As quintas-feiras são sempre sagradas para a família da pequena Yanna Raquelly da Silva, de 06 anos, moradora do Conjunto Selma Bandeira, que fica no bairro do Benedito Bentes. A menina e os pais estão incluídos nos programas da Secretaria Municipal de Assistência Social (Semas), oferecidos por meio do Centro de Referência da Assistência Social (Cras) do Selma Bandeira, inaugurado há um mês pela Prefeitura de Maceió.
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Logo nas primeiras horas da manhã, Yanna se arruma, junto com a mãe, para esperar a van do Cras, que a leva, com mais 10 meninas, para a oficina cultural que acontece todos os dias, com temas e atividades variadas, dentro do Centro. “Posso ser suspeito para falar, mas não é difícil saber qual é a oficina que a Yanna mais gosta”, disse, ao abrir a porta da sala de cultura do Cras Selma Bandeira, o facilitador cultural Rafael Machado.
Rafael recebe, todos os dias, meninos e meninas que saem da periferia do município e enfrentam as mais variadas situações de vulnerabilidade social, para, no horário inverso ao que eles estão na escola, fazer das crianças multiplicadoras de lições sociais e despertar nelas os mais variados sentidos vocacionais. E não tem ninguém melhor do que ele para saber como lidar com a situação, já que ele é ex-morador de rua.
“A minha história na Assistência Social começou quando eu morava no Estacionamento do Jaraguá e o Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas) me atendeu pela primeira vez. O que me chamou atenção foi como elas (assistentes sociais) conseguiram me mostrar que eu podia ser alguém na vida e que eu não era mais um caso perdido. Elas me ensinaram que tinha direito aos meus direitos”, contou Rafael, que passou quase 11 anos usando as mais variadas drogas ilícitas durante a época em que esteve em situação de rua.
O facilitador se descreve como um exemplo concreto de como a Assistência pode fazer a diferença na vida de alguém. “Graças aos encaminhamentos do Seas eu voltei para casa dos meus pais, depois de todo esse tempo longe de casa. Consegui encaminhamento para uma comunidade terapêutica, onde fiz o tratamento da dependência química e ainda cheguei a ser atendido no Albergue Municipal (Casa de Passagem Manoel Coelho Neto), quando não tinha o que comer e onde dormir”, relatou.
“O Rafael é a representação de todo o talento dos nossos usuários. É por isso que a gente investe tanto na descoberta de vocações, na assistência total a cada um deles, e trabalha muito na elevação da autoestima de quem passa pelos nossos equipamentos. A gente sabe que todos nós podemos descobrir muito mais. Mas as pessoas precisam entender que, as vezes, esse processo pode ser um pouco longo, porque a vontade do usuário em trabalhar junto conosco pelo bem da própria família, também tem que ser bastante forte”, disse a secretária de Assistência Social de Maceió, Celiany Rocha.
Atualmente, Rafael é facilitador do Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos (SCFV), que é um programa oferecido pelos Cras que conta, no total, com a Yanna e mais 20 crianças e adolescentes, com faixa etária entre 06 e 17 anos, como principais usuários.
“Antes eu só tinha visto balé na televisão, quando assistia um desenho. Quando eu cheguei aqui o professor me perguntou o que eu queria ser quando crescesse e eu respondi que queria ser a mais bela bailarina”, contou Yanna.
“Não tenha dúvidas que o trabalho como facilitador ajudou a colocar a minha vida de cabeça para baixo, mas para melhor. Eu me supero a cada dia por conta dos usuários. É incrível como eu esqueço dos meus problemas quando eu entro nesta sala… mas o que são eles, hoje, diante de tudo que eu já vivi no passado, não é? Eu sou feliz e faço pessoas felizes. Isso é o que importa para mim”, concluiu Rafael.
Qualquer cidadão pode conhecer e se inscrever nos grupos de referência dos Cras e do Serviço de Convivência, oferecidos gratuitamente pela Prefeitura de Maceió. Para mais informações, basta procurar o Cras mais próximo de casa ou ligar para o telefone 3315-6123.
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