Apesar de seu grande potencial em recursos naturais e culturais, o Brasil não tem conseguido atrair tantos turistas estrangeiros quanto outros países. Além de problemas estruturais, a falta de investimento do governo federal na área prejudica a divulgação do país no exterior.
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A conclusão é de especialistas que debateram o tema na manhã desta quinta-feira (15) na mesa de abertura do Seminário Turismo e a Internacionalização do Brasil, organizado pela Folha de S.Paulo, com apoio da Embratur (Instituto Brasileiro de Turismo) e da CVC.
O seminário aconteceu na Pinacoteca do Estado de São Paulo. A mediação da mesa ficou a cargo da jornalista da Folha de S.Paulo Joana Cunha.
Para o presidente da Embratur, Vinícius Lummertz, é essencial que haja uma compreensão e planejamento estrutural do turismo no país como uma área importante para o crescimento da economia, a exemplo de países vizinhos, como Colômbia, Peru e Argentina, que tiveram um avanço do setor maior do que o do Brasil nos últimos anos.
Segundo ele, o Brasil divulga pouco até mesmo seu envolvimento em áreas em que é líder, como a exportação de suco para a Europa.
Lummertz citou a falta de exploração de recursos naturais como uma oportunidade desperdiçada pelo Brasil. "66% do território nacional é ocupado por parques e reservas, mas eles recebem só 9 milhões de visitantes. Nos Estados Unidos, com uma área muito menor, 330 milhões de turistas vão a esses lugares todos os anos", afirmou.
De acordo com o presidente da Embratur, no ano passado, o crescimento de Portugal foi de 4%, e teria sido de -1% se não houvesse o turismo. "É esse nível de compreensão da importância do setor para a economia que temos de buscar para o turismo do Brasil", disse.
Lummertz também defendeu a possibilidade de transformação da Embratur em um organismo semelhante ao Sebrae, que preste apoio e incentivo às micro e pequenas empresas da área de turismo, em um projeto de lei que deverá ser votado no Congresso em breve.
No debate, o diretor do Turismo de Portugal no Brasil, Bernardo Cardoso, deu o exemplo de como o país europeu usou o turismo para superar a crise econômica recente.
"Para os portugueses, as crises são pontos de reflexão e reestruturação. Passamos a priorizar segmentos como surfe, gastronomia, vinho, música. Nós fomos pelo lado da diferenciação. O vinho português não é melhor que os de outros países, é diferente. A comida não é melhor, mas é diversificada, você pode almoçar todos os dias sem repetir um prato."
REDES SOCIAIS
A professora de pós-graduação em administração da Unigranrio Deborah Moraes Zouain destacou a importância de utilizar mecanismos que promovam a interatividade entre os cidadãos, como as redes sociais, para melhorar a imagem passada pelo país no exterior e também melhorar a comunicação com a população, diminuindo problemas de organização no caso de megaeventos, como a Olimpíada do Rio
"No Rio, as redes sociais explodem com o que tem de negativo, como a violência. Para melhorar isso, é preciso trabalhar a interação entre todos os atores da cadeia de turismo e atuar na revitalização de áreas da cidade. Esse é um gargalo que tem levado a dificuldades do desenvolvimento econômico", disse.
O papel dos órgãos ligados ao turismo é o de interagir e cobrar recursos do governo para a área, segundo a presidente da Braztoa (Associação Brasileira das Operadoras de Turismo), Magda Nassar.
Nassar contou que o sucesso de sites como o Airbnb, além dos impostos reduzidos em relação a agências de viagens tradicionais, vem de um caminho mais moderno e impactante de planejar uma viagem e da venda não apenas de um local para ficar, mas de uma experiência de convivência com o entorno daquela região.
"Mas esse diferencial pode acabar se eles começarem a pagar os mesmos impostos que nós. As operadoras hoje estão se alinhando para fazer aquilo que já fazem há muito tempo -alugar casas, transporte-, mas de forma mais moderna", afirmou.