Como um presságio da noite mais aguardada no mundo do cinema, o Framboesa de Ouro acontece ano após ano tradicionalmente às vésperas do Oscar. Ao indicar os considerados piores filmes já produzidos, o prêmio não tem a mesma credibilidade de seu rival dourado, mas renova o alcance nas redes sociais com piadas e categorias absurdas que se tornaram marca registrada.
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Criado em 1981, a premiação surgiu como em uma conversa de bar. Revoltados com a qualidade decadente de uma série de produções lançadas na época, o publicitário John Wilson e o crítico de cinema Mo Murphy trabalhavam na indústria de marketing em Hollywood, nos Estados Unidos. Eram próximos dos bastidores da indústria cinematográfica e usariam o seu conhecimento para propor uma versão paródica da temporada de premiações.
Os dois cinéfilos estavam especialmente revoltados com o musical "A Música Não Pode Parar", que haviam visto recentemente em uma sessão dupla junto de "Xanadu". Poucos dias depois, uma exibição entre amigos da cerimônia do Oscar deu lugar a uma brincadeira infame, e o musical se tornou o primeiro projeto contemplado pelo Framboesa de pior filme.
Neste ano, representando as produções que amargaram entre as opiniões dos críticos em 2024, os sortudos da vez foram filmes como "Megalópolis", o aguardado sonho do diretor Francis Ford Coppola que demorou décadas para chegar aos cinemas, e a continuação do sucesso de 2019, "Coringa: Delírio a Dois". Os dois geraram ondas de comentários revoltosos nas redes sociais dias depois do lançamento.
Distante da recepção que garantiu ao palhaço da DC Comics uma série de indicações ao Oscar em 2020, a sequência não foi recebida com o mesmo sorriso e divide a categoria principal, ainda, com "Madame Web", "Borderlands" e "Reagan". O último, inclusive, parece reforçar o menosprezo do Framboesa por longas baseados em políticos americanos, tendo agraciado o documentário "Os Estados Unidos de Hilary" com o troféu de pior filme em 2017.
Desde o seu surgimento, a cerimônia que acontecia entre um grupo de conhecidos passou a englobar uma série de jornalistas, críticos e entusiastas do cinema por toda a internet, e o evento que ironiza os jantares luxuosos da Academia de Artes e Ciências Cinematográficas passou a acontecer em teatros de Los Angeles. De pouco em pouco, os "Razzies" caíram no gosto popular.
Embora a premiação mantenha um legado cômico com uma série de categorias fixas caso dos prêmios de pior filme, pior diretor e pior roteiro, pior ator, pior ator coadjuvante, pior atriz e pior atriz coadjuvante existe uma liberdade que permite a existência de troféus especiais.
Ainda que alguns desses títulos apareçam em várias edições, são sempre ajustados para contemplar a maior quantidade de piadas possível, feitas sob medidas para os indicados de cada ano. Neste ano, por exemplo, concorrem à categoria de pior combinação, criada em 1994, o elenco completo de "Megalópolis" e "qualquer dupla de 'atores de comédia' não engraçados no filme "A Batalha do Biscoito Pop-Art".
Em 2019, na mesma competição, outro destaque irônico foi "o rápido declínio da carreira de Johnny Depp em 'Gnomeu e Julieta: O Mistério do Jardim'". Embora o feito do ator polêmico fosse um dos favoritos ao troféu, ele foi superado por um Donald Trump e "sua terrível mesquinharia em 'A Morte de Uma Nação [documentário dramatizado que foi detonado pela crítica] e 'Fahreinheit 11/9'".
Até mesmo nomes que receberam suas estatuetas do Oscar não foram poupados pelo Framboesa na noite anterior. Premiado pelo roteiro de "Cidade Proibida" no dia seguinte, Brian Helgeland também conquistou um Razzie pelo fracassado "O Mensageiro", filme estrelado por Kevin Costner.
No universo das atuações, caso semelhante aconteceu com Sandra Bullock. Pouco antes de empunhar seu troféu de melhor atriz pelo biográfico "Um Sonho Possível", ela participou de forma orgulhosa da cerimônia em que foi condenada por seu papel principal em "Maluca Paixão", tal como a colega Halle Berry, laureada pelo seu "Mulher-Gato" alguns anos antes.
Outros que não se envergonharam perante a honraria foram Dwayne "The Rock" Johnson e Jamie Dornan, e bravamente aceitaram os seus prêmios por "Baywatch" e "Cinquenta Tons de Cinza".
Entre piadas e comentários políticos, o Framboesa de Ouro se renova, ano após ano, pelos comentários de internet e estendem um espaço a brincadeiras em meio ao clima tenso das grandes premiações.
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