O sentimento agora é outro, de pertencimento. Olhar para os lados e se reconhecer enquanto comunidade nas casas, escadarias, muros e praças. É assim, por meio de formas, texturas e cores, que os desenhos urbanos têm revelado uma nova identidade aos moradores das grotas de Maceió. Com mais mobilidade, mais segurança, mais desenvolvimento e principalmente, mais dignidade.
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Representados entre cenas cotidianas e paisagens, as intervenções artísticas têm ajudado a requalificar os espaços sociais das comunidades. Junto com os serviços de infraestrutura realizado pela Secretaria de Transporte e Desenvolvimento Urbano (Setrand), como parte do programa Vida Nova nas Grotas, estes mecanismos estimulam nos moradores a percepção de grota enquanto um lugar coeso e habitável.
Entre as cores vivas retratadas pelo tradicional símbolo alagoano do guerreiro, depois de mais de 15 anos morando na grota do Ouro Preto, Glaucia Ferreira experimenta um momento antes impensável na comunidade. “Quando soube que minha casa ia ser pintada, não acreditei. Ajudei a escolher as cores e amei o desenho. Tá tudo lindo, mais vivo, a gente se sente mais valorizada, né? Fora todas as outras mudanças, aqui era só barro, sempre tinha alguém que escorregava e isso não existe mais”, revela.
O processo criativo é inspirado no próprio ambiente das comunidades, cada uma em sua singularidade e vivência. A ideia começa lá junto aos moradores, em um bate-papo cheio de identidade, representação e expectativa por melhorias e mudanças. É justamente aqui que a arte aparece como elemento de afirmação de um lugar organizado, estruturado e seguro.
“Procuramos retratar muito o espaço em si. Antes de criamos o desenho, vamos estudar o local e também escutamos a preferência de cada morador, alguns optam por paisagens, outros esportes por exemplo. É incrível a mudança, eles se sentem mais importantes e ouvidos de fato, suas necessidades e vontades. A arte é uma forma muito positiva de elevar a autoestima dessas comunidades”, avalia o artista plástico e autor das obras nas grotas de Maceió, Ítalo Carlos.
Urbanismo + social
Desde que foi criado, em 2016, com a proposta de transformar a infraestrutura e mobilidade nas comunidades da capital alagoana, o programa Pequenas Obras, Grandes Mudanças, agora Vida Nova nas Grotas, tinha na sua essência um objetivo principal: resgatar a dignidade. De lá pra cá, o projeto se expandiu ganhando apoio de outros segmentos e junto com ele cresceu também a vontade de elevar a autoestima dos moradores por meio de um planejamento urbano mais social.
“As obras de mobilidade conseguem requalificar os espaços, mas mais que isso retoma a qualidade de vida destes moradores, que agora conseguem criar uma identidade própria. Os desenhos urbanos têm essa força de pertencimento. Nos lugares que antes não tinha nada, agora encontramos comunidades tomadas por artes, praças, quadras de esporte”, evidencia a superintendente especial de Transporte e Desenvolvimento Urbano da Setrand, Andreia Estevam.
Vida Nova nas Grotas
Presente em 26 comunidades da capital alagoana, o programa Vida Nova nas Grotas avançou, em julho deste ano, com mais uma conquista: a oficialização da parceria entre o Governo de Alagoas e as Organizações das Nações Unidas para Assentamentos Urbanos (ONU Habitat).
Os serviços de mobilidade urbana já contabilizam mais de 10,7 quilômetros só de escadarias executadas e 16,5 mil m² lineares de passeio realizados até o momento. Para completar as melhorias na infraestrutura foram ainda construídos 15.846,86 metros lineares de corrimão e 198,85 metros de pontilhão, além de 1.963,16 metros lineares de muro de contenção e 6.212,57 metros de meio-fio.
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