Fincada no coração da maior cidade canadense, a King Street é uma dessas ruas compridas, sombreadas por arranha-céus, com seus restaurantes, grifes e pubs genéricos no térreo que sulcam qualquer metrópole da América anglo-saxônica.
A poucas horas de começar o Festival de Toronto, uma das principais mostras de cinema do mundo, os seguranças começavam a instalar grades de ferro na via para fechar o tráfego de carros e separar a multidão de curiosos, nas calçadas, das celebridades hollywoodianas, que desfilarão pela rua.
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Neste ano, nenhuma delas desembarcará com tamanho fuzuê quanto Lady Gaga.
A cantora de 32 anos se despiu dos figurinos extravagantes para se expor de cara lavada como atriz em "Nasce uma Estrela", terceiro remake da obra que já teve Janet Gaynor, Judy Garland e Barbra Streisand no elenco. Após estrear sob burburinho no Festival de Veneza, no fim de semana passado, o filme chega a Toronto com pinta de Oscar.
A Variety, principal publicação de cinema, crava que os membros da Academia estão entusiasmadíssimos com essa nova versão da obra, dirigida pelo ator Bradley Cooper, que também protagoniza o longa. A história gira em torno de um músico alcoólatra (Cooper), que se afeiçoa a uma cantora novata (Gaga) e vê a própria carreira declinar enquanto a dela decola.
Em comparação com as anteriores, o roteiro da nova versão dá ainda mais destaque à curva descendente do protagonista masculino. Já os números musicais de Gaga são elogiados como alguns dos pontos altos da trama.
A revista Variety mal se contém: "[A produção] tem a musculatura para conseguir o que só três filmes na história conseguiram: ganhar as cinco maiores estatuetas (filme, diretor, ator, atriz e roteiro)". Os tais três são "Aconteceu Naquela Noite" (1934), "Um Estranho no Ninho" (1975) e "O Silêncio dos Inocentes" (1991).
"Nasce uma Estrela" vai entrar em circuito brasileiro no dia 11 de outubro.
Quem pode embolar a estatueta tida já como certa para Cooper é o veterano Robert Redford, 82, que deve vir ao Canadá pela última vez como ator. Ele anunciou que "The Old Man & The Gun" será seu filme derradeiro como intérprete, o que pode fazer a Academia olhar com atenção especial à sua performance como um velho bandido.
Nos corredores do festival, comenta-se que a sessão de gala do longa, marcada para a noite da próxima segunda-feira, deve ser concorrida. A expectativa é de que haja algum discurso emotivo por parte de Redford, ator central da geração chamada de Nova Hollywood, que subverteu a produção americana a partir dos anos 1960.
Outro tiro certo no Oscar que passará pela King Street é "Roma", do mexicano Alfonso Cuarón, produção da Netflix. Rodado em preto e branco, com um esteticismo que comove a Academia, e sem nomes conhecidos no elenco, aborda uma família mexicana de classe média que, como é comum na cultura latino-americana, nutre uma relação de proximidade e exploração com a empregada da casa.
Membro da Academia, um produtor que conversou com a reportagem afirma que a obra de Cuarón é hoje a favorita na categoria de melhor longa em língua estrangeira.
O rebuliço causado pelo prêmio hollywoodiano é o maior chamariz do Festival de Toronto. Como ele ocorre numa cidade próxima ao território americano e numa época em que começam a ser lançados os filmes com cacife para competir no ano que vem, o evento é tido como a largada do Oscar.
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