Representantes do poder público, da iniciativa privada e da sociedade civil estiveram reunidos em São Paulo nesta terça (20) e quarta-feira (21), durante a Conferência Ethos 360º, para debater alternativas de combate à desigualdade por meio de um crescimento econômico voltado para a inclusão e desenvolvimento social.
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O encontro apresentou 69 painéis que abordaram temas como a transparência em empresas privadas e órgãos públicos, combate à corrupção, mobilidade urbana, controle social, desenvolvimento sustentável, inclusão social, enfrentamento ao trabalho infantil e o combate às desigualdades sociais a partir de uma nova visão da economia.
Nesse sentido, de acordo com o diretor-presidente do Ethos, Jorge Abrahão, a conscientização das empresas privadas brasileiras quanto ao seu papel social é indispensável. "As empresas têm um papel chave na transformação do país. Elas precisam integrar nos seus processos e nos seus planejamentos estratégicos uma série de temas. É chegado o momento da gente ir além dos resultados financeiros. Eles são fundamentais para as empresas, mas temos que combinar esses resultados com o trabalho dela na inclusão social, nas questões do cuidado com o meio ambiente e que ela de alguma forma atue de uma maneira transparente e com integridade", observa Abrahão.
"A conferência serve justamente para discutir esses caminhos, como é que as empresas podem fazer isso, mostrando que isso tem um custo muito menor e tem um grande resultado na reputação e na perenização das empresas. Nesses dois dias, discutimos os caminhos, os desafios, os dilemas dessas empresas, mas estimulando o avanço delas nessas questões", explica o diretor-presidente do Ethos.
O secretário da Assistência e Desenvolvimento Social de Alagoas, Antônio Pinaud, acompanhou a Conferência Ethos 360º buscando aprofundar seu conhecimento sobre as estratégias atuais de diálogo entre os poder público e o setor privado em busca da melhoria dos índices sociais do Estado.
"Estamos vivenciando um momento sem igual na história dessa relação entre governo e empresários. A iniciativa privada tem os recursos e o poder público, os dados sobre os pontos mais frágeis da sociedade, sobre as populações mais vulneráveis. É hora de unir forças para alcançar resultados que contemplem essas empresas e tragam, ao mesmo tempo, um avanço social significativo, a partir de uma nova abordagem do crescimento econômico", avalia o secretário.
Desafios
Um dos principais palestrantes da Conferência Ethos 360º, o professor do Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São Paulo (USP), Ricardo Abramovay, alertou para a necessidade de uma nova lógica de mercado, a qual chamou de Economia Regenerativa. "O crescimento não é um fim em si. É um meio para o desenvolvimento sustentável. A economia é um instrumento e não são mais toleradas práticas predatórias. É preciso estimular uma economia regenerativa. O primeiro desafio é o da redução da desigualdade no mundo contemporâneo. O segundo é o desafio da inovação, com um investimento muito sério em educação", disse Abramovay.
"O Brasil precisa enfrentar as desigualdades sobre uma base diferente das que foram usadas anteriormente. Melhorar os ambientes onde se encontram as populações vulneráveis com o aumento da produtividade nas comunidades marginalizadas. A competitividade contemporânea passa pela capacidade de agregar valor, conhecimento, inteligência no que se faz. Precisamos trabalhar para ampliar a participação social no processo desenvolvimento econômico com a valorização população que se encontra na base das cadeias produtivas. A retomada do crescimento econômico deve ter um olhar cuidadoso para a desigualdade social", alerta o professor da USP.
Transparência
O debate sobre a transparência nas esferas pública e privada também recebeu destaque na Conferência Ethos 360º. Para o ex-ministro-chefe da Controladoria Geral da União (CGU) e professor da Escola Superior do Ministério Público do Distrito Federal, Jorge Hage, o Brasil registrou avanços nesse sentido nos últimos 15 anos, mas ainda se faz necessária a construção de mecanismos de integridade que sirvam para esses dois setores.
"O retrocesso é ainda mais grave do não dar novos passos que precisam ser dados. Há 15 anos não havia praticamente legislação nenhuma. Hoje temos a Lei de Responsabilidade Fiscal, o Sistema Integrado de Administração Financeira, o Conselho da Transparência Pública, a Lei de Acesso à Informação, o cadastro nacional empresas inidôneas, o controle do nepotismo, entre outros dispositivos. Temos também uma articulação entre órgãos do estado, Ministério Público, Polícia Federal, CGU e independência nas investigações que antes nem se imaginava", lembrou o ex-ministro da CGU.
"Por outro lado, ainda precisamos de uma reforma política que restrinja a proliferação de partidos políticos sem identidade e que defina o financiamento de campanhas eleitorais. Também existe uma carência de ações preventivas para casos envolvendo as estatais e que não se resolveram com o Estatuto Empresas Públicas e convivemos com o impasse entre as penalidade legais para empresas comprovadamente envolvidas em corrupção e a necessidade preservar os empregos e a experiência acumulada por essas empresas. É necessário encontrar soluções para essas questões ", disse Hage.
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