março, aspiradores robôs representaram 2,5% do mercado de aspiradores de pó geral. Cardoso diz que a empresa se baseou na mudança nos hábitos de consumo de outros países para se preparar para um aumento da procura no Brasil.

"Pegamos todos os dados do mercado da China, que teve um comportamento similar. As pessoas estão mais em casa. Os hábitos mudaram, consequentemente os hábitos de consumo também", disse.

A personal organizer Maria Carolina Cassiani Alba, 42, se viu nessa situação e diz que teve que comprar um aspirador robô na segunda semana de isolamento, ainda em março. "Estou completamente apaixonada. Dei até um nome para ele, Robson, de robô."

Ela tem dois filhos, de 13 e 9 anos, e está sem a empregada doméstica, que também permanece em isolamento.

"Tenho praticamente TOC [transtorno obsessivo compulsivo] por limpeza. Passei as duas primeiras semanas limpando a casa diariamente e tenho problema na região lombar. Fiquei acabada."

O aspirador robô de Maria Carolina é ligado em dias alternados e ela diz que em duas horas ele limpa toda a casa.

O produtor e diretor de cinema José Carlos Lage, 51, passa os dias sozinho em casa com os dois filhos, de 6 e 14 anos, e nem acredita que o robô funciona. A mulher dele trabalha na CPTM (Companhia Paulista de Trens Metropolitanos) e, sem empregada diariamente, o jeito que a família encontrou para manter a casa limpa foi apelar para o aparelho.

"Compramos o mais barato do mercado e usamos quatro vezes por semana", diz. Na casa de Lage o robô também tem nome: Jarbas.

O consumo, no entanto, não ficou restrito apenas aos afazeres domésticos. Cardoso, da Mondial, diz que houve alta nas vendas de produtos de cuidados pessoais, sobretudo as escovas secadoras. "Com os salões de beleza fechados, as pessoas passaram a ter que se cuidar sozinhas."

Na Mondial, as vendas de churrasqueiras elétricas e escovas secadoras cresceram 312% e 68%, respectivamente. O cenário é parecido no Grupo Britânia, dono das marcas Philco e Britânia. A empresa também comemora a alta nas vendas desse tipo de eletrodoméstico durante a pandemia.

Aspiradores robôs cresceram 250%, escovas secadoras e rotativas, 120%, e churrasqueiras elétricas, 30%. Entre os especialistas, a percepção é que mudanças nos hábitos de consumo tendem a ocorrer em várias frentes.

"Tudo relacionado à alimentação cresceu muito. Almoço de domingo, bolo, jantar", diz Luciana Faluba, professora e pesquisadora na área de Estratégia e Marketing na Fundação Dom Cabral.

Mas ela diz que, no agregado, há uma queda nas vendas. "Haverá impacto direto nas vendas porque já estamos vendo queda na renda –a população vai estar mais empobrecida."

Segundo dados da Eletros (Associação Nacional dos Fabricantes Produtos Eletroeletrônicos), esses crescimentos são pontuais e insuficientes para o setor como um todo. De forma geral, o setor já sente o empobrecimento.

"O negócio com eletrodomésticos do Brasil teve um crescimento ínfimo, e não compensa a queda gigante em vendas de geladeiras, por exemplo. As quedas, nesse caso, são da ordem de 60% a 70%", afirma José Jorge do Nascimento Júnior, presidente da Eletros.

Segundo ele, a principal queda foi em produtos da chamada linha branca, que inclui, além da geladeira, fogão, ar-condicionado e freezer.

A demanda pontual é registrada no meio digital. O Google afirma que a categoria aspirador robô é a mais buscada entre eletroportáteis desde o início da pandemia –alta de 70,5% ante a média das primeiras semanas do ano.

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