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Chegou a hora. Aliviado, o Rio de Janeiro comemora nesta sexta-feira (5) o início das Olimpíadas. A contagem regressiva, que começou em outubro de 2009 quando a cidade foi escolhida sede, encerrou de forma bastante tumultuada na reta final. O vírus Zika, problemas de segurança e lamentáveis incidentes na Vila dos Atletas foram alguns dos contratempos encontrados há poucas semanas dos Jogos. Será então que o Rio tem o que comemorar?
Tocha olímpica
A tempestade começou a se formar faltando 100 dias para a abertura dos Jogos. A cerimônia que marcaria a data, em Atenas, contaria com a presença do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, que na ocasião receberia a tocha olímpica. No entanto, a queda de um trecho da ciclovia Tim Maia, causando a morte de duas pessoas, obrigou o retorno do prefeito à capital carioca mal ele havia pisado na Grécia.
Desde então, o trajeto da chama olímpica pelo Brasil assistiu a uma série de protestos pelas ruas e conviveu com episódios bizarros. O mais marcante deles em Manaus, com a onça pintada Juma, que participou acorrentada da cerimônia com a tocha. Se a imagem do animal encadeado já era o suficiente para gerar mal-estar, o final da história foi ainda pior: no dia seguinte ao evento Juma precisou ser abatida depois de escapar do Zoológico do Centro de Instrução de Guerra na Selva (CIGS).
Em nota, os organizadores da Rio 2016 reconheceram o erro duplo. “Estamos muito tristes com o desfecho que se deu após a passagem da tocha por Manaus. Garantimos que não veremos mais situações assim nos Jogos Rio 2016”, escreveu o Comitê.
Zika vírus
Mas, o Comitê não foi o único responsável pelas falhas que antecederam o início dos Jogos Olímpicos. Questão de saúde pública, o vírus Zika afastou dezenas de atletas do Rio e deixou outros tantos temerosos e engordurados de repelente. A preocupação com o mosquito se estendeu também aos jornalistas credenciados, que receberam repelentes no kit de imprensa. Cientistas norte-americanos, inclusive, chegaram a sugerir o cancelamento do evento e ao menos quatro países manifestaram publicamente preocupação com o mosquito: Austrália, Espanha, Estados Unidos e Inglaterra.
Por isso, na Vila Olímpica, os atletas não se espantaram quando viram pela primeira vez o carro que passa diariamente, por volta das 17h, pulverizando inseticida, o popular “fumacê”. Goleira dos Estados Unidos, Hope Solo não está no local, mas certamente também não estranharia. Ela causou polêmica ao postar imagens nas redes sociais de sua preparação para a viagem ao Brasil com uma espécie de kit anti-zica. “Se alguém na Vila Olímpica esquecer de trazer repelente, podem vir me ver”, escreveu.
Dias depois a goleira procurou se desculpar, porém a gafe já estava constatada. “Só quero estar protegida, mas estou feliz de estar aqui, um país lindo”, disse Solo na chegada ao País. “O povo brasileiro é muito gentil, sempre foram grandes fãs. Estou muito animada para jogar. Eu não quis ofender ninguém, peço desculpas por isso, mas só quis vir preparada”.
Violência no Rio
Violência foi outro tema que ganhou destaque na imprensa internacional. Um relatório do Instituto de Segurança Pública do Rio (ISP), divulgado na sexta-feira (29), mostrou aumentos de até 80% em indicadores de violência no Estado em junho de 2016, em comparação com o mesmo mês de 2015. Somando-se roubos de rua (a pedestres, de celulares e em transportes), chegou-se a uma média de 357,5 assaltos por dia.
Até mesmo dentro do Parque Olímpico, área em tese segura, a violência deu as caras. Na madrugada de domingo (31), o segurança Genival Ferreira Mendes foi preso em flagrante acusado de estuprar uma bombeira civil no Velódromo Olímpico. De acordo com a Polícia Civil, ele foi detido por agentes da Força Nacional de Segurança (FNS) e o caso foi registrado na 16ª Delegacia de Polícia, na Barra da Tijuca, zona oeste da cidade.
Vila dos Atletas
Depois de tantas adversidades, tudo parecia caminhar para os eixos com o desembarque dos atletas na cidade. Entre os envolvidos, a percepção era de que o lado animado da festa começaria e com isso desviaria, ao menos um pouco, o foco dos problemas. Ledo engano. Foi só a delegação da Austrália pisar na Vila Olímpica para o caos se estabelecer de vez. Em um duro comunicado, o Comitê Olímpico Australiano (AOC, na sigla em inglês) reclamou da infraestrutura do local e decidiu abandonar o prédio B23 até que reparos fossem feitos. De acordo com o texto, os problemas incluíam vasos sanitários quebrados, vazamentos em tubulações, fiação expostas, escadas escuras sem iluminação instalada e pisos sujos que necessitavam de limpeza pesada.
“Nós não estamos sozinhos”, disse a Chefe da Missão Australiana, Kitty Chiller, ao deixar o local. “Nossos amigos da Grã-Bretanha, da Nova Zelândia e outras delegações estão experimentando os mesmos problemas em suas acomodações. Sei que toda Vila tem dificuldades com a chegada de milhares de atletas de uma vez. Mas, esta é a minha quinta Olimpíada e eu nunca experimentei uma Vila com esse estado de falta de preparo”.
Quatro dias e uma força tarefa com 630 funcionários depois e a Vila Olímpica estava, enfim, pronta para receber os atletas. Foi quando surgiu a fiscalização do Ministério do Trabalho e Emprego e decidiu autuar o Comitê Rio 2016 por infração a leis trabalhistas no local. Segundo o órgão, os funcionários estavam sem carteira de trabalho assinada, além de terem sido constatada outras irregularidades, como jornada excessiva e embaraço à ação fiscal.
O balde de água fria, literalmente, veio na tarde de sexta (29). E onde foi a confusão? No movimentado edifício B23, claro, já com os australianos acomodados. O prédio passou por um princípio de incêndio. Segundo o Comitê Rio 2016, o fogo foi em uma caixa de papelão no segundo subsolo e a fumaça alarmou os moradores. Bombeiros controlaram a situação, mas o B23 precisou ser evacuado. Para azar e mais decepção dos australianos.
Terrorismo?
Na lista de preocupações do Comitê Organizador ainda há o pavor da ameaça terrorista. Segundo um relatório dos serviços de inteligência, atentados minuciosamente planejados e de grande complexidade logística não são uma ameaça para o Brasil, mas, por outro lado, podem incentivar simpatizantes de grupos extremistas religiosos a atuarem por conta própria, aqueles chamados “lobos solitários”. Mas, por ora o Rio está a salvo deste problema. Ao menos deste problema.
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