Existe ciência por trás das 5 linguagens do amor? Estudo questiona teoria

Publicado em 13/11/2024, às 09h05
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Por UOL

Se você já pensou em maneiras de melhorar seu relacionamento amoroso, provavelmente já ouviu falar sobre as linguagens do amor. O conceito foi criado pelo pastor batista Gary Chapman e sugere que esse sentimento pode ser expressado e compreendido de cinco formas:

  • palavras de afirmação: elogios, incentivos e declarações;
  • tempo de qualidade: dar atenção completa e exclusiva à pessoa;
  • presentes: uma flor, um chocolate ou algo feito por você;
  • atos de serviço: realizar tarefas juntos e ajudar em coisas práticas;
  • toque físico: andar de mãos dadas, cafuné, abraços, beijos e sexo.

Em seu livro "As 5 Linguagens do Amor", publicado em 1992, o autor afirma que cada pessoa tem uma linguagem de amor primária e que os casais ficam mais satisfeitos quando os parceiros "falam" a língua preferida um do outro.

A obra já vendeu mais de 20 milhões de cópias e foi reimpressa em 50 idiomas. Desde então, a teoria ganhou popularidade, virou assunto nos primeiros encontros e até gerou memes. Recentemente, o tópico se disseminou nas redes sociais entre a geração Z. Vídeos do TikTok com a hashtag #LoveLanguage têm mais de 5 milhões de visualizações.

No entanto, alguns pesquisadores questionam a validade do conceito. Um estudo publicado em janeiro deste ano na revista Current Directions in Psychological Science revisou a literatura científica e concluiu que os pressupostos fundamentais sobre as linguagens do amor permanecem em terreno instável, sem suporte em evidências empíricas.

Receita para relacionamento feliz?

A pesquisa mostrou que os parceiros com linguagens de amor correspondentes não relataram maior satisfação no relacionamento do que aqueles com linguagens diferentes. Especialistas acreditam que essa ideia pode ser uma simplificação excessiva.

"Em vez disso, a chave para um relacionamento saudável pode ser a compreensão mútua, a comunicação aberta e a adaptação às necessidades individuais", avalia Desirée Cassado, psicóloga e professora da The School of Life Brasil.

Para Elídio Almeida, psicólogo pela UFBA (Universidade Federal da Bahia) e especialista em terapia de casal, é um equívoco acreditar que, em um relacionamento, basta seguir a lei do esforço mínimo, em que uma pessoa só precisa saber o que é relevante para a outra, oferecer tal atitude e viverão felizes para sempre.

Assim, de acordo com o psicólogo, bastaria deixar claro para o parceiro o que se espera receber em troca para resolver todos os problemas da relação.

"Agir dessa maneira se aproxima muito mais de uma lógica de prestação de serviços do que a conexão entre pessoas que necessariamente precisarão lidar com a pluralidade de comportamentos e acontecimentos comum em qualquer namoro ou casamento. Ou seja, trata-se de uma lógica completamente limitada e incoerente com aquilo que se almeja em um relacionamento saudável", analisa Almeida.

Outras formas de expressar afeto

O estudo também indicou que expressamos o amor de muito mais formas do que apenas as cinco definidas por Chapman.

"Cada pessoa é única, e suas necessidades emocionais podem se estender além das categorias definidas no livro. Isso pode incluir demonstrações de apoio à realização de metas pessoais, apoio emocional durante momentos difíceis, demonstrações de gratidão e apreço, entre outras", disse Desirée Cassado, psicóloga.

Segundo Almeida, a lógica das cinco linguagens reduz toda a pluralidade, complexidade e subjetividade de um convívio amoroso a atitudes que podem ser contadas nos dedos de uma mão. "Entre tantos equívocos por trás dessa abordagem superficial, está a falta de consideração pela variabilidade ao longo da relação. Desconsidera que em cada momento uma pessoa pode desejar companhia, em outro, tempo de qualidade, e que em cada contexto específico tal ação terá um significado distinto", diz.

Ele também afirma que é fundamental que não fiquemos presos a conceitos prontos, afinal até mesmo termos que parecem abranger a maioria das pessoas podem ter uma compreensão singular ou representar uma experiência única para cada um. Por isso, sua recomendação aos seus pacientes é que procurem conhecer ao máximo seus parceiros e permitam que, ao longo do relacionamento, sejam conhecidos por eles.

"Quando um casal se conhece bem e compreende suas qualidades e defeitos, percebe que conceitos gerais são irrelevantes, pois qualquer ação é orientada pela propriedade do conhecimento conquistado ao longo da relação. As atitudes são personalizadas, aprofundadas e vão além dos rótulos generalistas, o que faz muito mais sentido do que listas elaboradas sem o contexto do casal e vindas de fora da relação", disse Elídio Almeida, psicólogo.

Além disso, Marina Vasconcellos, terapeuta familiar e de casal pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo), destaca a importância do diálogo e de conversar com o parceiro sobre o que gosta e o que é importante para você.

"Muitas vezes, o que um entende que está fazendo para demonstrar seu amor não é entendido pelo outro dessa forma, e ambos correm o risco de ficar eternamente na expectativa de algo que nunca virá, caso não comunique sua necessidade para a outra pessoa. Tanto para saber a melhor forma de dar (aquilo que o outro precisa, não o que você "acha" que ele precisa) quanto saber receber e entender a verdadeira intenção desse ato, é preciso comunicar um ao outro sua necessidade", esclarece a terapeuta.

Teoria também pode trazer riscos

Outra crítica à teoria de Chapman diz respeito a proposta de se "adaptar" para se encaixar na linguagem do amor do parceiro. Tal ideia pode ser prejudicial, pois induz as pessoas a abrirem mão de suas personalidades no intuito de construir e manter um relacionamento. "Ao ceder para agradar o outro, pode-se abrir um grande precedente para manipulação, relacionamentos tóxicos e abusivos, nos quais uma parte precisa cada vez mais atender às necessidades do outro para que a relação aconteça", alerta Almeida.

Vale refletir acerca do real sentido por trás dos termos propostos. "Um relacionamento saudável e sustentável é aquele em que as pessoas são elas mesmas e aprendem a lidar com as características divergentes, tendo em vista que estas sempre existirão. Porém, o saldo do respeito mútuo, da empatia, da compreensão e das afinidades deve ser sempre positivo para que a relação tenha sentido", diz o psicólogo.

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