O documentário brasileiro Espero Tua (Re)volta, da diretora Eliza Capai, foi premiado no Festival de Berlim no último sábado 16. O longa foi vencedor do Prêmio da Paz, concedido a filmes que trazem mensagens pacifistas com habilidade estética, e do Prêmio da Anistia Internacional, que destaca filmes com temáticas ligadas aos direitos humanos.
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Espero Tua (Re)volta retrata os movimentos estudantis brasileiros desde as manifestações de 2013 pela redução das tarifas de ônibus, passando pelas ocupações de escolas públicas de São Paulo em 2015, até as eleições que levaram Jair Bolsonaro ao poder em 2018. Seu ponto de vista é sempre o dos estudantes – sejam eles organizados em grupos, como a UBES, ou autônomos e apartidários.
Em entrevista a VEJA às vésperas do festival, Capai falou sobre o “novo Brasil” que nasceu junto com as mobilizações mostradas no filme. “Ao mesmo tempo em que 2013 foi um despertar político dessa molecada na luta por uma cidade mais justa, mais igualitária, ele também levou muita gente ao lado oposto, a apoiar a ditadura militar”, afirmou.
A crítica a esse “lado oposto” também permeia outra produção brasileira em Berlim, o longa Marighella, de Wagner Moura, sobre o guerrilheiro comunista que liderou uma frente armada contra o regime militar. A obra tem sido criticada por apoiadores de Bolsonaro e foi alvo de uma ação coordenada de usuários brasileiros no site IMDB. “Poder questionar o governo se chama democracia”, defende a diretora. “Um governo democrático aceita a crítica e usa isso para melhorar.”
Ao receber o prêmio da Anistia, Capai citou a vereadora Marielle Franco (PSOL-RJ), assassinada em março de 2018 em um crime ainda não solucionado, e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso por corrupção e lavagem de dinheiro na Operação Lava Jato. “Para mim, as imagens de Lula e Marielle Franco são as imagens da injustiça no Brasil. Elas são o governo dizendo ‘Vocês, pobres, não merecem ser o presidente do Brasil. Vocês, mulheres negras, calem-se'”. A diretora declarou também que se sentiu honrada por “estar ali como uma diretora brasileira, uma mulher, com um filme sobre estudantes lutando pelas coisas mais básicas”. Espero Tua (Re)volta ainda não tem previsão de estreia nos cinemas.
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