Na última sexta-feira, a Receita Federal apreendeu 1,039 tonelada de cocaína no Porto de Itaguaí, na Baía de Sepetiba, o equivalente a 75% das apreensões de cocaína em quase todo o ano de 2023 nos portos do estado. O entorpecente tinha como destino a Serra Leoa, na África Ocidental, e estava em meio a uma carga de argamassa para assentamento de azulejo. Só no ano passado, quatro operações deflagradas entre janeiro e outubro, apreenderam mais de 1,5 tonelada da droga dentro de fardos de café, latas de tinta, carga de minério e contêineres.
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Uma investigação da Polícia Federal e da Receita Federal mostrou que a maior facção do Rio e outro grupo criminoso de São Paulo vêm usando o Porto de Itaguaí, na Baía de Sepetiba, para enviar drogas trazidas, principalmente, do Peru e da Bolívia para a Europa, África e até Oceania. O esquema teria a participação de empresários que, em galpões perto do cais, escondem a droga junto a produtos em contêineres que serão exportados. Antes, a carga ilícita passa um tempo em favelas do Rio, cidade considerada entreposto do tráfico internacional.
No fim do ano passado, agentes federais prenderam um suspeito de integrar a organização criminosa e cumpriram 25 mandados de busca e apreensão um dia depois de a Polícia Militar apreender 900 quilos de maconha na Nova Holanda, no Complexo da Maré, que estariam na rota para exportação. A carga foi avaliada em R$ 21 milhões. A investigação desse esquema começou com a Operação Nephelos, realizada em abril de 2021, em Itaguaí — muito antes da implementação da Garantia da Lei e da Ordem (GLO) que tem como alvo impedir a passagem de armas e drogas por portos e aeroportos do Rio e de São Paulo.
Cocaína em toras
Em 2021, agentes da Receita Federal encontraram 342 quilos de cocaína escondidos em toras de madeira dentro de um contêiner. Foi a primeira apreensão de droga no porto, aberto em 1982, o que chamou a atenção da Polícia Federal. O cais já era alvo de investigações, segundo fontes da Receita, por ser utilizado como base para a prática de contrabando de produtos piratas. Antes, o tráfico usava mais o Porto do Rio para escoar a droga.
— Eles começam a fazer remessa da droga por um ponto e, quando percebem que a Receita está fazendo apreensões, mudam a rota. Foi o que aconteceu nos portos. Os navios em si não são objetos de fiscalização da Receita, então a gente tem que ter uma investigação prévia para localizar esses produtos — explicou Ewerson Augusto, auditor fiscal da Receita Federal.
As toras recheadas de cocaína iam para a Espanha e depois para a Eslovênia, pelo Mar Adriático. Essa rota vem sendo usada pela facção do Rio, mas é alvo de cobiça dos bandidos paulistas, que têm como alternativa ficar com os pontos no norte da Europa. Os empresários que integram o esquema também já tentaram enviar drogas em cargas de mangas, latas de tinta, minério, fardos de café e até aves congeladas.
Em quase três anos, de 2021 até outubro de 2023, foram 2,5 toneladas de cocaína encontradas pelo setor de inteligência da Divisão de Vigilância e Repressão ao Contrabando e Descaminho da Receita Federal nos portos do Rio e de Itaguaí. Só de janeiro a outubro, quatro operações descobriram uma tonelada de cocaína em Itaguaí, um aumento de 279% em relação a todo o ano passado. Nesse período, as ações não localizaram contrabando de armamento em Itaguaí. No entanto, no Porto do Rio, foram apreendidas 1.330 armas.
Para estancar esse comércio ilegal, o presidente Lula autorizou no início deste mês uma operação de Garantia da Lei e da Ordem (GLO) apenas em portos, aeroportos e nas baías de Guanabara e Sepetiba. Além dos militares, PF, Polícia Rodoviária Federal, Receita Federal e o Conselho de Controle de Atividades Financeiras estão atuando para impedir a entrada de armas e drogas no Rio e em São Paulo. A decisão do presidente foi tomada após a execução de três médicos por milicianos na Barra da Tijuca e o ataque a 35 ônibus, incendiados em Santa Cruz, na Zona Oeste do Rio.
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