Apresentado oficialmente na última sexta-feira, o técnico Doriva teve o nome regularizado no Boletim Informativo Diário da CBF nesta segunda (2) e vai comandar o CRB contra o São Bento, na próxima partida da Série B do Campeonato Brasileiro. Em entrevista coletiva na chegada ao clube, Doriva afirmou que é preciso dar um choque de realidade no elenco regatiano.
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"O elenco do CRB, sinceramente, é qualificado. De jogadores que têm história dentro do futebol brasileiro em vários clubes. São jogadores que precisam enxergar o momento individual deles e buscar uma reação imediata. Acho que precisamos desse choque de realidade. O cara saber o que está disputando. É uma competição importante que pode projetar. O cara não pode ficar acomodado. E eu não vou deixar ninguém ficar acomodado".
(Foto: Reprodução / CBF)
"Quero chegar e mexer com o brio dos atletas, com a mente deles, para mostrar para eles o que de fato é a vida. A vida é muito dura. E às vezes se perde a oportunidade de estar em um clube como o CRB, disputar uma competição tão importante como a Série B, por conta de estar "distraído" na vida. O cara tem que se ligar, se antenar, despertar para a realidade da vida dele e começar a dar mais no trabalho do dia a dia e consequentemente nos jogos", analisou o novo treinador do Regatas.
(Foto: Maxwell Oliveira / Ascom CRB)
Doriva chegou para ocupar a vaga deixada por Júnior Rocha, desligado após a derrota para o Goiás. Em situação delicada na competição, a diretoria está pressionada. O Galo somou apenas 12 pontos em 13 jogos e ocupa a 19ª posição.
O primeiro desafio de Doriva no clube alagoano é contra o São Bento na próxima quarta (4), às 20h30, no Estádio Rei Pelé, em Maceió, pela 14ª rodada da Série B do Campeonato Brasileiro.
Veja outros trechos da entrevista.
Diferença em brigar por título e contra o rebaixamento
"Os dois são difíceis. Quando você está lá embaixo, numa situação que tira a confiança da equipe, é complicado porque os jogos são difíceis. Quando você está brigando por um título o jogo é difícil. Você perde um título, perde a chance de escrever o teu nome na história, de deixar um legado positivo".
"Em contrapartida, quando você está lá embaixo disputando descenso, o jogador fica mais tenso, mais preocupado. As coisas não acontecem. Parece que as coisas não acontecem tão facilmente. Então você tem que trabalhar em cima de motivação. De recuperar a autoestima desses atletas e mostrar a qualidade que eles têm".
Desafio com o CRB
"Principalmente por conta do Eduardo [Souza, auxiliar que treinou o Galo em 2014], que já trabalhou no CRB, sempre me passou muitas informações do clube. Nesse momento sabemos dessa organização do clube, das ambições. Isso com certeza pesou num momento em que eu estava aguardando algo do mercado. Tive outros contatos. Estava esperando uma ocasião. E surgiu essa ocasião. Fiquei super feliz com o convite".
Doriva e Eduardo Souza conversam na apresentação no CT (Foto: Maxwell Oliveira / Ascom CRB)
"Quero dar o meu melhor aqui para ajudar o CRB a fazer uma grande campanha esse ano, porque ainda dá tempo. A gente sabe que a Série B é uma competição dinâmica. Se você reagir rápido, conseguir uma sequência de vitórias, você sobe na tabela. Minha expectativa é muito boa. Estou super feliz e mais feliz ainda com a impressão que foi deixada no primeiro dia".
Mudança de técnico e elenco
"A gente sabe que sempre quando o resultado não vem, estoura no treinador. É muito mais conveniente trocar um treinador do que 20 e tantos atletas. Isso faz parte do futebol, é a nossa cultura. Lógico que para o trabalho ser bem avaliado tem que ter início, meio e fim. Aì você faz a leitura do trabalho. Aconteceu comigo recentemente na Ponte Preta. Fiz alguns jogos e já saí".
"A ideia é que as coisas encaixem o mais rápido possível para trazer a confiança que nós precisamos, trazer as vitórias e os pontos que nos coloquem numa condição mais confortável. Para aí sim você começar a fazer a leitura de tudo, fazer um diagnóstico mais preciso do que está funcionando, do que não está funcionando, do que foi erro ou acerto a nível de contratação".
(Foto: Maxwell Oliveira / Ascom CRB)
"Quando você tem um elenco numeroso, tem que ver o que foi bem aproveitado, o que não foi. Isso leva tempo, não é da noite para o dia que conseguimos avaliar um elenco, dar oportunidade para A ou B. Mas, a grosso modo que conseguimos enxergar, temos um elenco qualificado. Já trabalhei com alguns em outros clubes. Sabemos que tem qualidade aí. O desafio é fazer essa transferência de qualidade para os jogos, para buscarmos performance e resultado".
Gestor de pessoas
"O atleta tem que querer. Passa muito pela atitude dele. Um atleta sem brio, sem motivação, sem intensidade... [Assim] até eu jogo com 46 anos. Me colocar com a camisa 5 ou 8, eu jogo. A realidade do futebol hoje é intensidade, inteligência, comprometimento o tempo todo. O futebol está muito nivelado, essa é a verdade. Você tem que ter o algo mais".
"Esse algo mais é justamente essa gana, ambição, leitura da vida, leitura do futuro e do presente. O que você vai fazer hoje vai mudar o seu futuro. O atleta tem que entender isso. Não pode ficar protelando e deixando para amanhã. "Ah, amanhã eu vou treinar melhor. Amanhã vou jogar melhor". Não, ele tem que fazer agora, se não o futuro dele pode ser comprometido".
(Foto: Maxwell Oliveira / Ascom CRB)
"Gosto dessa parte. Acho que hoje o treinador tem que estar habilitado para extrair do atleta um nível de comprometimento e performance altos. Ele só faz isso compreendendo individualmente cada um. Não adianta fazer uma leitura geral. Tem que ter um convívio com o atleta. Fazer uma leitura de como você vai cobrar aquele atleta".
"Tem atleta que reage só quando você é mais duro. E tem atleta que só com uma conversa você consegue convencer. Digamos assim, é entrar na mente do atleta para mostrar a ele que o trabalho dele tem que ser de excelência e só assim ele vai conseguir amadurecer, galgar melhores contratos, galgar clubes maiores, exterior, enfim. Você tem que ser um pouquinho de tudo".
"Lógico que o trabalho de campo é fundamental. Mas esse trabalho de estímulo do atleta, no meu modo de ver, é o que faz a diferença hoje no treinador. O treinador tem que ser um gestor de pessoas, saber fazer a leitura de cada indivíduo. Fazer o diagnóstico rápido, fazer a leitura e agir. Trabalhar no individual. Mostrar para o cara que ele precisa fazer e confrontar. Confrontar mesmo. O atleta precisa ser confrontado".
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