David Uip: Fake news também são um problema de saúde pública

Publicado em 24/04/2018, às 19h54

Por Redação


Se a natureza falsa de uma informação falsa já é, por si só, capaz de produzir efeitos deletérios por meio de notícias falsas, a situação se agrava quando envolve saúde. O infectologista David Uip chamou a atenção para as consequência da proliferação de fake news na área de saúde no Fórum Amarelas Ao Vivo, promovido por VEJA, nesta terça-feira, em São Paulo.

“Toda notícia falsa gera falsas esperanças e muitas pessoas descreditam no tratamento, deixando de tomar os medicamentos”, disse ao comentar sobre a gravidade das mentiras relacionadas à Aids, sua área de especialidade, em entrevista conduzida pela editora Adriana Dias Lopes. O resultado final dessa equação é a morte.

Secretário da Saúde de São Paulo até esta terça, quando transmitiu o cargo que ocupava desde 2013, contou que as fake news também atrapalharam a campanha de vacinação de febre amarela em meio a um surto da doença, quando informações erradas sobre o imunizante afastaram o público dos postos de saúde. “Muita gente deixou de tomar a vacina da febre amarela baseado em informações incorretas”.

Para ele, a melhor prevenção para este mal é a transparência e informação verdadeira. Uip citou que prefere atender paciente que chegue ao seu consultório com alguma informação, ainda que não seja a mais adequada, pois tem a chance de indicar fontes confiáveis de informação. Se alguém pede que uma informação imprecisa seja divulgada, prefere ficar em silêncio.

Médico de celebridades e políticos, ele lembrou com bem sucedida a forma como sua equipe lidou com a imprensa durante o tratamento de um câncer que vitimou o ex-governador Mario Covas (PSDB). “Quando Covas percebeu a gravidade da doença ele me chamou para ser o porta-voz do governo e da família. Tudo foi absolutamente transparente. Não negávamos uma informação”, lembrou, citando que chegou a morar em um quarto do lado do tucano pare cessar qualquer boato.

Ele compara o caso de Covas com o oposto do que aconteceu na cobertura da doença de Tancredo Neves. “Ele morreu no dia que foi anunciado, mas não tinha diverticulite. Ele tinha um tumor benigno que infectou”. Eram outros tempos, em que todos faziam silêncio em relação à doença do político mineiro, eleito para ser presidente do Brasil. “Dava desespero de ouvir o radio porque não era o paciente que eu havia deixado.”

Ele brinca ao dizer que também está sujeito a notícias falsas e lembra que cresceu ouvindo dizer que manga com leite dá congestão – o que não é verdade, mas até hoje evita a mistura. “Pegou”. Mesmo em sua casa, quando era secretário, chegou a ser cobrado a tomar providências sobre casos de febre amarela com base em um entrevista de uma falsa professora de medicina. “Era algo muito bem feito”.


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