Sandro acerta os últimos detalhes de suas primeira viagem internacional (Crédito: Marcos Marabá - TNH1)
Nada tira o sorriso da gerente Leila Fontoura. Essa é sua marca ao receber os clientes em uma das unidades da maior operadora de Turismo do Brasil, em Maceió. Mas, uma coisa tem tornado, nos últimos dias, esse sorriso meio acanhado. O dólar em alta alterou o segmento de vendas de pacotes internacionais, sempre crescente. O que antes eram 20 por semana, agora são 3 em média. "Foi um susto", disse Leila.
Embora a crise econômica tenha afetado o câmbio e o setor, de cima para baixo, é com criatividade que se busca a recuperação. Pelo menos essa tem sido a bandeira de muitas agências de turismo ao incentivar, a despeito das viagens internacionais, os pacotes nacionais. Para se ter uma ideia, no fechamento dessa matéria, com a moeda americana a R$ 4,55 (Turismo), uma viagem para casal em Santiago, no Chile, não saía por menos de R$ 9 mil. O dobro do valor considerado normal para o destino.
Já uma viagem para Foz do Iguaçu, no Paraná, a mesma estrutura de transporte e acomodação custava R$ 2.400 o casal. "É apostando nessa frente que estamos conseguindo ter um equilíbrio. Essa também é uma maneira de o brasileiro conhecer melhor o país em que vive. Como estamos num período de transição para o verão, o resorts são nossa indicação para os clientes" - argumenta Leila.
Desistências
Em meio aos papéis que o cercam à mesa, o gerente de uma tradicional casa de câmbio de Maceió, Mário Tenório, tem outras preocupações para resolver. A principal delas é a variação da moeda americana. Segundo ele, mais de 50% dos clientes que compraram pacotes internacionais de última hora já desistiram. "Não há como viajar para fora com o dólar a R$ 4,55", alega.
Mário Tenório diz ainda que somente aqueles que compraram antecipadamente, em uma espécie de "viagem-poupança", conseguiram manter a programação. "Isso ainda a duras penas", disse.
Quem já comprou, vai economizar nos gastos
As malas estão praticamente "prontas" desde que decidiu realizar o sonho da primeira viagem internacional. O representante comercial Sandro Leitão de Almeida (foto) vai com a esposa para Montevidéu, no Uruguai. Um pacote comprado bem antes dos aumentos sucessivos do dólar. Até aí tudo bem, mas os gastos de alimentação, transporte local e diversão terão que ser arcados no momento que chegarem ao país.
"Isso é o que me preocupa. Que cenário vou encontrar lá? A cada dia o real se desvaloriza", questiona.
E quanto aos presentes e lembrancinhas para a família, Sandro é taxativo: "Já decidimos. Nada de presentes! O objetivo será curtir a viagem com o que temos", avisou.
Dólar
Assim como o euro, o dólar pode ser utilizado de várias formas. O comercial para transações de importação, o turismo para compra e venda imediata e o intermediário, geralmente aplicado em hotéis (meio termo entre os dois).
"A tendência é que os valores aplicados hoje se mantenham em alta", alerta Tenório. O gerente também revelou uma situação atípica. Mesmo quem está com dólar guardado em casa não tem procurado as casas de câmbio para trocar. "Na certa, estão esperando a moeda valorizar ainda mais frente ao real", disse.
Intervenção
O Banco Central do Brasil continua a intervir no mercado para reduzir a volatilidade. O BC promoveu dois leilões e conseguiu reduzir o valor da moeda americana em 1,96%, ficando abaixo dos R$ 4, nessa sexta-feira (25). "Essas são intervenções diárias. O que se faz hoje, pode ser que não se perpetue amanhã", lembra.