Contextualizando

Especialista, sobre a Covid: “As fakes news foram desastrosas na pandemia e ainda estão sendo”

Em 17 de Dezembro de 2023 às 10:30

Os registros de casos de Covid têm aumentado nas últimas semanas, inclusive aqui em Alagoas, até com registro de óbitos.

“Contextualizando” buscou esclarecimentos com a médica infectologista Luciana Pacheco, para melhor esclarecer a situação.

Suas explicações:

Quando a pandemia de Covid parecia sob controle, neste final de ano os casos voltaram a ocorrer. Como explicar?

Observando os gráficos da pandemia, podemos ver que as ondas (aumento de casos de Covid) têm ocorrido com intervalos entre 4 a 6 meses. Como o vírus continua circulando, e o Sars-Cov 2 tem grande potencial de mutação, as épocas de maior mobilidade da população, maior aglomeração, justificam esses aumentos causados por essas novas variantes.

De modo geral, agora os sintomas são mais leves. Isso tem a ver com a vacina?

Sim, pois hospitalizações e casos graves têm ocorrido em pessoas que não se vacinaram ou parcialmente vacinadas, além da proteção gerada em quem já teve Covid.

Há pessoas que tomaram todas as vacinas, tiveram Covid na fase mais aguda e agora voltaram a ser acometidas. O que dizer?

O objetivo maior das vacinas é proteger contra as formas graves, reduzir hospitalizações e mortes pela doença, principalmente em pessoas com as defesas baixas como crianças pequenas, idosos e com doenças que deprimem a imunidade. A situação epidemiológica atual é bem diferente do que aconteceu no início da pandemia, quando as pessoas não tinham tomado as vacinas.

Por outro lado, existem pessoas que nunca se vacinaram e não contraíram Covid até agora. Como explicar?

Algumas pesquisas científicas têm estudado essas pessoas que nunca contraíram a doença ou que têm teste positivo, mas não desenvolvem sintomas e a resposta parece estar ligada a variantes genéticas inerentes à imunidade destes indivíduos que acelera a resposta protetora contra o vírus. Nosso sistema imunológico é uma caixa de surpresas maravilhosas.

Já existe até registro de óbitos, inclusive aqui em Alagoas…

É verdade. Dois óbitos na última semana, infelizmente. A maioria dos casos está acontecendo nos idosos, por isso é muito importante vaciná-los com as doses da vacina bivalente e menos de 8% da população alagoana está vacinada com a bivalente.

Pessoas que não se vacinaram usam as redes sociais para criticar quem se vacinou e até dizem que a vacina causou sequelas em muita gente…

As fakes news foram desastrosas durante a pandemia e ainda estão sendo e causando muitos transtornos na vida das pessoas que não têm acesso às melhores informações. O último governo federal deixou muito a desejar na condução da pandemia, alimentou informações falsas, inclusive. Qualquer vacina pode causar reações mas os dados do Datasus mostram que a vacinação não resultou em aumento de mortes por miocardite entre jovens nem morte súbita ou AVC como tanto falsamente se divulgou. O contrário ocorre com a doença Covid, que aumenta o risco de eventos cardíacos e neurológicos além da Covid longa com muitas sequelas, perda de memória, entre outros.

Qual deve ser a atitude dos governantes na fase atual da Covid?

A boa comunicação é essencial no controle de qualquer surto de doença. Informar sobre o aumento de casos, de variantes novas que podem causar novas ondas, da necessidade de se evitar aglomerações, de uso de medidas de proteção como as máscaras em locais mal ventilados e principalmente estimular a vacinação.  Uma nota técnica divulgada pelo Ministério da Saúde no último dia 5 de dezembro recomenda um segundo reforço da vacina bivalente para maiores de 12 anos com doença imunodepressora e idosos com 60 anos ou mais, que tenham tomado a última dose há mais de 6 meses.

Muita gente até voltou a usar máscara, como proteção. É mesmo preciso isso?

Considerando que os casos têm aumentado e a transmissão do vírus é respiratória, o uso de máscara de boa qualidade em locais fechados, com baixa ventilação é adequado e necessário principalmente para pessoas com doenças que causam imunodepressão e idosos. Eu uso na sala de aula, que é fechada, com ar condicionado e estou diante de alunos jovens que se aglomeram muito e reduzo meu risco.

No final de ano, como agora, as aglomerações são inevitáveis. Como as pessoas devem agir, em termos de prevenção?

A melhor forma de prevenção é a vacina, então, atualizar o cartão com as doses necessárias. Vacinação é um ato de proteção coletiva. Nas comemorações dar preferência a ambientes abertos, bem arejados. Se estiver com sintomas de gripe, se isolar e buscar atendimento médico e realizar o teste a partir do 2º ou 3º dia de sintomas; se exame positivo, retornar à unidade de saúde para receber as orientações. Há disponibilidade de antiviral específico na rede pública e pode ser utilizado nos primeiros cinco dias de sintomas em pacientes com risco de desenvolver forma grave. Usar máscara dentro de casa ou em local com outras pessoas, como em transporte público, arejar o ambiente;

Há registros de casos de Covid no exterior?

Sim, nova onda ocorrendo também na Europa causada por novas variantes da Ômicron, como a BA.2.86.1 e suas sublinhagens – a JN.1 e a JG.3, que também já desembarcaram no Brasil e devem ser as responsáveis por este aumento recente de casos.

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