O comentário é da jornalista Catarina Rochamonte:
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“Nesse mundo atravessado por espantosas ondas de violência e opressão, muitos acabam ficando anestesiados, perdendo, por conseguinte, aquela indignação espontânea e genuína diante da observação de eventos moralmente condenáveis. É preciso, porém, cuidado, para que não percamos a nossa capacidade de perceber o mal, julgá-lo como tal e condená-lo inequivocamente.
A ideologia é algo que, por vezes, oblitera a capacidade de julgar. Bem instalados dentro de determinados quadros teóricos que possuem um referencial ético próprio, pessoas ideologizadas são capazes de justificar situações concretas aberrantes em nome do bem abstrato que dizem defender.
Quem perde a capacidade de julgar, fanatiza-se. Existe fanatismo na política e existe fanatismo na religião. E existe uma religião cujo fanatismo se impõe por meio de força política porque nela política e religião são indissociáveis. Essa religião tribal e primitiva é o islamismo.
Todos sabemos que as mulheres são, de modo geral, oprimidas em todo o mundo islâmico. Um ou outro país islâmico no qual as mulheres não sejam tratadas como animais pode ser tomado como exceção que confirma a regra.
A coisificação da mulher está tão intrinsecamente ligada ao islamismo que muitos muçulmanos, ao serem acolhidos pelos países ocidentais, não transigem de forma alguma em relação a costumes tais como mutilação genital feminina, casamento infantil, casamento forçado e obrigação das meninas pré-púberes de usarem um hijab.
Essas são práticas subculturais do sul da Ásia e do oriente médio que não são exclusivas dos muçulmanos, mas que, entre os muçulmanos, são justificadas como práticas religiosas. No inevitável conflito entre tais práticas religiosas muçulmanas e o estado de direito do país ocidental que acolheu os muçulmanos o que você acha que deveria prevalecer?
Como a disseminação de um tosco multiculturalismo nos fez acreditar que nossa civilização não tem nada de superior às outras e que nossos valores não são universais porque valores universais não existem, claro que vai prevalecer o direito do macho muçulmano de extirpar o clitóris de uma menina e de casá-la com um sexagenário, afinal, quem somos nós, ocidentais cristãos brancos imperialistas para querer impor nossos valores aos outros?
O que as feministas dizem sobre isso? Aí é que está. Elas dizem pouca coisa. O abstrato patriarcado ocidental ocupa tanto a sua imaginação e gera tantas especulações que sobra pouco tempo para analisar e condenar o patriarcado real que oprime as mulheres do mundo islâmico. Perdidas nas divagações de que o patriarcado e o machismo estão difusos em todas as sociedades, tornam-se incapazes de observar e condenar a sua manifestação atual mais concreta.
A feminista progressista tem outras preocupações e, por isso, costuma ignorar a misoginia islâmica. Sua ocupação principal é defender o direito total e absoluto ao aborto em qualquer período da gestação; ela também costuma especular sobre uma “cultura do estupro” disseminada entre todos os homens brancos héteros ocidentais que são invariavelmente machistas e estupradores em potencial; por fim, algumas acharam por bem defender o direito não apenas da mulher, mas de quem “se identifica” como mulher.
Foi noticiado recentemente que o regime do Talibã, no Afeganistão, recrudesceu as leis com as quais escraviza as mulheres. As novas regras, determinadas pelo “Ministério para a propagação da virtude e prevenção do vício” proíbem agora as mulheres de falar ou cantar fora de casa e de irem para a escola depois de completarem 12 anos de idade. São 35 novas regras de opressão que se somam a outras mais antigas, como a obrigatoriedade do uso da burca.
Segundo o artigo ‘Onde está a solidariedade com as mulheres do Afeganistão?’, publicado na revista Spiked, a Anistia Internacional comentou a situação e apelou ao Talibã para acabar com sua ‘perseguição baseada em gênero’, mas caracterizou, em postagem no X, essa perseguição como sendo contra aquelas que ‘se identificam como meninas.’
Segundo Candice Holdswoth, autora do artigo, a descrição “profundamente estúpida” foi reescrita para se referir apenas a mulheres e meninas: ‘claramente, alguém na Anistia percebeu que essa linguagem absurda e woke não pode ser usada para descrever a situação das mulheres no Afeganistão, que nunca poderiam ´se identificar´ dentro ou fora do fato de serem mulheres’.
Holdswoth também deplora o acovardamento cúmplice da ONU que tem trabalhado para integrar o Afeganistão à comunidade internacional sob a justificativa de que a aproximação com os países civilizados poderia ter sobre os talibãs alguma influência moderadora:
“No início deste ano, a ONU publicou um roteiro no qual o secretário-geral António Guterres sugere que os direitos das mulheres melhorarão com o tempo, à medida que a ONU constrói uma relação de trabalho com o Talibã. Na realidade, a situação só piorou progressivamente”, denuncia a escritora.
As mulheres afegãs, sob o Talibã, estão vivendo um pesadelo distópico, estão sendo vítimas de abusos terríveis que nem todas conseguem suportar. Muitas mulheres “estão sendo levadas à depressão e ao suicídio por desespero total”, alerta o referido artigo. Diante desse quadro, porém, o secretário-geral da ONU, António Guterres, limitou-se a dizer que viu as novas regras do Talibã com preocupação. Essa pusilanimidade levou Holdswoth a concluir seu artigo em tom de desabafo:
“O Talibã tem uma longa história de brutalizar mulheres e não há nenhuma indicação de que esses extremistas islâmicos tenham reformado suas visões. […] O Afeganistão é agora um inferno de miséria e sofrimento para as mulheres. É chocante que alguém tenha se convencido de que poderia ter sido diferente sob o Talibã, com base no que todos sabemos sobre a ameaça que o extremismo islâmico representa para mulheres e meninas.”
No começo desse artigo dizíamos que existe fanatismo na política e existe fanatismo na religião. Como a ideologia não pode conviver com a espiritualidade verdadeira, ela, por vezes, se une ao fanatismo religioso, que é uma deturpação da espiritualidade vivida, sentida e real. Isso explica, em parte, a aliança nefasta entre a esquerda e o Islã, que já mencionei em artigos anteriors.
No Brasil, parte significativa da esquerda tem um histórico de simpatia pelo Talibã. Em 2021, quando forças de intervenção dos EUA saíram do Afeganistão, o site brasileiro “Diário da Causa Operária” – ligado ao Partido da Causa Operária (PCO), de autodeclarada orientação marxista-leninista-trotskista – publicou uma reportagem celebrando a vitória do Talibã com registros os mais entusiasmados.
Rui Costa Pimenta, presidente do PCO, declarou na ocasião: “a vitória do talibã está inspirando os povos do oriente médio a irem pelo caminho de uma ampla revolução armada, a revolução popular para derrubar os governos corruptos financiados pelo EUA”. Em seguida, ele reclamou de correntes de esquerda que não eram suficientemente alinhadas com o fundamentalismo islâmico.
Se Rui Pimenta escarneceu a parte da esquerda não fanática chamando-a “esquerda pequeno burguesa”, não será demais chamar a parte da esquerda à qual ele pertence de esquerda talibã.
Infelizmente a esquerda talibã brasileira vai além de Rui Pimenta e do PCO: ela também influencia o governo Lula e está representada na direção do PT.
A esquerda talibã é aquela que na guerra entre Israel e o Hamas, justifica as atrocidades do Hamas e condena Israel; que na guerra entre Israel e Irã, prefere alinhar-se ao regime dos aiatolás.
A esquerda talibã brasileira se põe abstrata e retoricamente em defesa da democracia, mas, quando começa a guerra de grupos terroristas sustentados por uma teocracia perversa contra um país minúsculo que é a única pátria dos judeus e única democracia do Oriente médio, essa esquerda coloca vergonhosamente o nosso país ao lado do eixo do mal.”
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