O Rio Grande do Sul vive uma tragédia por conta de enchentes que atingem principalmente Poro Alegre, a capital, mas também afetam vários municípios do interior.
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E não por falta de aviso nem de providências, pois no ano passado uma tragédia semelhante, de menor intensidade, ocorreu em território gaúcho e chegou a ser instaurado um inquérito para apurar responsabilidades, porém até agora sem resultado prático.
É o que analisa o jornalista Josias de Souza:
“Formou-se em torno do Rio Grande do Sul um cinturão nacional de bons sentimentos. Mas o apagão de dados climáticos e as falhas na prevenção de desastres mostram que ainda falta aos gaúchos um gênero de primeira necessidade: a responsabilização dos culpados. As vítimas do dilúvio clamam pela solidariedade de um bom inquérito.
Tragédias ambientais deixaram de ser desastres naturais no Brasil. São flagelos estatais. No Rio Grande do Sul, enchentes tornaram-se rotineiras. No ano passado, morreram 75 pessoas —16 nas inundações de junho, 54 nas cheias de setembro e cinco nas águas de novembro. Sobreveio o dilúvio atual, com seus mais de 150 cadáveres.
Há oito meses, em setembro do ano passado, o Ministério Público Federal instaurou um inquérito civil para apurar as responsabilidades de órgãos públicos. A investigação restringia-se às regiões da Serra e dos Vales gaúchos. Coisa de 30 municípios.
No momento, com quase 90% das cidades gaúchas parcialmente submersas, diz-se agora que é hora de salvar vidas, não de buscar culpados. Tolice. Uma coisa não prescinde da outra.
Os refugiados do clima vivem uma época de faltas e de excessos. Falta de moradia, de segurança e de estabilidade financeira. Excesso de mortos, de lama e de ansiedade.
O suplício talvez fosse menor no futuro se os avisos funerários de hoje viessem com os nomes dos gestores públicos responsáveis pela hecatombe. Eles são responsáveis pelo que fazem e, sobretudo, pelo que deixam de fazer.
A omissão é um novo nome para negacionismo.”
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