por Edson Moura
Sabe aquele funcionário exemplar, que merecia ganhar reconhecimento todos os meses com quadro na parede? Esse é Julio Silveira, gerente da concessionária Ford Cycosa em Maceió que completou esta semana 53 anos de carreira na empresa.
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Quando foi contratado, no dia 1º de julho de 1968, era um jovem de apenas 15 anos, e já trabalhava no Lions Clube Pajuçara desde os 12, algo muito comum na época.
A disposição daquele jovem cobrador chamou atenção dos irmãos Cyro e Geraldo titulares da concessionária Cyro & Accioli Ltda, que à epoca representavam a Willys-Overland do Brasil, e que posteriormente se tornou Ford Cycosa.
“Todo mês eu ia até a concessionária para receber o pagamento para o Lions Clube e certa ocasião eles me perguntaram se eu gostaria de ser cobrador da empresa. Aceitei o convite e passei a ser cobrador da loja com carteira assinada. Naquela época era comum cobrar a ordem de serviço posteriormente ao cliente.” – contou Julio.
Crescimento na empresa
Pouco tempo após ser contratado como cobrador, Julio foi promovido à faturista, outro emprego comum na época e que emitia as várias vias de notas para cobrança dos clientes. Em pouco tempo ele foi promovido à operador de caixa, função que exerceu até 1975, época que a loja ainda era localizada no centro de Maceió.
“Permaneci como caixa da Cycosa de 1968 a 1975 quando a Cycosa deixou o centro e se estabeleceu na moderna sede na Avenida Fernandes Lima, onde funciona até hoje. Foi aí que o Galba, titular da empresa, disse Julio eu não quero mais você como caixa, quero que você seja encarregado de venda de consórcio, foi aí que continuei subindo na empresa.” – disse Julio.
Depois de assumir a venda de consórcio, Julio recebeu o convite para se tornar Gerente em 1977, função que exerceu pela primeira vez até 1986, ano que asssumiu a gerência da venda de caminhões por mais 3 anos. Em 1989 retornou para a venda de veículos novos onde está até hoje, 2021.
“Eu me orgulho em dizer que vendi até a 4ª geração da mesma família. Ao longo desses anos na nossa função de vendas a gente sempre tem que matar um leão por dia. Eu já enfrentei muitos desafios no segmento. Os momentos aconteceram mas foram sempre suplantados. Considero que tenho uma carreira bem vitoriosa.” afirmou.
Aposentadoria
Com 68 anos de idade e 53 de carteira assinada, Julio já poderia estar em casa, aposentado, mas preferiu continuar na ativa para manter sua qualidade de vida.
“Eu já sou aposentado de fato há 15 anos, mas é muito dicífil viver só com a aposentadoria. O que eu anho como aposentado do INSS não dá para pagar nem o plano de saúde meu e da minha esposa. Então a continuação no trabalho foi uma condição para continuar vivendo com mais tranquilidade. Além disso, mesmo aposentado, sempre continuei bem ativo e disposto ao trabalho.” – explicou Julio.
Inflação, planos econômicos e Autolatina
Com tanto tempo no segmento, Julio enfrentou várias fases econômicas da industria automotiva. Ele lembrou por exemplo a inflação dos anos 80 e 90 em que os carros eram reajustados várias vezes no mesmo mês:
“Nós tivemos momentos difícieis como o de inflação alta. Nessas épocas o automóvel chegava a subir duas a três vezes no mesmo mês. Assim não era nem possível dar um prazo para o cliente pagar de 30 dias porque a inflação era tão alta que quando você quando recebesse aquela importância não dava nem para manter o seu estoque.” – lembra Julio
Julio também lembrou a não tão boa parceria entre Ford e Volkswagen na década de 90 que criou a Autolatina:
“Passei também pela Autolatina que foi uma associação entre Ford e Volkswagen que não foi muito sucesso. A planta da Autolatina produzia modelos para as duas marcas, mas com nomes diferentes. Por exemplo a gente tinha na Ford o Versailles e a Volkswagen tinha o Santana, entre outros modelos. Mas realmente para a Ford não foi muito bom porque ela era minoritária na participação.” – explica.
Fim da fabricação da Ford no Brasil
No dia 11 de janeiro de 2021 um anúncio da Ford pegou de supresa o mercado, os clientes e todos os mais de 300 concessionários de todo o Brasil: a marca fecharia todas as suas fábricas e passaria a ser importadora. Ninguém parecia acreditar que uma das 4 maiores montadoras nacionais pudesse fechar as portas de uma hora para outra.
“Foi um golpe muito grande. Aqui em Alagoas o Ford Ka era líder disparado de vendas. Enquanto no Brasil o market share (participação do mercado) da Ford no Brasil era de 7 a 8% e aqui era de 16 a 18% de participação. Algo impressionante. Infelizmente de uma hora para outra a compahia decidiu paralisar a fabricação.” – disse Julio
Ford Cycosa encerra atividades após 71 anos
Após o fechando das fábricas foi preciso reduzir a rede de concessionários de 300 para cerca de 100 concessionários para vender os modelos importados. Assim várias concessionárias estão fechando as portas, entre elas a Cycosa que encerra suas atividades após 71 anos no final deste mês. Julio explica que a decisão foi muito difícil mas que a Ford não deixou opções para a Cycosa.
“Aqui em Alagos o primeiro critério da Ford era continuar com a Cycosa. Mas para os que vão ficar não houve indenização. A indenização é baseada pelo tempo da concessionária, participação do mercado e faturamento mensal. Assim não fazia sentido abrir mão de todo o passado da empresa. Não houve escolha para a gente.” – concluiu Julio
Encerrando o ciclo
Em grande parte desses 53 anos de mercado, Julio conquistou gerações de clientes, formou e ajudou centenas de profissionais e passou essa paixão até para os filhos que continuam no segmento:
“Eu tenho no segmento os filhos o Julinho, gerente da Hyundai Cycosa e o Eduardo da Cycosa Corretora de Seguros, empresa que vai continuar operando.”
No dia que completou 53 anos de casa, ele recebeu mais uma placa de reconhecimento. Com o fechamento da Ford Cycosa, Julio encerra seu ciclo na empresa, mas não no segmento automotivo de Alagoas. Ele deve ter o 2º registro na carteira de trabalho em breve.
“Só tenho a agradecer a Deus, aos titulares que confiaram no meu trabalho e aos clientes que nos honraram muito. Eu sou muito grato!” – agradeceu.
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