Quando o árbitro decretou o fim de Sport 2x1 Ponte Preta, resultado que confirmou o acesso do Leão à Série A, um mar de rubro-negros tomou conta do gramado da Ilha do Retiro para celebrar o feito. Enquanto uns se penduravam na barra para retirar as redes, outros se digladiavam a fim de arrancar o uniforme dos jogadores a força, sob o pretexto de levar para casa uma recordação da histórica partida. Perto dali, uma cena protagonizada por uma senhora chamava a atenção. Trajada com a camisa de uma torcida organizada do Sport, Maria das Graças Alves de Lucena, de 65 anos, caminhava ajoelhada em direção à barra para agradecer às forças divinas pela volta do time à elite do futebol nacional. No momento em que fazia as suas preces, torcedores passavam por ela e a abraçavam, tudo sob os olhares atentos do fotógrafo Paullo Allmeida, responsável pelas imagens que mais simbolizam as comemorações pelo retorno da equipe da Praça da Bandeira à Primeira Divisão.
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Moradora do bairro da Torre, Zona Norte do Recife, Dona Graça começou a acompanhar futebol ainda na década de 1970, ano em que o Brasil foi tricampeão mundial. Desde então, passou a admirar os esportes mais de perto. Jogou futebol, handebol e, por pouco - por influência de um vizinho -, não virou alvirrubra. “A diversão antigamente era futebol, praia, Carnaval... Meu vizinho era torcedor do Náutico, e por conta dele comecei a fazer natação no clube, frequentar os Aflitos. Mas quando eu ia virar torcedora do Náutico, meu pai cortou logo o meu barato”, contou em tom descontraído.
A partir da negativa do pai, a então adolescente passou a frequentar a Ilha do Retiro. De lá para cá, já são mais de 200 jogos na bagagem, e conquistas como a de 1987 (Campeonato Brasileiro) e 2008 (Copa do Brasil) na memória. Hoje, Dona Graça integra a torcida organizada Leões Beer, fundada há quatro anos. Ela foi parar no grupo através do convite de uma amiga, há pouco mais de dois anos. “O pessoal gostou de mim, me entrosei rápido. Hoje em dia tenho camisa, chapéu, e me dou bem com todos eles.”
Na companhia dos membros da torcida, a leonina fanática não perde um jogo do seu time do coração. Na partida do acesso contra a Ponte Preta, garante que estava tranquila quando o Rubro-negro foi para o intervalo na desvantagem. Ela afirma que tinha certeza que o Sport subiria naquele jogo. "Quando a Ponte Preta fez o gol, eu avisei ao pessoal que estava comigo que iríamos virar. Eu estava com este sentimento, e acabou acontecendo o que eu falei”, falou ela, que havia feito uma promessa em caso de acesso da equipe.
“Eu havia planejado entrar em campo. Prometi que me ajoelharia no local onde se bate o pênalti e iria caminhando até a barra. Prometi isso à Nossa Senhora de Fátima. Acredito muito na força dela. Então, quando vi o pessoal entrando, aproveitei para entrar também. Minha sobrinha ficou gritando para eu não ir, mas falei: 'me deixa que eu vou entrar'. Saí correndo no meio do tumulto. Na hora que me ajoelhei, teve um rapaz que me abraçou, mas não fazia ideia de quem havia sido. Foi uma emoção muito grande. Falaram que teve arrastão no gramado, mas juro que não vi nada” relatou a pensionista, de volta ao palco do acesso a convite da Folha de Pernambuco.
Apesar de ter destacado a campanha do Sport na Série B como “sofrida”, Dona Graça afirmou que marcará presença em todos os jogos do clube em casa na próxima temporada. E, quando possível, em alguns fora. A torcedora aproveitou para dar um conselho à diretoria do clube e afirmou ter um sonho a ser cumprido. “Milton (Bivar) havia avisado que o clube deve muito. Mas eu tinha certeza que o Sport subiria, mesmo com o começo de campeonato irregular. Agora, para o ano que vem, acredito que será melhor. Temos que dar oportunidades aos nossos jogadores da base, que estão querendo mostrar serviço. Dá para beliscar uma vaguinha na Libertadores, tenho certeza. Tenho o sonho de, até eu completar meus 90 anos, ver o Sport campeão dessa competição e mais uma vez da Série A”, completou.
Mesmo com a invasão dos rubro-negros ao palco de jogo, o árbitro carioca João Batista de Arruda não registrou o ocorrido na súmula. Porém, o fato não descarta que o Leão possa ser punido pelo STJD com multas que variam entre R$ 100 e R$ 100 mil. De acordo com o Artigo 213 do Código Brasileiro de Justiça Desportiva (CBJD), o clube pode receber penalidades por desordens em sua praça de desporto, invasão de campo ou do local de disputa do evento desportivo, e lançamento de objetos no campo ou local da disputa do evento desportivo.
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