Dados produzidos pela quebra de sigilos bancários revelam que o ex-jogador Emerson Sheik ajudou o chefão do jogo do bicho Bernardo Bello a lavar dinheiro. Denúncia do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público do Rio de Janeiro, já recebida pela Justiça fluminense, afirma que o ex-atleta, que já jogou pelo Corinthians, Flamengo e Fluminense, é acusado de fazer um negócio imobiliário com o bicheiro — permuta de uma cobertura do ex-jogador por uma casa de Bello na Barra da Tijuca — recebendo dinheiro por fora, embora oficialmente o negócio tenha ficado no "zero a zero".
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Emerson Sheik, cujo nome verdadeiro é Márcio Passos de Albuquerque, é um dos nove denunciados por fazer parte de uma organização criminosa encabeçada por Bernardo Bello. O bicheiro é alvo da Operação Banca da Vila, deflagrada nesta sexta-feira com o objetivo de cumprir um mandado de prisão contra Bello e mais nove mandados de busca e apreensão. Eles são acusados de crimes de lavagem de dinheiro — oriundo, sobretudo, do jogo do bicho e da exploração de máquinas caça-níqueis, envolvendo a Escola de Samba Vila Isabel, da qual Bernardo Bello foi presidente.
O Gaeco acusou Sheik de receber clandestinamente R$ 473,5 mil de Bello, em quatro depósitos bancários em espécie, ao permutar imóveis com o bicheiro entre os meses de agosto de 2013 e janeiro de 2014. Os dois foram denunciados por ocultar e dissimular a natureza, a origem e os valores provenientes, direta ou indiretamente, da exploração do jogo do bicho e de máquinas caça-níqueis.
Não é a primeira vez que Sheik se envolve em negócios suspeitos com contraventores. O ex-jogador, em 2010, apareceu no noticiário como comprador de um BMW X6 do bicheiro Haylton Scafura (filho de Piruinha, assassinado em junho de 2017). O carro foi importado de forma ilegal. De acordo com a investigação, na operação batizada de Black Ops, Sheik adquiriu o carro à Euro Imported Cars (de propriedade do bicheiro) e declarou na nota fiscal ter pago apenas US$ 5 mil para um carro que valia em torno de US$ 57 mil.
Ao receber a nova denúncia contra Sheik, pela transação com Bello, o juiz Thales Braga, titular da 1ª Vara Criminal Especializada em Organização Criminosa do Rio, determinou que o ex-jogador compareça em juízo, a cada dois meses, para justificar as atividades. Ele terá ainda de informar os números de telefone, inclusive por aplicativo de mensagem WhatsApp, manter o endereço atualizado para comunicações de atos processuais e não se ausentar por mais de 15 dias da cidade onde reside sem autorização judicial.
A Justiça deferiu também apreensão e bloqueio de bens dos denunciados. Além de Bernardo e Sheik, foram denunciados pelo MPRJ Marina Ritter Forny, Suely de Oliveira Mendes, Marilda Aparecida Lisboa Bastos, o ex-presidente da GRES Vila Isabel Fernando Fernandes dos Santos, Thaysa da Costa Mendes, Rodrigo dos Santos Cunha e Sonia Maria Rossi, mãe de Bernardo Bello.
As investigações começaram em 2020, com o cumprimento de mandados de busca e apreensão expedidos pelo I Tribunal do Júri da Comarca da Capital, em inquérito policial instaurado para apurar crime de homicídio tentado contra Shanna Harrouche Garcia, ex-cunhada de Bello.
De acordo com a denúncia, na época dos fatos, ao chegar à casa de Bernardo Bello, a equipe do MPRJ se deparou com uma residência extremamente luxuosa, absolutamente incompatível com a renda por ele declarada, razão pela qual foi instaurado procedimento investigatório criminal (PIC) objetivando apurar eventuais crimes de lavagem de dinheiro cometidos por ele e demais pessoas posteriormente identificadas.
As investigações constataram, ainda, que a escola de samba Vila Isabel também foi usada no esquema de lavagem do bicheiro. Entre os dias 19 de agosto de 2014 e 24 de março de 2015, recebeu, movimentou e transferiu, através de 13 depósitos bancários em espécie, o total de R$ 1,4 milhão utilizando-se da agremiação.
De acordo com a denúncia, oferecida pelo MP em 10 de janeiro deste ano, a organização criminosa tem a finalidade de “perpetrar o domínio da contravenção do jogo do bicho e a exploração de máquinas caça-níquel no Estado, além de todos os violentos e graves delitos daí decorrentes, como o extermínio de inimigos e opositores e a corrupção de policiais para garantir a perpetuação das infrações. Obviamente, diante da imensurável quantia movimentada pela organização, a lavagem do proveito dos ilícitos é consequência lógica do atuar criminoso”.
Em nota, os advogados de Emerson Sheik dizem que vão se manifestar assim que tiver acesso aos autos do processo. Os defensores do ex-jogador afirmam ainda que " todas as acusações serão esclarecidas em Juízo porque dizem respeito a fatos incontroversamente lícitos, documentados e declarados, não havendo qualquer afinidade com o crime de lavagem de dinheiro denunciado". A defesa, por fim, diz que Emerson tem "irrestrito interesse em contribuir" com as autoridades.
Procurada, a Vila Isabel diz que não vai se pronunciar sobre o tema, "uma vez que nenhuma das pessoas citadas na reportagem faz parte da equipe atual da agremiação. A escola de samba está focada na produção d
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