O São João de Maceió já começou, com força total, e estará presente nas ruas da cidade até o fim deste mês de junho, em uma série de ações realizadas e apoiadas pela Prefeitura, por meio da Fundação Municipal de Ação Cultural (Fmac). Neste ano, na hora de escolher a temática dos festejos, decidiu-se por homenagear dois gigantes do forró tipicamente alagoano: Zé Mocó e Mestre Zinho.
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Era 1987 quando Erivan Alves de Almeida, o Mestre Zinho, estava à beira da morte, imobilizado em uma cama de hospital. Vítima de um acidente de carro, ele realmente teve muita sorte em escapar com vida. Ter resistido, ainda, no hospital, era improvável. Mas, mesmo assim, ele conseguiu. Em um daqueles dias, deitado à cama, a porta do seu quarto se abriu, e, ao abrir, ela revelou a figura imponente de um homem: era Luiz Gonzaga, o Rei do Baião em pessoa, que o visitava.
A visita não era surpresa, dado o tamanho de Zinho àquela época: em oito anos como cantor do grupo Os Três do Nordeste e com sete discos lançados, ele não só substituiu à altura Zé Cacau, que deixou a banda em 1979, como também levou o conjunto à melhor fase de sua longa existência.
Foi Luiz Gonzaga quem deu a Zinho o título de Mestre, com o qual seguiu com ele até o fim de sua carreira. O Rei do Baião, no quarto com Zinho, lhe disse: “depois de mim e de Lindu (vocalista do Trio Nordestino), você é o melhor cantor de forró vivo”. Pediu-lhe, ainda, que levasse em frente a bandeira do baião. Depois dali, Mestre Zinho, já recuperado, deixou o seu grupo, assinou com a Polygram e gravou seu primeiro disco solo, “Murro em ponta de faca”, de 1988. Com participação, inclusive, de Luiz Gonzaga na faixa “Forró Fum”.
A vida tentou, muitas vezes, colocar um ponto final em sua carreira. Além do acidente de carro na década de 80, Mestre Zinho teve um infarto e um derrame, no ano de 2008, que lhe custaram parte do movimento das mãos, mas nem isso lhe impediu de fazer música. Só parou mesmo em 2010, aos 67 anos, quando metástases decorrentes de um câncer na próstata, contra o qual lutava já há quatro anos, forçaram-no a tal.
Quando se pensa nesta figura, imediatamente se pensa nesta anedota com Luiz Gonzaga, ou em suas parcerias com Dominguinhos, que também gravou suas sanfonas no disco de estreia do Mestre, com Elba Ramalho, que gravou “Agora é sua vez”, uma composição sua, com Ney Matogrosso, que fez uma versão marcante para a faixa “Pra virar lobisomem”, também de Mestre Zinho, e com muitos outros artistas. Pensa-se muito em Mestre Zinho, o personagem, e muito pouco Erivan Alves de Almeida, o homem.
O homem que nasceu em Rio Largo e cresceu em um universo difícil e de poucas oportunidades. O homem que descobriu a música no seio da cultura popular, brincando de Chegança, tradicional folguedo alagoano, em sua cidade natal. Antes de ser mestre, o Zinho trabalhou numa fábrica de tecidos como tecelão, cantou em todas as casas da noite maceioense que lhe abriram as portas e participou de festivais na Rádio Gazeta e na Rádio Difusora. Até puxador de samba enredo ele foi, pela escola Unidos do Poço.
Mestre Zinho batalhou muito e sofreu em muitas de suas batalhas. Tocou em inúmeras portas de loja, de cinema e em cima de caminhões na capital alagoana antes da oportunidade lhe surgir à porta e ele se tornar o rosto d’Os Três do Nordeste. Bem antes da Polygram, Mestre Zinho não era mestre: era só neto de um. Erivan apaixonou-se pelo forró vendo tocar seu avô, o Mestre Bruno, sanfoneiro que dominava a sanfona de 8 baixos, um instrumento quase que em extinção, mesmo no coração do Nordeste, onde melhor se desenvolveu. Ele era um menino simples, crescido num lugar simples, e que jamais o deixou de ser.
Gonzagão não estava errado quando disse que ele era, além de o melhor cantor de forró vivo, seu sucessor. Mas esqueceu, ou talvez só não tenha percebido à época, que Mestre Zinho era, ainda, muito mais.
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