O educador físico Amaro Junior foi um dos pacientes que deu entrada em um hospital de Maceió com suspeita de contrair a Síndrome de Haff, conhecida como doença da urina preta. Em entrevista ao programa Fique Alerta, da TV Pajuçara, o homem, que reside em Atalaia, confirmou que consumiu peixe durante um almoço, no último dia 20, em um restaurante no povoado Massagueira, em Marechal Deodoro, um dos principais polos gastronômicos de Alagoas. No mesmo dia, Amaro apresentou dores no corpo.
Já liberado pela equipe médica por apresentar melhora, Amaro Junior recebeu a reportagem da TV Pajuçara em casa e deu detalhes do período de internação na capital alagoana. O educador físico revelou também que estava com a família no estabelecimento, mas apenas ele apresentou sintomas depois de comer o peixe.
"Foi feriado na cidade, numa terça-feira, e decidimos sair para almoçar. Fomos até o restaurante em Massagueira, eu, minha esposa, e minhas duas filhas. Foi tudo normal, escolhemos o peixe dourado, já evitando o peixe arabaiana devido ao que teve com a mulher em Recife. E tive um dia normal, depois saímos, joguei futebol à noite e vim sentir os sintomas por volta de 23h30", contou.
"Aí iniciou com dores leves na região cervical, descendo para os ombros, e pouco tempo depois, já estava sentindo fortes dores pelo corpo. Rapidamente a gente foi para Maceió, para o hospital, para fazer o atendimento. E descobrimos o porquê disso [...] Quando cheguei lá as dores estavam bem agudas, principalmente na região abdominal, e tive que ser medicado com morfina. Só veio aliviar por volta de 5h da manhã", acrescentou.
Ainda de acordo com Amaro, a equipe médica não havia identificado a possibilidade de ele ter contraído a Síndrome de Haff no início do atendimento. Apenas depois de o educador ter ido ao banheiro para urinar, foi percebido que a cor da urina estava escura. Com isso, a equipe seguiu o tratamento com hidratação, pela suspeita da doença.
"A princípio, lá no hospital, a equipe médica não fez o tratamento em cima dessa possibilidade. Eles investigavam uma possível intoxicação através da musculatura, devido à prática de atividade física intensa, já que eu joguei futebol na segunda e na terça, mas eu tenho costume disso. Até achei estranho, porque sempre faço", disse.
"Como não tinha caso no estado referente a isso, eles não trataram no início como Síndrome de Haff, a doença do peixe. Eles me trataram como musculatura fadigada, liberando toxina que afeta o fígado e os rins [...] Quando coletaram a primeira urina, ela saiu bem escura mesmo, preta. Depois de dois dias, o tratamento foi à base de soro, muita hidratação, que é o tratamento correto. E nesses dias, houve entradas no hospital com os mesmos sintomas que eu tive, e com pessoas que comeram o mesmo peixe que eu, e no mesmo local", continuou o educador físico.
Amaro contou ainda que realizou vários exames durante a internação e agradeceu ao atendimento dos profissionais de saúde. "[Os exames] Eram colhidos exames diariamente, a equipe médica teve um trabalho bem eficiente, tanto é que conseguiu salvar vidas, não só a minha, mas de outros também".
Por fim, Amaro revelou que teme ingerir o alimento a partir de agora e disse que espera que os órgãos trabalhem para evitar novos casos no estado. "O trauma que a gente tem desse momento é que hoje não como mais [peixe]. Aproveitar o momento para alertar à população, mostrar que é um risco que existe. Antes não conhecíamos, mas hoje sim. É torcer para que a Vigilância Sanitária, os órgãos responsáveis, fiscalizem e cheguem a uma conclusão para que até os próprios pescadores e donos de restaurantes não sejam prejudicados. A gente não sabe se foi mau armazenamento, se foi bactéria, a gente não sabe".
Peixes passam por análise em laboratório
Em nota, a Prefeitura de Marechal Deodoro informou que a Vigilância Sanitária da cidade fez a interdição de pelo menos 32 kg de peixes do estabelecimento na Massagueira. O coordenador da Vigilância Sanitária, Antônio Borges, explicou que o alimento já foi deixado sob análise.
"Até que se prove o contrário, essa toxina não tem relação nenhuma com as condições sanitárias do peixe. Evidências apontam que é um toxina produzida por algas de peixe de alto mar, e que pode vir a contaminar espécies de peixe", disse.
"Nós fizemos a interdição cautelar preventivamente. Nós realizamos uma coleta onde recolhemos amostras e encaminhamos ao laboratório. Agora vamos esperar a análise para descartar ou comprovar a contaminação. Em caso de comprovação, o peixe vai ser apreendido e vai ser dado o descarte adequado. Caso não, ele vai ser liberado para consumo", complementou.
Borges afirmou que, apesar de ao menos duas internações de pessoas com suspeita da síndrome, a população não deve entrar em pânico, pois esse é um caso pontual que já está sendo investigado.
"É bom que se esclareça a população que não precisa criar um certo alarde. São coisas pontuais. Pode ser a parte de um peixe, e não todo. É tranquilizar a população, dentro do possível, principalmente os frequentadores da Massagueira. Trata-se de um caso pontual, não só em Alagoas, mas em todo Brasil. É uma doença que está precisando ser elucidada, ainda não temos muita definição", finalizou.
Síndrome de Haff
A doença de Haff está associada à ingestão de crustáceos e pescados e o principal sintoma é o escurecimento da urina, que chega a ficar da cor de café. A síndrome pode evoluir rapidamente: os primeiros sintomas surgem entre 2 e 24 horas após o consumo de peixe, e causa, principalmente, a ruptura das células musculares.
Além da urina preta, entre os principais sinais da doença, estão a dor e rigidez muscular, dormência, perda de força e falta de ar.
A doença chamou a atenção da sociedade em março deste ano, quando a veterinária Pryscila Andrade, de 31 anos, morreu após passar 12 dias internada na Unidade de Terapia Intensiva (UTI) de um hospital particular do Recife. A suspeita é de que ela tenha contraído a Síndrome de Haff após consumir um peixe contaminado.