Quem diria que uma série tão insossa e ridicularizada quanto "Emily em Paris" começaria uma quase revolução em Hollywood? Pois a produção da Netflix foi responsável por apertar o gatilho das polêmicas que tomaram o Globo de Ouro de assalto no ano passado.
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Entre os vários escândalos envolvendo a premiação que foram publicados numa longa matéria do Los Angeles Times, a que mais chamou a atenção dos leitores foi a de "Emily em Paris", produção que levou vários votantes da premiação à capital francesa, numa viagem luxuosa com tudo pago. Meses depois, lá estava a série, indicada nas principais categorias do Globo –agora que se conhece toda a história, no entanto, sem tanta surpresa quanto causou quando saíram as indicações.
O caso só despertou a memória da indústria e de quem mais acompanha o prêmio, que em várias outras edições viu seus membros no centro de acusações de compra de votos. As polêmicas já foram causadas por relógios de ouro -que tiveram que ser devolvidos-, viagens a Las Vegas e até por um show da Cher.
Outra revelação feita pelo jornal californiano foi causada por um fato já notório, mas que parecia ser convenientemente ignorado por todos. A Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood era então formada por menos de 90 jornalistas internacionais baseados em Los Angeles, um número muito abaixo dos cerca de 10 mil votantes do Oscar, por exemplo -e, consequentemente, mais facilmente manipulável.
No seleto grupinho, não havia um único jornalista negro, o que pegou muito mal numa sociedade abalada pelo Black Lives Matter. "Nós estamos completamente comprometidos a garantir que nossos membros sejam um reflexo das comunidades ao redor do mundo que amam cinema e televisão, e dos artistas que os inspiram. Nós entendemos que precisamos trazer membros negros, assim como de outros perfis sub-representados, e vamos trabalhar imediatamente para implementar um plano de ação", disse a associação na sequência. Pouco depois, ela anunciou uma série de novos membros, incluindo seis jornalistas negros.
O estrago, no entanto, foi ainda maior quando em abril do ano passado um ex-presidente da associação encaminhou um email a seus colegas rotulando o Black Lives Matter como um "movimento racista de ódio". Ele foi expulso, mas não sem deixar marcas. Netflix, Amazon e WarnerMedia anunciaram que boicotariam a premiação até que mudanças significativas fossem implementadas, e estrelas como Ava DuVernay e Scarlett Johansson protestaram nas redes sociais. Tom Cruise chegou a devolver os três Globos de Ouro que venceu no passado à instituição.
Agora, a Associação de Imprensa Estrangeira de Hollywood diz estar comprometida com mudanças em sua cultura. E tenta também vender uma imagem mais boazinha de si mesma –a conferência secreta deste domingo (9), além de anunciar os vencedores dos troféus, também vai "destacar o longo trabalho de filantropia da associação, sublinhando uma série de donatários durante o evento", segundo diz um comunicado.
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