O governo tentará votar a reforma da Previdência na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) nesta quarta-feira (17), antes do feriado da Páscoa. Para isso, terá de superar a obstrução da oposição e enfrentar a possibilidade de desidratação do texto já na primeira etapa de sua análise.
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Lideranças do centrão defendem que sejam retirados do texto já na comissão pontos polêmicos, como a desconstitucionalização e a capitalização. O governo, pelo menos até a noite desta terça-feira (16), não cedia em relação a esta última.
Assim, não se chegou a um consenso sobre o texto –e líderes dizem que tudo pode acontecer na sessão desta quarta, que começará às 10h.
Em acordo, a CCJ encerrou o debate na terça às 23h28 e a sessão foi encerrada. É uma meia vitória (ou meia derrota) para ambos os lados.
Se o governo ganha ao colocar rédeas na base de novatos, fazendo-os deixar de usar o tempo de fala para acelerar o debate e encerrando a discussão ainda nesta terça, a oposição ganha com o final da sessão antes da meia-noite. É que caso a reunião se prolongasse mais trinta e dois minutos, os parlamentares perderiam a possibilidade de utilizar diversos recursos regimentais de obstrução.
Com isso, os deputados contrários à reforma devem usar todo o kit para atrasar a deliberação e testar a paciência da base em uma véspera de feriado -um dia em que normalmente todos já estão voltando para suas bases no meio da tarde.
A previsão é de que haja ao menos quatro horas de obstrução. Cabe ao governo, dizem deputados, segurar seus parlamentares para a votação. O centrão diz que dará quorum, mas não se comprometerá com a votação do relatório de Freitas.
Líderes de bancadas poderosas, como Arthur Lira (PP-AL), já defenderam mudanças no texto. O deputado diz ainda que o relator Marcelo Freitas (PSL-MG) sinalizou que poderia fazer mudanças em seu parecer (que hoje é pela admissibilidade total) caso sinta que ele pode ser derrotado.
É o que uma ala do centrão defende: derrotar o parecer do PSL, impondo outra derrota ao governo. Depois, votariam um novo texto já sem os pontos acordados.
A sessão de terça-feira teve uma reviravolta na estratégia do governo: ao contrário de semanas anteriores, a base descobriu a máxima "governo é placar, oposição é plateia".
O conceito é simples: a oposição usa todo o tempo a que tem direito de discurso, para tentar atrasar ao máximo as votações.
O governo, por outro lado, abre mão de jogar para a plateia -falar na tribuna, pedir para ter o tempo reposto– para que as deliberações sejam mais céleres.
Depois da derrota de segunda-feira (15), com a deliberação arrastada da PEC do Orçamento impositivo, os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e da CCJ, Felipe Francischini (PSL-PR), entraram em campo.
O primeiro chamou os líderes para sua residência oficial, para fazer um apelo pela votação nesta semana. O segundo fez corpo a corpo com deputados para que eles abrissem mão do tempo de fala.
A articulação contou ainda com a ajuda da líder do governo no Congresso, Joice Hasselmann (PSL-SP), que se encontrou com o ministro da Casa Civil, Onyx Lorenzoni, no Planalto por volta das 12h.
A costura funcionou, e o governo conseguiu encerrar os debates depois de mais de treze horas, com 55 discursos contrários e 19 favoráveis, além de 14 líderes partidários. A votação antes da Páscoa, porém, segue incerta e o cronograma pode ser adiado mais uma vez.
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