Nesta sexta-feira acontece o Dia do Asteroide, uma jornada mundial para divulgar o potencial devastador desses corpos do sistema solar e a necessidade de proteger a Terra. A iniciativa, criada em 2014 pelo astrofísico e guitarrista do Queen, Brian May, e conjunto com o cientista americano Bill Nye, o Astrônomo Real do Reino Unido, Martin Rees, e três astronautas, tem o objetivo de “garantir a sobrevivência das gerações futuras”, segundo os organizadores.
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Os eventos agendados para o Dia do Asteroide podem ser conferidos no site Asteroid Day (em inglês).
“Quanto mais aprendermos sobre o impacto de asteroides, mais claro ficará que a raça humana está aqui de passagem”, afirma May, no site do evento. “O Dia do Asteroide é uma forma de o público tomar conhecimento de que podemos ser atingidos a qualquer momento. Uma cidade pode ser apagada apenas porque não sabemos direito o que está lá fora.”
Em 30 de junho de 1908, um asteroide de 40 metros de diâmetro causou o maior impacto da história recente quando colidiu em Tunguska, na Sibéria. O corpo celeste derrubou 80 milhões de árvores em uma zona pouco povoada de 2.000 quilômetros quadrados – uma superfície superior ao tamanho de Londres. O Dia do Asteroide foi escolhido para recordar a data e alertar para o fato que, até hoje, ninguém consegue prever com precisão quando será a próxima queda de um asteroide sobre a superfície.
Os cientistas trabalham para melhorar as previsões e descobrir como abortar um possível impacto – incluindo um eventual “asteroide surpresa”, que apareça sem dar sinais prévios. “Cedo ou tarde sofreremos um impacto maior ou menor”, disse Rolf Densing, diretor do Centro Europeu de Operações Espaciais, na Alemanha, comentando a importância da data. “E não estamos preparados para nos defendermos. Não temos medidas ativas de defesa planetária.”
As táticas poderiam consistir em destruir o asteroide com laser, tentar desviá-lo ou enviar um “trator” espacial para arrastá-lo. Mas, primeiro, os cientistas precisam detectar a ameaça e pensar em um plano rápido para combatê-la.
Astrofísicos classificam os corpos celestes por tamanho e pela composição. Os asteroides são rochas que podem medir desde alguns centímetros até 10 quilômetros de diâmetro, como o que extinguiu os dinossauros há 65 milhões de anos. Eles penetram diariamente na atmosfera da Terra, muitas vezes pegando fogo durante a queda, e raramente apresentam algum risco – a agência espacial americana estima que a chance de sermos atingidos por um asteroide potencialmente perigoso nos próximos 100 anos é de apenas 0,01%. A maioria dessas rochas vêm de uma região entre Marte e Júpiter, onde há um grande cinturão de asteroides.
Outros corpos celestes, no entanto, habitam o sistema solar, como os cometas e os meteoroides. Cometas são objetos espaciais compostos por rochas, gelo e gases congelados, e quando chegam perto do Sol, o aquecimento dos gases forma uma cauda luminosa que pode chegar a milhões de quilômetros. Já os meteoroides são pequenas partículas rochosas que normalmente se originaram do rompimento de um cometa ou asteroide. Eles têm um tamanho maior do que um grão de areia e menor do que um asteroide. Quando eles penetram a atmosfera da Terra, podem receber dois nomes – meteoro (ou estrela cadente), quando entra em chamas e é completamente vaporizado, e meteorito, quando sobrevive à descida e ao menos uma parte sua chega ao solo.
Até o momento, especialistas conseguiram catalogar 90% dos asteroides de tamanho potencialmente perigosos e determinaram que nenhum supunha uma ameaça imediata. Estima-se que episódios de impacto com objetos tão grandes como o que atingiu os dinossauros aconteçam uma vez a cada 100 milhões de anos – o próximo, teoricamente, poderia levar ao fim da humanidade.
Os mais preocupantes são os asteroides que têm entre 15 e 140 metros, como o que caiu na Sibéria. Outro episódio relevante foi registrado em Chelyabinsk, no centro da Rússia, em 2013, quando um corpo de 20 metros – que não tinha sido detectado com antecedência – entrou na atmosfera, criando uma energia cinética equivalente a 27 bombas de Hiroshima. A onda de choque fez com que as janelas de quase 5.000 edifícios quebrassem e deixou mais de 1.200 feridos.
Diante da ameaça, a Europa está criando uma série de telescópios, cuja conclusão está programada para daqui a dois anos. Esta rede “escaneará sistematicamente o céu a cada noite, e qualquer asteroide que se aproxime será detectado com uma antecedência de duas a três semanas”, disse Nicolas Bobrinsky, responsável do projeto de vigilância de asteroides Space Situational Awareness, da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês).
“Não é muito, mas é melhor do que o que temos agora”, acrescentou. No mínimo, permitirá evacuar cidades e alertar sobre a onda de choque. “Ao contrário de outros riscos naturais na Terra, como tsunamis e terremotos, este é o único que podemos prever”, disse Patrick Michel, astrofísico do Centro Nacional de Pesquisas Científicas da França.
O que se necessita, segundo o especialista, é cooperação entre políticos e agências espaciais e, principalmente, dinheiro. Um sistema para desviar um asteroide requereria entre 300 e 400 milhões de euros, estima Bobrinsky, uma soma minúscula comparada com o custo do desastre potencial.
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