Prestes a completar duas semanas, a novela da troca de balões entre as duas Coreias ganhou um novo capítulo nesta segunda-feira (10), quando Pyongyang voltou a enviar centenas de infláveis com lixo para o Sul, segundo o Exército sul-coreano.
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A ação acontece um dia depois de Kim Yo-jong, influente irmã do líder norte-coreano, ameaçar Seul com uma nova ação em resposta às transmissões de propaganda da Coreia do Sul em alto-falantes na fronteira -que, por sua vez, são uma retaliação ao envio de lixo por meio de balões por parte do regime da Coreia do Norte.
Yo-jong afirmou em um comunicado desta segunda que a Coreia do Sul "sofrerá o amargo constrangimento de recolher papel usado sem descanso". "Essa será sua tarefa diária", afirmou a porta-voz do regime.
De acordo com o Exército sul-coreano, o vento prejudicou a última operação de Pyongyang. "Enviaram mais de 310 balões, mas muitos deles voaram na direção da Coreia do Norte", afirmou o comandante do Estado-Maior. Quase 50, que levavam resíduos de papel e plástico, atingiram o território sul-coreano, segundo Seul.
Os envios não cessaram durante o fim de semana. No sábado (8), a Coreia do Norte lançou cerca de 330 balões com lixo, dos quais 80 pousaram no Sul, de acordo com o Exército.
Nesta segunda, além dos infláveis, a Coreia do Norte parecia instalar seus próprios alto-falantes para propaganda na fronteira, disseram chefes do Estado-Maior sul-coreano. Seul, porém, não pretende operar os seus nesta segunda, de acordo com os militares.
Quando enviou, há quase duas semanas, a primeira leva de balões com panfletos políticos, lixo e até esterco, Pyongyang afirmou que respondia a uma ação semelhante de ativistas sul-coreanos, que costumam enviar dinheiro, remédios e pen drives carregados com o genêro musical sul-coreano k-pop pela fronteira.
Na última quinta-feira (6), o Fighters For Free North Korea (Combatentes pela Coreia do Norte Livre), grupo conhecido pela estratégia de enviar objetos à população do norte por meio de infláveis de gás hélio, desafiou Pyongyang ao enviar dez balões carregando 200 mil panfletos, 5.000 pen drives com k-pop e dramas coreanos e 2.000 notas de um dólar.
As ações, que remontam aos primeiros anos do pós-Guerra da Coreia, quando as nações tentavam influenciar uma a outra com esse tipo de estratégia, foram chamadas por Yo-jong de "guerra psicológica" em um comunicado divulgado neste domingo (9) pela agência estatal de notícias norte-coreana KCNA.
As provocações, no entanto, parecem não avançar para algo mais sério. "Até o momento, não vimos nenhum movimento especial por parte do Exército norte-coreano", disse um oficial do Estado-Maior sul-coreano. "Mas, em qualquer caso, o Exército responderá de modo suficiente a qualquer nova contramedida."
A resposta mais contundente até agora foi a interrupção de um acordo militar entre as duas Coreias. Na semana passada, o presidente da Coreia do Sul, Yoon Suk Yeol, anunciou que iria suspender o texto assinado nas históricas reuniões entre os dois países em 2018. O acordo pretendia reduzir as tensões e evitar uma escalada militar entre as Coreias, em armistício desde o fim da guerra que dividiu a península, em 1953.
O pacto, porém, já estava debilitado -no ano passado, Seul o suspendeu parcialmente quando a Coreia do Norte colocou um satélite espião em órbita, ao que o regime de Kim Jong-un respondeu com completo rompimento.
A paralisação permite que a Coreia do Sul retome os exercícios de tiro e as campanhas de propaganda contra o regime do Norte, como as realizadas com alto-falantes na fronteira. A medida enfureceu Pyongyang, que alertou que Seul estava criando uma "nova crise".
Para Kim Dong-yub, professor na Universidade de Estudos da Coreia do Norte em Seul, o comunicado da irmã de Kim mostra que Pyongyang "levanta a voz para culpar a Coreia do Sul pela situação atual e, também, para justificar sua provocação". Segundo ele, a escalada poderia causar pânico na Coreia do Sul, onde a população acredita estar sob ataque biológico.
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