Dupla jornada: alagoanas têm a maior média de horas trabalhando fora e cuidando da casa

Publicado em 08/03/2024, às 10h38
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Por Ascom IBGE

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou, nesta sexta-feira (8), o estudo “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”. Os dados trazem informações para análise das condições de vida da população do sexo feminino no país e são divididos em 5 categorias: empoderamento econômico, educação, saúde, vida pública e tomada de decisão, direitos humanos.

Além das bases de dados do IBGE, o estudo também trouxe indicadores do Ministério da Saúde (MS), Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).

Dupla jornada: apesar de trabalharem, mulheres ainda gastam quase o dobro de horas no cuidado de pessoas e atividades domésticas em AL

Mesmo quando trabalham, as mulheres ainda são as maiores responsáveis pelo cuidado de pessoas e atividades domésticas. Em AL, estado com maior média nacional, estima-se que elas gastem quase 22 horas semanais nessa dupla jornada. Os homens que trabalham, contudo, passam quase a metade do tempo nessas atividades: 12,3 horas por semana.

Dentro da população masculina, há pouca variação no índice geral, que não faz distinção entre ocupados e desocupados – neste, a média de tempo sobe de 12,3 para 13 horas semanais. Para as mulheres, o salto é maior: são 25,4 horas; nas faixas etárias de 30 a 49 anos de idade, e na de 50 a 59 anos, o número chega a quase 28 horas por semana.

A média geral de horas gastas pelos homens alagoanos nas atividades domésticas e de cuidado de pessoas varia de 11,6 horas (14 a 29 anos) a 14,6 horas (60 anos ou mais). Nas mulheres, os números variam entre 22,4 horas (14 a 29 anos) e 27,7 horas (30 a 49 anos).

Em nenhuma das faixas etárias pesquisadas o número de horas gastas pelos homens alagoanos se aproximou ou superou o tempo gasto pelas mulheres.

Desigualdades na inserção no mercado de trabalho

Em Alagoas, duas realidades muito distintas se encontram. O estado é o terceiro no Brasil em maior proporção de mulheres que são professoras do ensino superior: elas representam 50,2% dos docentes universitários. Contudo, as mulheres alagoanas também são as que têm menor nível de ocupação (percentual de pessoas em idade de trabalhar que estão ocupadas) em todo o país: 47,4%. Para os homens, que têm o segundo menor percentual de ocupação do Brasil, a taxa é de 74,6%.

A presença de crianças de até 6 anos de idade no domicílio faz diferença na empregabilidade feminina. As alagoanas com crianças pequenas em casa têm nível ocupação de 40,9%; quando não há a presença de crianças dessa idade no domicílio, o nível de ocupação sobe para 51%.

Em 2022, cerca de 33,3% das mulheres de 15 a 24 anos de idade não estudavam, não trabalhavam, nem estavam em treinamento. O número é o segundo maior do país, atrás apenas do Amapá (34,9%). Para homens alagoanos, o percentual é de 23,2%, e ocupa o primeiro lugar no Brasil.

A taxa de desocupação entre as mulheres (15,3%) é maior que entre os homens (9,5%). As alagoanas pretas e pardas são as que têm maior índice de desocupação no estado: 15,9%.

Casamento na menoridade é maior entre meninas do que meninos

Em 2021, quase 400 meninas – mais precisamente, 391 – entre 16 e 17 anos se casaram em Alagoas. Contudo, foram celebrados apenas 43 matrimônios entre os meninos da mesma idade. O número de mulheres casadas antes de atingir a maioridade é 9 vezes maior que o de homens.

O casamento de mulheres menores de idade ainda é realidade no Brasil. Para as alagoanas, o percentual representou 2,8% dos matrimônios realizados em 2021. Para os meninos alagoanos, 0,3%. Mulheres tendem a casar mais cedo, e com homens mais velhos.

No Nordeste, Alagoas ocupa atualmente o segundo lugar regional no percentual de casamentos nessa faixa etária. Apesar disso, a taxa de 2021 é a menor em toda a série histórica da pesquisa para o estado. Em 2011, a proporção de casamentos com meninas entre 16 e 17 anos chegou a 8,5%; no mesmo ano, considerando as menores de 16 anos, a taxa foi ainda maior: 9%.

O estado campeão em casamentos de meninas entre 16 e 17 anos no Nordeste é o Maranhão, com proporção de 3,3%. Além disso, Rondônia segue na liderança nacional, com 6% dos matrimônios entre meninas dessa idade.

Perfil da violência doméstica

Quase 90% das mulheres de AL que sofreram violência física (única ocorrência ou ocorrência mais grave) em 2019 foram alvo de uma pessoa conhecida. A maior parte delas (76,5%) relatou que as agressões ocorreram dentro da própria casa.

O perfil da violência sofrida pelos alagoanos é diferente, especialmente quando se trata do local. Cerca de 31% foram agredidos em casa. A pessoa agressora era conhecida de 72% dos homens.

A população feminina de 30 a 49 anos é a mais afetadas pela violência física, sexual ou psicológica sofrida pelo atual ou ex parceiro no estado. Em 2019, cerca de 8,7% dessa faixa etária relatou agressão. O segundo grupo com maior percentual é o de 18 a 29 anos, no qual 7,2% das mulheres sofreram violência.

Vida pública: representação política ainda é baixa

As mulheres alagoanas não têm representação feminina na Câmara dos Deputados. Junto a Amazonas, Tocantins, Piauí e Paraíba, Alagoas é uma das cinco unidades da federação (UFs) que não possui mulheres como deputadas federais.

Entre os vereadores eleitos, a proporção de alagoanas é de 15,8%. Elas ocupam apenas 172 das 1.806 cadeiras destinadas ao cargo. Já nas prefeituras, quase 22% são mulheres – são 22 prefeitas entre os eleitos em 2020.

Apesar da baixa representatividade política, o cenário é um pouco melhor entre os cargos gerenciais. Nestes, a proporção de mulher é de 41,7%.

Sobre a pesquisa

O estudo “Estatísticas de gênero: indicadores sociais das mulheres no Brasil”sistematiza informações fundamentais para análise das condições de vida das mulheres no país. Com periodicidade trienal, a terceira edição da publicação traz 44 dos 51 indicadores propostos pelo Conjunto Mínimo de Indicadores de Gênero (CMIG), elaborado na Comissão de Estatística das Nações Unidas, além de indicadores adicionais, construídos devido à relevância para a realidade brasileira.

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