Dia do Artesão: um amor que escorre pelas mãos e transforma peças em arte

Publicado em 19/03/2021, às 16h07
Kaio Fragoso, Jonathan Lins e Felipe Brasil / Agência Alagoas
Kaio Fragoso, Jonathan Lins e Felipe Brasil / Agência Alagoas

Por Agência Alagoas

"Eu tenho pra mim que o artesão é feito de um tanto de amor que não coube no peito e escorreu para as mãos”. Esta fala é de uma admiradora do artesanato alagoano dita à um artista popular, que junto aos mestres e entidades representativas, transformam o cotidiano em arte e transmitem histórias geração após geração. Tudo isso distribuído em diversas tipologias que passam pelo barro, madeira, fios e tecidos, cascas e sementes, fibras vegetais e ferro.

A declaração, para ser lembrada nesta sexta-feira (19), quando se comemora o Dia do Artesão, foi feita a Enauro Rocha, um artista que há mais de 15 anos trabalha a exclusividade de suas obras com o coité. Ele conta que o trabalho começa a partir da colheita, quando, ainda maduro, o fruto é retirado da árvore para impedir a quebra ao cair no chão. 

Kaio Fragoso, Jonathan Lins e Felipe Brasil / Agência Alagoas
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Depois de deixar secar, por aproximadamente três meses para que ele desidrate e fique resistente para ser trabalhado, o próximo passo do artista é desenvolver o desenho, passando por fazer os furos, pintura e preenchimento com resina e combinação de cores. Esse processo transforma o coité em uma luminária exclusiva e que reflete a cultura local. 

“Essa é uma técnica desenvolvida por mim. Sem cópias e sem agressão ao meio ambiente. Com isso, passo a incentivar o plantio, transformo em fonte de renda também para outras pessoas e divulgo o folclore e as paisagens de Alagoas. Acredito que meu papel é deixar o mundo mais colorido e as pessoas mais alegres”, relata o artista popular. 

Os mais de 17 mil artesãos cadastrados, em Alagoas, no Programa do Artesanato Brasileiro, exibem peças típicas, singulares e nas mais variadas formas, passando desde sousplat para mesas, peças de decoração, roupas e acessórios, cada objeto com o traço peculiar de cada artista.

O Alagoas Feita à Mão, programa coordenado pela Secretaria de Estado do Desenvolvimento Econômico e Turismo (Sedetur), atua há 6 anos acompanhando essas produções, apoiando através da participação em feiras e eventos, fomentando o setor e, com isso, vendo se consolidar o legado e a imagem de artistas como os mestres Dona Irinéia, João das Alagoas, Zezinho, Maria de Lourdes, Pedrocas e mais 35 mestres artesãos já mapeados pela Gerência de Artesanato. 

A voz do guerreiro de Vânia

Entre os nomes já consolidados, está Vânia de Oliveira, Mestra Patrimônio Vivo e Mestra Imortal. Com fitas e vidrilhos, ela usa seu talento compondo chapéus de guerreiro, adorno utilizado em uma das principais manifestações culturais do estado. Para ela, a titularidade reforça o compromisso de ser voz para valorização de todos os profissionais que vivem do artesanato.  Seu trabalho é desempenhado há 38 anos inspirado na cultura popular. Ela, que também é pedagoga, vê na arte e no lúdico a melhor forma de ensinar alguém e passar conhecimento. Dona Vânia conta que já pensou muitas vezes em se aposentar, mas acredita que ainda pode contribuir muito para o cenário.

“O artesanato significa tudo na minha vida.  Se eu permanecer acordada, são 24h pensando e trabalhando com ele. O que eu faço eu não digo nem que é um trabalho. É uma diversão, é o que me alimenta. O título que eu tenho me dá muita responsabilidade. Quero ser quem apoia e luta pelo artesão, para que ele seja cada vez mais reconhecido, valorizado e ganhe qualidade de vida”, declara a mestra. 

Vida e liberdade

As obras refletem um estilo de vida e têm uma forte assinatura de personalidade de cada um, tão típica que quem trabalha com artesanato é capaz de saber a autoria só de olhar. No Litoral Sul de Alagoas, a Associação das Artesãs do Pontal do Coruripe trabalham o ouricuri, com um trançado que ganha cores e formas e uma variedade de objetos de palha que vão desde cestarias até utensílios de cozinha.

Oficialmente, elas trabalham desde 1999, quando veio a formalização diante de uma grande encomenda que um grupo de mulheres recebeu. Hoje são 30 associadas que têm essa atividade como fonte de renda e trabalham de forma sustentável com o meio ambiente. 

“Eu acredito que o artesanato é algo muito importante para a nossa cultura e para a economia local. É a fonte de renda de várias famílias aqui. É algo que, para mim e outras mulheres, significa liberdade, vida e esperança. É com o nosso trabalho que pagamos as contas e compramos algo para nós”, declara a presidente da Associação, Erica Aparecida de Campos.

Alagoas Feita à Mão

Esses artistas têm sido atendidos pelo Alagoas Feita à Mão, através da Gerência de Design e Artesanato da Sedetur, possibilitando a participação de feiras e realizando o cadastro para a Carteira Nacional do Artesão, que garante uma série de benefícios, como a isenção de ICMS. 

O objetivo principal do programa é, além de conceder visibilidade a produção artesanal, garantir aos profissionais a geração de renda através do artesanato e arte popular. Com esse propósito, durante o mais duro período da pandemia da COVID-19, em 2020, a pasta lançou a Galeria Alagoas Feita à Mão. O espaço online é voltado exclusivamente para a comercialização do artesanato, possibilitando que o produtor negocie diretamente com o cliente. 

Unido a esta iniciativa, desde agosto de 2020 a equipe conseguiu disponibilizar um espaço físico no Parque Shopping Maceió para venda dos produtos. Apenas nos dois primeiros meses deste ano, foi faturado o valor de R$74.826,90.

“Nós temos muito orgulho de fazer parte da história de valorização do artesão em Alagoas. São eles que levam o nosso nome para outros lugares do Brasil e até do mundo através de suas peças. Eles se consolidam com a diversidade produzida. Que as técnicas possam continuar a ser passadas para as gerações futuras e que continuem contribuindo para o desenvolvimento econômico do nosso estado”, declara Rafael Brito, secretário do Desenvolvimento Econômico e Turismo.

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