Coral-sol: espécies invasoras são registradas pela 1ª vez no mar de AL e podem trazer riscos; entenda

Publicado em 27/03/2022, às 17h30
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Por TNH1 com pesquisadores da Ufal

O coral Tubastraea tagusensis, conhecido popularmente como Coral-sol, é considerado uma espécie invasora no Brasil. Ele é nativo do oceano Indo-Pacífico e foi introduzido na costa brasileira na década de 80. Registrado primeiramente em plataformas de petróleo e depois em costões rochosos no Rio de Janeiro, o coral se expandiu para vários estados como São Paulo, Santa Catarina, Sergipe, Bahia, Espírito Santo, Rio Grande do Norte, Pernambuco e Ceará. Na última semana, ele foi encontrado pela primeira vez em Alagoas.

De acordo com o professor Cláudio Sampaio, da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), os corais são facilmente reconhecidos devido ao seu colorido vibrante e pelo formato alongado dos seus pólipos. A espécie registrada em Alagoas foi T. tagusensis possui cor amarelada e pólipos mais projetados e espaçados.

"Eles são coloridos e possuem pólipos coloridos e belos, mas essa beleza esconde uma espécie invasora que compete por espaço e comida com organismos nativos e muitas vezes só encontrados no litoral brasileiro. Como possuem altas taxas de crescimento e reprodução, podendo habitar águas rasas e profundas e apenas um pequeno predador em águas nacionais, o Coral-sol consegue ocupar muitas áreas construídas pelo homem, como portos, boias de sinalização náutica, marinas, naufrágios e lixo submerso, além de ambientes naturais, como costões rochosos e recifes de coral. Quando ele começa a crescer, geralmente costuma dominar o ambiente, reduzindo as espécies nativas e modificando o comportamento de peixes, além de deixar o local monótono, com apenas ela dominando", disse ao TNH1.

"Esses fatos causam impactos ecológicos, com redução de espécies nativas e alteração do comportamento dos peixes, e econômicos, pois os peixes podem buscar por áreas não invadidas pelo Coral-sol, prejudicando a pesca e os turistas perderem o interesse por ambientes homogêneos, sem diversidade. Como a pesca e o turismo são atividades econômicas importantes para Alagoas, há o risco de prejuízo", continuou Sampaio.

Coral Sol, Tubastraea tagusensis, recentemente registrado em Alagoas (Crédito: Cláudio Sampaio/Ufal)
Através da campanha de ciência cidadã, que vem sendo desenvolvida há mais de seis anos pelo Laboratório de Ictiologia e Conservação da Ufal e o projeto Corais do Brasil, foram recebidas imagens do naufrágio Itapagé, no município de Jequiá da Praia, Litoral Sul de Alagoas, enviadas por mergulhadores recreativos e pela escola e operadora de mergulho EcoScuba, onde colônias do Coral-sol foram observadas.

Veja vídeo:

Uma equipe de pesquisadores da Ufal, Programa de Pós-Graduação Diversidade Biológica e Conservação dos Trópicos da UFAL, Projeto Corais do Brasil e ICMBio/ Reserva Extrativista Marinha da Lagoa de Jequiá realizou mergulhos científicos no último dia 23 para iniciar ações de remoção de colônias para controle da invasão no naufrágio.

Pesquisadores retornando do primeiro mergulho no naufrágio do Itapagé (Crédito: Cláudio Sampaio/Ufal)

Durante os mergulhos, a equipe registrou milhares de colônias espalhadas pela estrutura do histórico Itapagé, e durante 15 minutos removeu 53 colônias de Coral Sol. Ao todo, 1.377 pólipos e, aproximadamente 2,5 kg, a maior colônia possuía 99 pólipos e 11 cm de diâmetro, foram retirados.

Grandes e numerosas colônias do Coral Sol no naufrágio do Itapagé (Crédito: Cláudio Sampaio/Ufal)

Através da análise das colônias de maior diâmetro, foi possível estimar a idade delas e consequentemente, o início da invasão no naufrágio, que provavelmente ocorreu em um período de não menos de 3 anos, indicando a possibilidade de que o Coral-sol já esteja em outros naufrágios, boias e recifes do litoral sul de Alagoas.

"Antes de seu registro confirmado para Alagoas, estávamos alertando sobre a necessidade de implementar programas de monitoramento sistemático, para detectar a presença desse coral invasor em suas primeiras fases, quando ele ainda estava se estabelecendo e com poucas colônias ainda, facilitando seu controle e até mesmo a erradicação. Contudo, no domingo passado recebemos fotos feitas por mergulhadores recreativos e pela operadora de mergulho EcoScuba", afirmou o professor.

Ainda de acordo com a Ufal, o naufrágio Itapagé está localizado próximo à Praia da Lagoa Azeda e dos limites da Resex Marinha da Lagoa de Jequiá, destacando o elevado risco para a biodiversidade e economia da região, especialmente para os recifes de coral do litoral Sul de Alagoas, ainda poucos conhecidos pela ciência.

"Quando recebemos as fotos, observamos a presença do Coral-sol e rapidamente organizamos uma expedição, que envolveu mergulho cientifico e diversos pesquisadores para confirmar a presença e realizar as primeiras ações de manejo. Agora que o Coral-sol se estabeleceu no naufrágio Itapagé, localizado em Jequiá da Praia, será necessário um programa oficial de monitoramento e manejo, para que novas áreas não sejam contaminadas. Essas ações não são simples ou baratas, pois envolvem divulgação cientifica, mergulhos e pessoal capacitado, mas acreditamos que com o envolvimento dos órgãos públicos competentes, juntamente com a UFAL, ONGs e operadoras de mergulho seja possível reduzir os prejuízos", destacou.

Impactos - Segundo a Ufal, o Coral-sol tem causado impactos, reduzindo a biodiversidade e deixado os recifes menos coloridos e atraentes. "Cabe destacar que os recifes brasileiros possuem poucas espécies de corais construtores, mas quase todos são exclusivos, não existindo em nenhuma outra parte do planeta e a chegada do Coral Sol em Alagoas, Estado com grandes áreas recifais importantes para a economia, através da pesca e turismo, é extremamente preocupante", disse Cláudio Sampaio.

"Um artigo científico está sendo redigido para publicação em revista científica internacional, para alertar a comunidade acadêmica e os gestores públicos sobre o primeiro registro deste invasor na região e sobre a importância das medidas de prevenção contra espécies invasoras em Alagoas", acrescentou.

Desafios da remoção - Por apresentarem altas taxas de crescimento, reprodução e regeneração, além de conseguirem se estabelecer em grandes profundidades (60 m) e diferentes tipos de ambientes marinhos e até estuarinos, as ações de remoção das colônias para controle da bioinvasão são desafiadoras.

Grande número de pequenas colônias, demonstrando rápido crescimento, no naufrágio do Itapagé (Crédito: Cláudio Sampaio/Ufal)

"As operações de combate ao Coral Sol são complexas e precisam ser conduzidas de maneira contínua, o que demanda um aporte significativo de recursos financeiros e humanos. Ações de controle do Coral Sol vem sendo realizados em diversos locais da costa brasileira, como na região sudeste (Rio de Janeiro, São Paulo e Santa Catarina) e nordeste (Rio Grande do Norte, Pernambuco e Bahia) e já existem evidências de sucesso na redução desses invasores quando o manejo é feito de maneira adequada e contínua. Em Alagoas é urgente que ações de controle sejam intensificadas imediatamente, por se tratar do início do processo de invasão, onde a distribuição do Coral Sol ainda é restrita e o manejo pode ser mais eficiente", finalizou Sampaio.

Caso a população observe o Coral-sol em Alagoas, a Ufal solicita que entre em contato pelo WhatsApp 82 99654 5349.

(Cláudio Sampaio/Ufal)
(Cláudio Sampaio/Ufal)
(Cláudio Sampaio/Ufal)

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