Texto de Carlos Graieb:
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“Os alunos da Universidade de São Paulo (USP), que estão em greve desde a semana passada, dão apoio nesta terça-feira (3) à paralisação iniciada por funcionários do Metrô, da CPTM e da Sabesp. A demanda central dos estudantes é a contratação de professores. Os trabalhadores das estatais protestam contra a possibilidade de que as empresas sejam privatizadas. O que os dois movimentos poderiam ter em comum?
A resposta é a de sempre: ideologia e interesses eleitorais. As greves são parte do esforço para eleger Guilherme Boulos.
Isso está escancarado no caso da ‘greve preventiva’ contra a privatização das estatais paulistas, cujos planos nem sequer foram apresentados em detalhe até o momento. A rejeição à ideia, portanto, se dá por princípio: privatizar é sempre ruim, entrega o patrimônio público aos inimigos do povo e blá-blá-blá.
Privatizações, já escrevi por aqui, não são intrinsecamente nem ruins nem boas. Tudo depende da sua modelagem e do rigor da fiscalização do governo, que precisa garantir o cumprimento do contrato que transferiu à iniciativa privada o direito de cobrar pela prestação de um serviço público. O Estado de São Paulo, em particular, aprendeu a fazer privatizações nos últimos 20 anos, o que se vê nas autoestradas e nas linhas de metrô concessionadas que prestam ótimos serviços aos usuários. A própria Sabesp se tornou a mais sólida empresa de saneamento do país graças à abertura de seu capital a investidores privados nas bolsas de São Paulo e de Nova York.
A motivação política dos ativistas da USP tem sido pouco ressaltada. A sua principal reivindicação está diretamente ligada à vida da universidade: eles querem a contratação de professores, uma vez que mais de 800 cargos discentes ficaram vagos nos últimos anos, pondo em risco até mesmo a existência de certos cursos. A reitoria já concordou com a demanda e se comprometeu a fazer as contratações, lembrando, no entanto, que no serviço público é preciso seguir procedimentos que sempre levam algum tempo.
A demora foi pretexto para que os ativistas que lideram a paralisação a mantivessem, exigindo mais ‘agilidade’. Poderia ser apenas intransigência e desprezo pelos ritos da administração pública que eles tanto dizem ser sagrada, mas não é só isso. Basta ler o artigo que os diretores do Centro Acadêmico XI de Agosto, da Faculdade de Direito da USP, publicaram no site Consultor Jurídico.
‘Os rivais da greve não querem os estudantes em movimento, mas sim parados à espera da eterna promessa de melhorias ou das migalhas da iniciativa privada que, a partir de ações de caridade, é apontada como o Santo Graal de todos os problemas da USP’, escrevem os dois estudantes. ‘E, a partir da infiltração de recursos privados, busca-se conquistar a cabeça e corações de cada estudante negro e pobre que conquistou o acesso à universidade. Exclui-se o pensamento crítico em substituição à internalização dos interesses do mercado.’
Acho que nem preciso me alongar nos comentários, certo? Até a ‘colonização do imaginário’ dos estudantes negros e pobres pelo capital entrou no jogo. Felizmente os ativistas do Centro XI de Agosto estão alertas para promover uma colonização alternativa – virtuosa, é claro.
O pano de fundo de todas as paralisações é a eleição municipal de 2024. Os sindicatos das empresas estatais têm fortes vínculos com o Psol, que terá em Guilherme Boulos o seu candidato à prefeitura da capital paulista no ano que vem. Tarcísio de Freitas, governador do Estado, tem sido um dos fiadores da pretensão do prefeito Ricardo Nunes à reeleição e devem ser constantes daqui em diante os movimentos da esquerda para demonizar e desgastar os dois.
Os ativistas da USP tampouco estão alheios a essa política eleitoral – não são gente com a cabeça nas nuvens, pensando só em teorias complicadas. Recorro mais uma vez ao artigo dos representantes do XI de Agosto. Retrucando a um ex-reitor da faculdade de Direito que os teria acusado de vandalismo, eles o põe no campo do bolsonarismo e dizem que ‘são mais semelhantes aos extremistas de direita os apologistas do neoliberalismo econômico e jurídico que apoiaram a conjuntura econômica que levou à ascensão do fascismo no Brasil e a sua vitória eleitoral’. O ex-reitor é Floriano de Azevedo Marques, que votou pela condenação de Bolsonaro no julgamento que o tornou inelegível no TSE. Um bolsonarista imaginário, portanto.
As greves desta semana devem ser apenas o prenúncio de uma temporada de paralisações que se estenderá até as eleições do ano que vem, sob pretextos variados – como a contratação de professores – mas com o objetivo final de eleger Guilherme Boulos. Os moradores de São Paulo que se preparem para viver tormentos.”
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