No próximo dia 16 de fevereiro cerca de 500 profissionais participam de um simulado de evacuação para os moradores do bairro Pinheiro, em Maceió, capital de Alagoas.
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A simulação é uma espécie de “treinamento” para um bairro que abriga cerca de 21 mil moradores. Desde março de 2018, eles vivem em clima de tensão, após um tremor de terra de 3,4 graus na escala Richter, que causou rachaduras em imóveis e fissuras no solo.
No vídeo abaixo, é possível ver o momento do abalo e a situação dos imóveis, que deixaram os moradores assustados.
Desde então, o bairro virou um verdadeiro campo minado, com rachaduras e fissuras que já fizeram cerca de 350 famílias deixarem suas casas. No total, quase 20 mil pessoas que habitam 5.439 imóveis vivem nas áreas identificadas pela Defesa Civil como de baixo, médio, alto risco de incidência de rachaduras e trincas. O Serviço Geológico do Brasil, a CPRM, que dividiu as àreas em baixa, média e alta incidência, alerta que as áreas não são especificamente de risco de tremor ou desabamento de solo.
Diante dos riscos, o bairro de classe média ganhou atenção de órgãos federais, municipais e do estado, e se transformou num território de estudos técnicos e de ações da Defesa Civil – estadual e municipal - ,Exército, além da CPRM. Desde o dia 5 de dezembro, a Prefeitura de Maceió decretou situação de emergência no bairro.
CAUSAS AINDA DESCONHECIDAS
Após o tremor de terra, em março do ano passado, o bairro virou alvo de uma sequencias de análises e estudos, com especialistas dos mais diversos campos de atução tentando identificar as causas do fenômeno. Se o monitoramento e plano de contingência já estão em andamento, a causa do problema, quase um ano após o tremor, ainda é um mistério.
O geólogo Jorge Pimentel, da CPRM, explica que as rochas encontradas nas profundezas estão dificultando as pesquisas na região. “Dos 1638 municípios que já sondamos no Brasil, nunca vimos nada parecido com o que estamos trabalhando no Pinheiro”, disse Pimentel, durante exposição dos dados já catalogados. “Nenhuma cidade apresentou a complexidade encontrada em Maceió”, disse.
O mapa abaixo, elaborado pelo TNH1 e referendado pela CPRM, mostra as áreas de risco e auxilia moradores na identificação de seus imóveis dentro das áreas demarcadas pela CPRM.
AS HIPÓTESES - com base em estudos e suposições, as hipóteses são as mais variadas.
Acomodação do solo: ainda em março de 2018, especialistas ouvidos pela imprensa apontavam que o problema poderia ter origem na acomodação do solo, a 300 metros de profundidade.
Este ano, pesquisadores da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) surgiram com três hipóteses: uma depressão no solo, conhecida como "dolina", a localização do bairro numa área tectonicamente ativa; e mais popular, inclusive entre os moradores, que seria a exploração de Sal-gema na região pela petroquímica Braskem. Esta úttima hipótese motivou a cassação imediata da licença da empresa para extração do sal-gema na região do Pinheiro. A decisão foi comunicada pelo próprio governador Renan Filho (PMDB), no último dia 26.
Em nota, a Brakem descarta qualquer ligação de suas atividades de extração com a situação do bairro. "Nenhum estudo feito até o momento mostrou qualquer relação entre as atividades de mineração de sal e as rachaduras nas edificações do bairro do Pinheiro. A empresa vem apoiando e atuando em conjunto com o Ministério Público Federal e Estadual, Agência Nacional de Mineração, Serviço Geológico do Brasil, Defesa Civil Federal, Estadual e Municipal", informou a Braskem por meio de nota.
MPF QUEBRA SIGILO DE INVESTIGAÇÕES - Diante de tantos informações e dúvidas, o Ministério Público Federal em Alagoas analisou e decidiu retirar o sigilo que havia sido decretado no inquérito civil que apura os impactos ambientais no Pinheiro. O órgão entendeu que não há necessidade para não divulgar as informações apuradas.
CPRM CONCLUI 1ª ETAPA DE ESTUDOS
Os trabalhos de investigação continuam no bairro. Na semana passada, no dia 24, o Serviço Geológico do Brasil (CPRM) finalizou a primeira etapa do levantamento geofísico no bairro Pinheiro, em Maceió. Nesta etapa, segundo o CPRM, os técnicos estavam trabalhando com eletrorresistividade e agora seguirão para o processamento e interpretação dos dados.
De acordo com o geofísico do CPRM, Jairo Andrade, nesta etapa o levantamento realiza medidas da resistividade elétrica, uma das propriedades físicas das rochas. "Com isso, a gente tenta determinar a estratificação do solo, a espessura e continuidade lateral das camadas em superfície e suas respectivas profundidades. O arranjo utilizado permite investigar até 60 metros de profundidade, identificando, se houver, anormalidade", explicou.
Desde o dia 28 de dezembro, o órgão disponibiliza em sua página oficial na internet uma página que concentra todas as informações sobre o trabalho que vem sendo realizado no bairro. A página pode ser consultada neste link, atualizado periodicamente. O site da Defesa Civil de Maceió também disponibiliza todas as informações sobre o bairro neste link.
SISMÓGRAFOS: Atualmente há seis estações sismográficas instaladas no bairro pela Rede Sismográfica Brasileira e pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN). Os equipamentos, segundo a CPRM, fornecerão um conjunto de dados que podem trazer mais informações que ajudarão a chegar à identificação do problema do bairro.
PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA MOBILIZOU FORÇA TAREFA
Os riscos no bairro chamaram a atenção do presidente Jair Bolsonaro. Em reunião extraordinária no dia 11 de janeiro, com parte de sua equipe ministerial, em Brasília, foi determinado a adoção de medidas para agilizar a identificação das causas do tremor e rachaduras, e as necessárias providências.
CHUVAS DE JANEIRO PROVOCAM NOVOS BURACOS E RACHADURAS
Sempre que a chuva cai na capital alagoana a sensaçaõ de insegurança aumenta para os moradores do bairro. As chuvas relativamente fortes que caíram na cidade no começo da semana só evidenciaram ainda mais a fragilidade do solo da região.
Na última segunda-feira, 28, o asfalto cedeu na Rua Augusto Calheiros, fazendo surgir novos buracos, deixando moradores ainda mais apreensivos. Postes de eletricidade e muros também ruíram com a fragilidade do solo.
Com ou sem chuva, a estrutura dos imóveis continua se fragilizando cada vez mais.
No último dia 15, o piso de um apartamento térreo de um edifício, no Conjunto Jardim das Acácias, cedeu, assustanto moradores. Veja no vídeo:
MORADORES COMEÇAM A DEIXAR BAIRRO
A orientação da Defesa Civl de Maceió é que 420 famílias que residem no bairro, cujas residências estão na área vermelha, deixem os imóveis até o começo da chamada "quadra chuvosa", período de maor precipitação pluviométrica, que começa em abril.
Estando ou não nas chamadas "áreas de risco", os moradores já perderam o sossego, e começaram a deixar o bairro.
Na área demarcada pelos estudiosos como zona de risco, o pedido é de evacuação até o mês de março. “Provavelmente isso não aguenta o inverno não”, disse Adriano Lôbo, morador do bairro, enquanto colocava algumas malas de mudança dentro do carro.
Selma Gomes, que mora no bairro há mais de 45 anos, conta que se sente desamparada sobre a sua situação de moradia. “Falam em rota de fuga, mas ninguém vem aqui explicar nada. A gente precisa ser ressarcida de alguma forma, mas aqui é Brasil... a gente vai ter que ficar com uma mão na frente e outra atrás”, lamenta.
Sem muitas esperanças, a dona de casa acha que pode não voltar mais para o Pinheiro. “Como eu não tenho leitura, não estudei, não fiz faculdade, só sei que depois que aqui abrir, não tem quem feche mais não, só Deus. Eu não tô com medo de ficar aqui não, eu tô apavorada”, disse a moradora.
ALUGUEL SOCIAL E ISENÇÃO DE IPTU
Com imóveis danificados e muita insegurança para continuar em suas residências, os moradores do Pinheiro começam a receber benefícios do governo federal e da prefeitura.
Em visita a Maceió para uma vistoria do bairro, o secretário geral da Defesa Civil Nacional, Alexandre Lucas Alves, anunciou a liberação de R$ 2,4 milhões de ajuda humanitária paras as famílias. No dia 28 de janeiro, o prefeito da cidade, Rui Palmeira, esteve em Brasília para buscar apoio, em reunião com o ministro de Minas e Energia, Bento Costa, e com o secretário Nacional de Geologia, Mineração e Transformação Mineral, Alexandre Vidigal.
Moradores se organizaram no movimento 'SOS' Pinheiro para monitorar bairro e reivindicar soluções |
O repasse inicial, de R$ 480 mil para pagamento do aluguel social, no valor de R$ 1 mil por família, começou a ser pago na última quarta-feira, 30, a 80 família que já dexaram suas residências.
Já a Prefeitura de Maceió decretou a suspensão do envio dos carnês do Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e taxas de serviços urbanos a moradores de imóveis localizados em áreas de risco reconhecidas pela Defesa Civil . Com o decreto 8.685, fica suspenso, também, temporariamente, o envio dos boletos de pagamento referente às taxas de Localização e Funcionamento e à Taxa de Vigilância Sanitária para as empresas localizadas nessas áreas.
Como em todo fato importante e de grande repercussão, a situação do bairro do Pinheiro não escapou das fake news e para evitar falsas informações e pânico infundado, os moradores criaram o movimento "SOS Pinheiro", que mantém reuniões periódicas entre os moradores e participações de órgãos públicos e entidades.
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