O diretor de um hospital da rede estadual na Bahia foi exonerado do cargo após a repercussão do caso em que funcionários da unidade entregaram o rim de um paciente em um saco plástico para que a família o levasse a um laboratório para fazer biópsia no órgão.
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O desligamento de Ramon Nelson Bezerra de Lima Souza do Hospital Menandro de Farias foi publicado no Diário Oficial do Estado nesta quarta-feira (27). Assume o cargo Vicente Miranda Borges, que também vai acumular a função de diretor-geral da unidade.
Por meio de nota, a Sesab (Secretaria da Saúde da Bahia) não confirma se a exoneração do antigo gestor está relacionada ao episódio. A pasta apenas disse que "a mudança no Hospital Menandro de Farias foi uma decisão a fim de aperfeiçoar a assistência na unidade".
O entregador por aplicativo Jeferson Oliveira Bispo, 21, teve o rim comprometido por causa de um ferimento a bala depois de ser abordado por homens armados enquanto passava pelo bairro Itinga, em Lauro de Freitas, na Grande Salvador, na sexta-feira (22).
Depois do ataque, o entregador foi levado a uma UPA (Unidade de Pronto-Atendimento), mas, devido à gravidade do ferimento, precisou ser transferido para o hospital, na mesma cidade.
De acordo com o pai da vítima, o pedreiro Luciano Bispo, 45, no sábado (23) a namorada de Jeferson foi visitá-lo na unidade, quando funcionários do hospital informaram que ela precisaria pegar "uma peça do namorado" após a cirurgia de urgência.
"Foram dois sustos. O primeiro, a tentativa de homicídio. Depois, uma falta de respeito com a família", indignou-se o pai do paciente, a quem a nora entregou o órgão recebido do hospital, porque a unidade teria informado não dispor de laboratório de anatomia patológica.
Segundo a Sesab, as unidades do estado "possuem sim o serviço de anatomia patológica, atreladas aos serviços de laboratório". "As que não possuem serviço próprio, que é a grande maioria, possuem o serviço terceirizado", informa a nota.
O comunicado da pasta diz, ainda, que "a terceirização do serviço de laboratório é algo que tem acontecido no Brasil inteiro, em virtude da economicidade e ganho de qualidade no serviço". "É benéfico para o Estado e para o paciente."
CHEIRO FORTE - Mergulhado em um "líquido de cheiro muito forte", segundo a família, o rim de Jeferson passou o fim de semana na casa dos pais da vítima, sobre uma mesa. "Não sabíamos nem como proceder. O cheiro do produto era tão forte que nem conseguimos dormir", disse o pai.
Trata-se do "material conservante (folmoaldeído) que é uma substância que impede a proliferação de microrganismos e, portanto, o apodrecimento" da peça anatômica, afirmou a pasta no mesmo comunicado. Num primeiro momento, a secretaria disse que a unidade teria instruído a família sobre a que lugar levar o rim para fazer a biópsia pelo SUS (Sistema Único de Saúde). Já na terça (26), a pasta admitiu que houve "uma falha no fluxo do atendimento, que já foi corrigida".
Sem saber como proceder, o pai diz que consultou diversas pessoas, até que sugeriram registrar o ocorrido na delegacia de Portão, na mesma cidade, no sábado. "Lá, não levaram a sério, disseram que era normal, que era perda de tempo e para irmos para casa", disse.
Depois da saga da família por atendimento nas repartições públicas durante o fim de semana, o órgão de Jeferson foi devolvido ao hospital na segunda (25). A Sesab disse que o estado providenciaria a biópsia no rim do paciente.
Por nota, a Polícia Civil da Bahia afirmou que não coaduna com as atitudes relatadas e que disponibiliza canais para que sejam formalizadas denúncias de mau atendimento. O texto diz ainda que a polícia investiga a conduta dos profissionais da unidade de saúde.
Segundo o pai de Jeferson, o filho passa bem, está com um quadro de saúde estável, sem risco de morte.
"Pelo menos, o hospital reconheceu o erro, mas, mesmo assim, vamos acionar a unidade na Justiça para que isso não volte a ocorrer", afirmou.
De acordo com informações da Polícia Militar da Bahia, no mesmo dia em que Jeferson foi baleado um adolescente foi preso como um dos suspeitos de envolvimento na tentativa de homicídio contra o entregador.