Nos últimos 15 anos, quatro homens que ocuparam as funções de chefes de polícia civil no Rio de Janeiro foram presos.
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O delegado Rivaldo Barbosa preso no domingo (24) é o quarto detido por suspeita de envolvimento em algum tipo de crime, desde 2008.
Segundo a Polícia Federal, Rivaldo é suspeito de ter arquitetado as mortes da vereadora Marielle Franco e de seu motorista, Anderson Gomes, em março de 2018. Ainda de acordo com os investigadores, o delegado teria atuado para obstruir as investigações do caso.
Quem chefiou a investigação no Rio foi o delegado Giniton Lages, indicado por Rivaldo, e que foi alvo de busca e apreensão no último domingo. Ambos negam envolvimento na morte da vereadora.
O relatório sobre o caso diz que Rivaldo criou uma organização criminosa dentro da Polícia, suspeita de cometimento de crimes variados, como corrupção, obstrução, tráfico de influência e até fraudes processuais.
A atuação da Polícia Civil é o ponto central da tese dos investigadores federais. A apuração evidencia problemas dentro da polícia fluminense ocorridos em diferentes gestões.
Em 2008, o então deputado estadual Álvaro Lins foi preso por suspeita de lavagem de dinheiro, formação de quadrilha armada, corrupção passiva e facilitação ao contrabando. Ele tinha chefiado a polícia no governo de Anthony Garotinho (de 1999 a 2002).
A investigação do MPF (Ministério Público Federal), à época indicou que Lins e seu grupo forjaram uma organização criminosa que usou a estrutura da Polícia Civil do Rio de Janeiro para praticar lavagem de dinheiro, facilitação de contrabando e corrupção. Ele foi condenado a 28 anos de prisão por ter chefiado a quadrilha, mas foi solto em 2009.
A reportagem não conseguiu localizar a atual defesa de Lins. Na época da prisão, seu advogado negou que ele tivesse envolvimento nos casos.
Também em 2008, a Polícia Federal prendeu o delegado Ricardo Hallak denunciado por corrupção, formação de quadrilha e lavagem de dinheiro. Ele foi condenado a cinco anos e nove meses de prisão por corrupção passiva.
A Polícia Federal monitorou, por meio de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, conversas entre os suspeitos de integrar a quadrilha durante um ano. Um dos trechos mostrou Hallak combinando represálias a uma delegacia que não fazia parte do esquema de pagamento de propina.
A defesa do delegado entrou com um habeas corpus para redução da pena, em 2020, mas o recurso foi negado pelo Superior Tribunal de Justiça.
Hallak morreu ano passado, vítima de um acidente vascular cerebral. A Folha não conseguiu localizar seus representantes.
Em 2022, o ex-secretário de Polícia Civil Allan Turnowski foi preso por suspeita de organização criminosa e envolvimento com o jogo do bicho. Ele foi secretário da Polícia Civil da gestão Cláudio Castro (PL), mas deixou o cargo para se candidatar a deputado federal pelo PL, naquele ano.
De acordo com o Ministério Público Federal, Turnowski recebia propina do jogo do bicho e estaria envolvido em um plano para assassinar o bicheiro Rogério Andrade —apontado atualmente como principal chefe do bicho no Rio.
Menos de um mês depois da prisão, no entanto, ele foi solto por decisão do ministro Nunes Marques, do STF (Supremo Tribunal Federal). A soltura ocorreu mediante medidas cautelares, como a proibição de acessar repartições da polícia. A defesa de Allan Turnowski disse que ele não tem envolvimento nos casos e é inocente.
A investigação do caso segue em andamento pelo Ministério Público do Rio.
Procurada, nesta quarta-feira (27), a Polícia Civil não comentou as prisões de Álvaro Lins, Ricardo Hallak e Allan Turnowski.
Sobre a operação da PF que prendeu supostos envolvidos no caso Marielle, a Secretaria de Estado de Polícia Civil disse que delegados da corporação acompanharam a operação no domingo (24) e que instaurou inquérito para apurar a conduta de Rivaldo Barbosa, Giniton Lages e Marcos Antonio Pinto.
BALCÃO DE NEGÓCIOS
A partir das prisões de ex-chefes da Polícia Civil do Rio e outros acontecimentos que antecedem a prisão de Rivaldo Barbosa, a Polícia Federal disse no relatório de cerca de 500 páginas sobre o caso Marielle que a corporação fluminese virou um balcão de negócios a serviço de bicheiros e milicianos.
Os investigadores tratam especificamente do período de 2015 a 2019, na gestão de Rivaldo. Saindo do caso Marielle, a PF cita uma decisão da Justiça estadual do Rio de Janeiro em uma ação penal contra membros do chamado Escritório do Crime em que o juiz indica suposta atuação do delegado para ocultação e obstrução de outros crimes ligados ao grupo, que reúne milicianos e bicheiros.
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