Cultivar bactérias do intestino promove saúde e longevidade

Publicado em 26/05/2024, às 16h33
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Por Luiz Paulo Souza/Folhapress

A maioria das pessoas só conhecem fungos e bactérias como causadores de infecções e doenças, mas a relação deles com os seres humanos é mais profunda. O médico americano William Davis, por meio de seu novo livro "Super Intestino", conta como funciona essa relação.

A obra explora a ligação entre o estilo de vida e o microbioma – conjunto de microrganismos que vivem no corpo humano. A proposta do autor é que a restauração de bactérias boas no intestino pode melhorar a saúde, o humor, a aparência e promover longevidade.

Baseado em trabalhos científicos, Davis cita diversos microrganismos que deveriam ser priorizados para uma melhor saúde, mas a estrela do livro é a bactéria Lactobacillus Reuteri. Ela está presente no trato gastrointestinal de populações nativas que vivem mais próximas à natureza, mas está desaparecendo em civilizações urbanas.

A presença da L. reuteri ajuda no controle de bactérias nocivas e promove a liberação de ocitocina, substância conhecida como hormônio do amor e da empatia, capaz de tornar as relações sociais mais positivas. Sua presença no microbioma também está relacionada a uma melhor cicatrização, aumento da libido, da saúde óssea e aparência da pele.

Ao longo da obra, o médico mostra como seres humanos perderam esses microrganismos. A resposta está no estilo de vida que envolve, entre outras questões, o consumo de antibióticos e ultraprocessados, a falta de fibras na dieta e a presença de resquícios de defensivos agrícolas nos alimentos.

Davis é cardiologista, mas passou a investigar a forma com a alimentação interfere na saúde ao perceber que os remédios para doenças cardíacas não estavam diminuindo a taxa de pessoas vivendo com essa condição nos Estados Unidos.

"Entre as 330 milhões de pessoas vivendo aqui [nos EUA], mais de 80 milhões tomam estatina e remédios para colesterol, mas quase não houve diminuição das doenças cardíacas", disse o médico à Folha. "Eu queria respostas melhores, especialmente depois que a minha mãe morreu de problemas cardíacos, mesmo após passar por uma angioplastia coronariana bem sucedida"

Em seu primeiro livro, o best seller "Barriga de Trigo", publicado em 2011, Davis aponta o alto do consumo de trigo, arroz, aveia e derivados como grandes vilões das dietas modernas, sendo responsáveis por aumentar a inflamação do corpo, causar doenças intestinais e aumentar o número de casos de diabetes e outras doenças metabólicas, o que interfere diretamente na saúde do coração.

Além da restrição de trigo e cereais, ele começou a investigar o microbioma intestinal e descobriu que o impacto desses microrganismos na vida dos indivíduos poderia ser enorme.

As mudanças de estilo de vida nas últimas décadas fez com que a maioria das pessoas estivesse sujeita a disbiose, termo que designa o desequilíbrio do microbioma. Parte das pessoas desenvolvem uma forma mais grave dessa condição chamada Sibo (supercrescimento bacteriano do intestino delgado).

Nessa doença, as bactérias que deveriam crescer apenas no intestino grosso (parte final do trato gastrointestinal), também passam a crescer no intestino delgado.

A investigação feita por Davis mostrou que essa doença altera a digestão dos alimentos, causa desconforto intestinal e permite que toxinas bacterianas que afetam os órgãos e o humor entrem na corrente sanguínea. Se não tratada, a condição pode favorecer distúrbios de humor, doenças metabólicas como a diabetes e doenças autoimunes como a artrite reumatoide.

Questionado sobre o porquê da medicina ignorar essa doença e a importância da microbiota, Davis afirma que os estudos que investigam mais seriamente o papel das bactérias na nossa saúde são muito recentes e que os avanços têm acontecido muito rapidamente, mas que a maior parte dos médico, em especial aqueles com mais tempo de atuação, ainda não se atualizaram a respeito das descobertas mais recentes.

Ele diz ainda que o diagnóstico do Sibo é difícil, visto que o intestino delgado é uma porção do trato gastrointestinal de difícil acesso – esse sistema possui cerca de nove metros de comprimento.

Davis apresenta planos de quatro semanas para tratar a disbiose e o Sibo, restaurar os bons microrganismos e manter o intestino saudável. Suas propostas variam entre simples e ambiciosas, onde os adeptos devem consumir legumes, vegetais, chás e alimentos fermentados, como kefir e kombucha, ou até mesmo eliminar completamente o trigo e o arroz da dieta e consumir apenas alimentos orgânicos.

O médico reconhece que não é fácil seguir todas as recomendações. Em populações como a do Brasil, alimentos como o arroz são indispensáveis e o preço dos orgânicos é muito alto. "Não acho que ninguém no mundo moderno consegue comer de maneira perfeita", diz. "O que a gente deve fazer é minimizar a exposição."

Segundo Davis, filtrar a água com carvão ativo para remover cloro e resíduos agrícolas, comer alimentos naturais ou minimamente processados, fazer exercícios físicos e ingerir alimentos fermentados todos os dias são boas formas de começar.

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