Um estudo dinamarquês, publicado no último dia 16 no periódico JAMA Network, associou o uso de DIU hormonal — conhecido no Brasil pelos nomes comerciais DIU Mirena e Kyleena — ao maior risco de câncer de mama em mulheres entre 15 e 49 anos.
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Segundo a pesquisa, o risco é 1,4 vezes maior (14 em cada 10 mil) entre as mulheres que usam DIU que libera o hormônio levonorgestrel em comparação com aqueles que não usam. O risco não aumentou com a duração do uso, de acordo com o trabalho.
Para chegar à conclusão, pesquisadores acompanharam 78.595 mulheres na Dinamarca, com idade média de 38 anos, que começaram a usar o DIU hormonal ao longo de duas décadas e as compararam com um grupo igual de mulheres que não usaram o dispositivo.
Apesar dos resultados, os pesquisadores não conseguiram provar que o DIU hormonal seja a causa direta do aumento do risco de câncer nessas mulheres. Isso significa que outros fatores podem estar envolvidos nesses achados.
“Segundo os próprios autores do estudo, no grupo de mulheres que usaram DIU, eles encontraram 14 casos [de câncer de mama] a cada 10 mil mulheres. Esse é um número absoluto muito pequeno”, observa Ilza Monteiro, médica ginecologista e presidente da Comissão Nacional de Anticoncepção da Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia (Febrasgo), à CNN. Ela não esteve envolvida com o estudo.
Além disso, segundo a pesquisadora, não é possível estabelecer uma relação causa-efeito entre levonorgestrel e câncer de mama. Outros fatores podem estar associados a esse risco aumentado, como antecedente familiar de câncer, obesidade, sedentarismo e não ter amamentado, conforme lista Monteiro. “Existem outros fatores que poderiam estar associados ao câncer e que não foram avaliados [pelo estudo]. Como o número é muito pequeno [14 a cada 10 mil], pode ser que tenha tido, nesse grupo, uma parcela de pessoas com mais de uma dessas comorbidades”, comenta a ginecologista.
Outro ponto de atenção no estudo é que, no grupo de mulheres avaliadas que não faziam uso do DIU, o número absoluto de participantes que desenvolveram câncer de mama foi maior do que naquelas que usavam o método contraceptivo. Segundo o trabalho, 720 usuárias de DIU hormonal foram diagnosticadas com câncer, enquanto 897 não usuárias tiveram o mesmo diagnóstico.
“Nesse sentido, o estudo começa a ter um viés, e esse é um ponto negativo”, afirma Monteiro. “Outro ponto negativo é que os autores tentaram ver se havia alguma associação com o tempo de uso do DIU para estabelecer uma relação causal. Ou seja, queriam entender se, conforme uma pessoa vai usando o DIU, vai aumentando o risco de câncer. Isso não aconteceu, o que afasta ainda mais a possibilidade de associação”, acrescenta.
Escolha do melhor contraceptivo deve ser individual
O DIU hormonal é indicado tanto como método anticoncepcional quanto para casos de endometriose, já que atua reduzindo as cólicas menstruais intensas e o sangramento menstrual. “Qualquer mulher pode usar qualquer método contraceptivo. Até o momento, não vemos contraindicação para o uso do DIU hormonal”, afirma Monteiro.
No entanto, a especialista ressalta que, para mulheres que têm antecedência familiar de câncer de mama ou que possuem alterações genéticas associadas a um maior risco, o uso de métodos contraceptivos hormonais devem ser evitados. “Mas esse é um grupo específico. No geral, se a mulher não teve câncer de mama ou não tem esse risco aumentado, o uso não é contraindicado”, explica.
A decisão de escolher usar o DIU hormonal ou qualquer outro método contraceptivo deve ser avaliada com um ginecologista de confiança, avaliando benefícios e riscos para cada caso específico.
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