Estátua de Ulysses gera controvérsia na Câmara dos Deputados

Publicado em 04/10/2019, às 08h56
Folha de São Paulo
Folha de São Paulo

Por Folhapress

Morto há 27 anos após desaparecer em um acidente aéreo no litoral do Rio de Janeiro, o presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães (MDB), volta aos holofotes do Congresso Nacional.

Com 1,80 m e 110 kg, uma estátua do "pai da Constituição Cidadã", cujo nascimento completa 103 anos no próximo domingo (6), virou o centro de uma controvérsia.

Integrantes do MDB querem instalá-la no Salão Verde, o principal e mais solene da Câmara dos Deputados, porta de entrada do plenário e local de incessante circulação às terças e quartas-feiras. A área técnica é contra.

Logo, caberá ao presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ), arbitrar a disputa. Por causa do imbróglio, a imagem foi apelidada por servidores legislativos de "estátua da discórdia".

Segundo relatos feitos à reportagem, o líder do MDB na Câmara, Baleia Rossi (SP), defende que ela seja exposta no Salão Verde. Maia concorda, mas, oficialmente, a Câmara diz não haver ainda uma decisão formal.

A imagem do "Senhor Diretas" foi feita em bronze pelo artista plástico Clauberto Antônio dos Santos e mostra o político acenando ao horizonte. Ela foi entregue à Câmara nesta terça-feira (1º) pela Fundação Ulysses Guimarães, centro de estudos e pesquisas do MDB.

Em documento datado de setembro do ano passado, ao qual a reportagem teve acesso, o presidente da fundação, o ex-ministro Moreira Franco, disse que solicitou autorização para instalar a homenagem no Salão Verde.

A mulher de Rodrigo Maia é enteada de Moreira Franco.

O pedido, contudo, enfrenta resistência na área técnica, incluindo a diretoria-geral, que produziu parecer contrário à colocação da imagem no espaço.

O documento, baseado em análises patrimonial e de segurança, lembra que a resolução da Câmara número 32, de 1972, protege o edifício contra alterações que afetem a sua concepção arquitetônica ou comprometam a circulação de pessoas.

O argumento é de que a estátua apresenta uma incoerência artística com as demais obras de arte expostas no Salão Verde e que, em razão de suas dimensões, possa representar um risco à segurança, uma vez que o espaço já foi palco de protestos e manifestações.

Hoje, o local exibe, entre outras produções artísticas, o painel "Muro Escultórico", de Athos Bulcão, a escultura de bronze "Anjo", de Alfredo Ceschiatti, além do vitral "Araguaia", de Marianne Peretti.

A área técnica chegou a sugerir que a homenagem fosse instalada no Anexo 2, onde há bustos e estátuas, ou até mesmo na Chapelaria, principal acesso usado por senadores e deputados para entrar no Congresso Nacional.

Na próxima segunda (7), Maia deve participar de sessão solene em celebração aos 103 anos de nascimento do emedebista no plenário da Câmara -cujo nome oficial é, justamente, Plenário Ulysses Guimarães. A expectativa é de que a estátua seja instalada na semana que vem.

Procurada pela reportagem, a Fundação Ulysses Guimarães informou que não cabe a ela escolher o espaço de instalação e negou que tenha tratado do assunto com Maia. Na mesma linha, a liderança do MDB disse que não foi feito nenhum requerimento sobre o tema.

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