Grupo de 'escravizados' resgatado do ES se emociona ao chegar a Alagoas: 'Espero que ninguém passe por isso'

Publicado em 17/05/2024, às 07h33
Reprodução/Video
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Por João Victor Souza

Enfim, em casa. O grupo dos trabalhadores alagoanos que passou duas semanas em situação precária numa fazenda de café no Espírito Santo, em condições análogas à escravidão, está de volta ao estado de origem. Eles chegaram na cidade de Penedo na madrugada desta sexta-feira (17) após viagem de van e já estão com familiares.

Os 12 trabalhadores foram resgatados dias após um vídeo gravado pelo grupo para denunciar as condições precárias na fazenda na cidade de Brejetuba. Por conta disso, houve mobilização da Polícia e do Ministério Público do Trabalho em busca do retorno das vítimas.

"Nós viemos pelo trabalho escravo que estávamos sofrendo lá. Passamos cinco dias dormindo no chão, sem saneamento básico, sem tratamento de água, enfrentando mordida de mosquito, e sob cárcere privado", disse Stephano Júlio, uma das vítimas.

A cozinheira Wagna Silva que foi uma das primeiras a denunciar a situação se emocionou ao pisar no território alagoano. Ela deu detalhes dos dias de sofrimento e do acordo que não foi cumprido pelo contratante, que os deixou com dificuldades.

"Espero que ninguém nessa vida tenha que passar pelo que a gente passou. Porque é deprimente você estar num lugar que não quer mais ficar. E você não poder ir embora, não ter o direito de ir e vir. Eu me segurei bastante, porque os meninos choravam e eu tive que consolá-los, porque sou mãe, né? Me coloquei no lugar da mãe deles", afirmou a trabalhadora.

"A gente não passou fome, mas tudo que era comprado tinha que ser colocado em cima da conta que tínhamos. No começo, o carro era 6 mil reais, e depois foi para 8 mil reais. E tudo que foi comprado, EPI, comida, tudo, tinha que ser em cima da conta. Até o transporte tínhamos que pagar", complementou.

Os trabalhadores deixaram o Espírito Santo na noite de quarta-feira (15). A viagem foi monitorada pelo Ministério Público do Trabalho em Alagoas (MPT/AL), e a Polícia Federal e o MPT do Espírito Santo também foram acionados.

O que acontece agora?

O superintendente regional do trabalho do Ministério do Trabalho em Alagoas, Cícero Filho, informou à reportagem do TNH1 que os penedenses vão ter direitos trabalhistas pelo período no Espírito Santo. Ele também informou que o empregador já foi contatado e vai arcar com punições, além de responder a processo judicial

"Eles terão direito as verbas trabalhistas, regularização do vínculo, e receberão as verbas rescisórias e três meses de parcela do seguro-desemprego, conforme determina a legislação. Já o empregador, o fazendeiro, terá que arcar com todo este custo, já foi autuado e pagará uma multa. Ele também vai responder processo criminal penal", disse.

Já o advogado Brunno Galvão, do Centro de Referência de Assistência Social (CREAS) em Penedo, destacou que a prefeitura vai dar assistência para os trabalhadores e para as famílias deles. 

"O acompanhamento dos trabalhos e das famílias acontecerá através da equipe multidisciplinar do CREAS, composta por assistentes sociais, jurídico, psicólogos e etc. Além disso, iremos introduzi-los nos cursos do programa Minha Chance, um programa de capacitação da Prefeitura de Penedo. E em parceria com o Senai, inclusive teremos inscrições na semana de 20 de maio, e eles terão prioridades nas inscrições desses cursos. Nós vamos colocar o pessoal do programa para auxiliar na elaboração dos currículos, para podermos deixá-los nos bancos de dados da Secretaria de Indústria e Comércio de Penedo, para que eles possam participar das seleções que vêm ocorrendo no município", explicou. 

Mais sete trabalhadores estão a caminho de Alagoas

Um outro grupo de alagoanos que ficaram na mesma situação das 12 pessoas na fazenda em Brejetuba já está em viagem para voltar para o estado. A informação foi passada por Cícero Filho, na manhã desta sexta (17).

A Polícia Federal de Alagoas fez o resgate dos sete trabalhadores na última quarta-feira. Eles também são de Penedo e estavam sendo mantidos em condições análogas à escravidão, na cidade de Governador Lindenberg, também no Espírito Santo. 

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