Os cinéfilos de Belo Horizonte terão duas boas novidades em abril: o último filme de Humberto Mauro, que estava perdido e foi recuperado no ano passado, e a inauguração do primeiro cinema público da cidade. O espaço será aberto no dia 19 de abril e a obra de Mauro será exibida na estreia ou na primeira semana de funcionamento.
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A noiva da cidade era um roteiro antigo de Humberto Mauro, considerado um dos pioneiros do cinema nacional. Como o projeto nunca havia saído do papel, seu amigo Alex Viany, cineasta e jornalista, decidiu dirigir o filme. Fora do set desde 1974, Mauro viu seu velho projeto virar realidade em 1978, quando já estava com 81 anos. O diretor faleceu cinco anos depois.
Por algum motivo ainda sem explicação, o filme chegou a apenas seis salas de cinema, nas cidades de Belo Horizonte, Rio de Janeiro, São Paulo e Além Paraíba (MG). “Não temos informação de por que isso ocorreu e nem uma estimativa do público que foi atingido.
As razões do desaparecimento ainda são uma caixa-preta. Mesmo naquela época, com todas as dificuldades do cinema nacional, o percurso natural da produção seria ser exibida em festivais e chegar às salas de cinema", explica o historiador André Martins, responsável pela descoberta e pela recuperação da obra.
O filme foi rodado em Volta Grande (MG) e tem Elke Maravilha no papel principal, interpretando uma famosa atriz que decide voltar à cidade natal em busca de refúgio, mas a aventura se mostra impossível pois todos se apaixonam por ela.
Chico Buarque estava escalado para atuar no filme, mas desistiu da ideia às vésperas da filmagem e foi substituído por Jorge Gomes. O cantor acabou sendo responsável pela trilha sonora original, junto com Francis Hime. Em um vídeo publicado nas redes sociais, Chico explica como foi composta a música que leva o mesmo nome do filme.
Recuperação
Martins conta que, em contato com moradores de Volta Grande (MG), ouviu queixas sobre um filme de Humberto Mauro gravado na cidade que nunca havia sido exibido para eles. Foi daí que o historiador começou a busca e, em 2012, encontrou uma versão em betacam (formato de filme) em meio ao acervo da Cinemateca do Museu de Arte Moderna (MAM) do Rio de Janeiro.
No ano passado, Martins conseguiu recursos para masterizar, tratar o áudio e digitalizar a obra por meio do edital Filme Minas, da Secretaria de Cultura de Minas Gerais. Quando os trabalhos já estavam na fase final, ele encontrou também os negativos originais do filme, depositados no Centro Técnico Audiovisual (CTAv) do Ministério da Cultura.
"Infelizmente, já não havia mais recursos. Mas eu sempre dizia que nós deveríamos continuar buscando alguma cópia com qualidade melhor do que a versão em betacam. Eu sentia muita falta de um verde e um azul mais bonitos. Ainda pretendo apresentar um projeto para tratar esse negativo original e lançar o filme em alta definição. Por enquanto, só teremos em DVD", explica o historiador.
Duas mil cópias do filme foram produzidas, das quais cerca de seiscentas já foram entregues a instituições de ensino, cineclubes e pontos de cultura. Além da obra original, o DVD traz uma novidade: um pequeno vídeo feito por André Martins com depoimentos da Elke Maravilha, de outros atores e de moradores de Volta Grande que participaram das gravações como figurantes. Há duas semanas, o filme foi exibido pela primeira vez na TV, pela Rede Minas, emissora pública de Minas Gerais.
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