Influenciadoras maduras ganham as redes com dicas de beleza e autoestima

Publicado em 16/07/2023, às 15h34
Imagem Influenciadoras maduras ganham as redes com dicas de beleza e autoestima

Por Folhapress

"Fui casada por 20 anos. Meu ex-marido era muito machista. Sofri um relacionamento abusivo. Depois de tanto tempo abrindo mão dos meus sonhos, vivendo um relacionamento cheio de ciúmes e muito controle, eu decidi me separar. Foi um desafio de vida, porque eu já tinha 42 anos", diz Adriana Tabuti, 52, enquanto prepara a pele e se maquia diante da câmera em uma postagem no TikTok, rede na qual tem mais de 530 mil seguidores.

O vídeo continua com um resumo de sua trajetória: apesar das dificuldades, ela se separou e fez cursos de beleza, tema sobre o qual sempre gostou de falar. "Segui firme no meu propósito, que é ajudar todas as mulheres maduras a se reencontrarem, a se redescobrirem, para que cada uma encontre a sua força interior, porque idade é só um número", completa já no final do vídeo, depois de passar base, corretivo, sombra e delineador.

Nos mais de 5 mil comentários, mulheres falam sobre relacionamento abusivo, recomeço depois dos 40, beleza e autoestima. Drica Divina, como é conhecida nas redes, é um exemplo das influenciadoras que, na contramão do mercado dominado por mulheres mais jovens, fazem conteúdo voltado às maduras.

Além da estética, elas falam de autoestima, autocuidado e valorização do feminino. No caso de Drica, há vídeos sobre temas como menopausa e importância do autocuidado. "A maioria das mulheres me agradece porque eu entendi o que é o envelhecimento da nossa pele e como usar isso a nosso favor, falando qual é o melhor produto e como podemos nos vestir, mas sem imposição", afirma. Para ela, é importante que as seguidoras entendam que a pele madura tem demandas diferentes. Compreender as especificidades da idade ajuda na autoestima e no respeito próprio, diz ela.

Com conteúdo também voltado a este grupo de mulheres, Ceres Azevedo, 63, fala sobre a importância de se exercitar e comer bem, além de dar indicações sobre moda e cuidados com os cabelos grisalhos. "As mulheres 50+ precisam de inspiração, de pessoas que mostrem para elas que é possível seguirmos belas, com energia e vontade, seja em que idade for", afirma a influenciadora.

Para Azevedo, as cobranças de uma sociedade machista e as transformações nessa fase da vida, como mudanças hormonais ou na rotina com os filhos, fazem com que muitas sofram com uma queda na autoestima. No caso dela, a crise veio aos 56, quando precisou se reinventar e mudar de profissão em decorrência de uma doença autoimune. "Tive que parar e me questionar: sou uma mulher de quase 60 anos. O que vou fazer da minha vida?".

Hoje, ela gosta de dar dicas criativas de moda, a exemplo de como transformar lenços em blusa ou deixar a lingerie à mostra por baixo do casaco. Recebe elogios de seguidoras que dizem se inspirar e críticas de mulheres que a consideram ousada demais para a idade. No trabalho como modelo, também percebe o etarismo. Em três seleções para campanhas publicitárias das quais participou, as modelos escolhidas tinham "no máximo 40", ainda que os produtos vendidos fossem voltados a mulheres maduras.

Thays Bernardes, 50, também decidiu apostar neste público. Ela diz que sempre se interessou por autocuidado e estética e, por isso, era referência no tema entre as amigas. Após reencontrá-las nas redes sociais, decidiu começar com a produção de conteúdo em 2015. Em 2022, após receber o diagnóstico de câncer de pele, também começou a compartilhar o tratamento.

Hoje, possui conta no YouTube, blog, TikTok e Instagram, plataforma na qual tem mais de 77 mil seguidores. "A minha geração foi criada com uma série de estereótipos e regras. Não pode, acima de tantos anos, ter cabelo comprido, usar maquiagem. Hoje vemos uma libertação disso. Mulheres 50+ estão conseguindo, talvez pela primeira vez na vida, ver nas redes sociais pessoas que passam pelas mesmas coisas que elas", afirma.

Para a psicóloga Margherita Mizan, mestre em gereontologia pela PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), é importante refletir sobre o conceito de beleza imposto pela sociedade e ver com naturalidade as mudanças típicas dessa fase da vida. Ela indica o autocuidado para se manter saudável e com boa autoestima, além de respeito pelo próprio jeito de ser, independentemente das imposições sociais.

"O mundo é feito de várias formas, cores, maneiras, e a gente faz parte dele. É importante que as mulheres possam se aceitar como são e tenham consciência de seus limites", diz. "Importante na vida é estar de bem com você."

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