Com nome de vilão da Marvel, nova espécie de dinossauro é descoberta em SP

Publicado em 04/12/2018, às 23h10
Reprodução exibe a aparência provável do dinossauro | Museu de Paleontologia Pedro Candolo/Divulgação
Reprodução exibe a aparência provável do dinossauro | Museu de Paleontologia Pedro Candolo/Divulgação

Por VEJA.com

Há cerca de 85 milhões de anos, uma criatura bípede de 5,5 metros de comprimento (distância entre o focinho e a cauda) e 600 quilos viveu na região noroeste do Estado de São Paulo. Era um dinossauro da família dos abelissaurídeos, logo carnívoro e um temido predador. Diante de tamanha truculência, a espécie – recentemente descoberta pela dupla de paleontólogos Rafael Delcourt (Unicamp) e Fabiano Iori (Museu de Paleontologia Pedro Candolo) – foi batizada de Thanos simonattoi, em homenagem ao supervilão Thanos, dos quadrinhos da Marvel Comics.

“‘Thanatos’ é uma palavra grega que significa ‘morte’, e se encaixa muito bem para um violento predador, como ele era. Essa é também a mesma origem do nome do vilão Thanos, da Marvel, de quem gosto bastante. Coleciono revistas em quadrinhos e quis homenagear esse lado nerd”, brinca Delcourt.

É a primeira vez que um dinossauro terópode (carnívoro), oriundo do período cretáceo (compreendido entre 145 milhões e 66 milhões de anos atrás, aproximadamente), é localizado na Região Sudeste do Brasil. Suas características únicas foram especificadas em um artigo assinado pela dupla Delcourt e Iori, na revista Historical Biology, publicado em novembro. O achado confere ainda mais importância científica a pequenas cidades como Monte Alto, Ibirá, Uchoa e Cedral, que ganham destaque definitivo para a paleontologia mundial.

Nesta quarta-feira, 5, os pesquisadores participarão de um evento para relatar suas descobertas no Museu de Paleontologia Pedro Candolo, em Uchoa. As vértebras originais ficarão alocadas no Museu de Palentologia de Monte Alto, mas réplicas devem permanecer expostas nos municípios vizinhos. Trata-se do ponto alto de uma história que remota à década de 60, quando foram iniciadas as buscas por fósseis na região.

Um dos maiores incentivadores dessas pesquisas foi Sérgio Luis Simonatto, dono de um sítio arqueológico e que também teve seu nome homenageado no batismo do Thanos simonattoi. Ele estabeleceu o primeiro contato com dinossauros logo na infância, brincando com dentes gigantes encontrados despretensiosamente. Em 1995, já adulto, foi creditado como um dos descobridores do primeiro fóssil da nova espécie, quando uma vértebra foi identificada em uma parede rochosa no município de Ibirá. Uma equipe de paleontólogos de Monte Alto tentou coletar amostras, porém teve o trabalho dificultado pelas características da vegetação.

Desde então, pesquisadores como o paleontólogo argentino Fernando Novas se interessaram pelo achado, que por seus aspectos já oferecia indícios da inédita descoberta de uma espécie carnívora na região. A tese ganhou força em 2014, quando uma forte ventania derrubou árvores e permitiu que a luz solar iluminasse o local, possibilitando o recolhimento do restante da vértebra.

Em 2016, a prefeitura de Uchoa fundou o Museu de Paleontologia Pedro Candolo, com a missão de coletar, preparar, expor e estudar os fósseis do próprio município, além de Ibirá e Cedral. Pesquisador da instituição, Fabiano Iori se uniu a Rafael Delcourt, da Unicamp, para analisar os materiais extraídos. Em 2018, finalmente a dupla confirmou que a vértebra possui elementos únicos e assim foi classificada a nova espécie.

A expectativa é que a região abrigue outros fósseis de dinossauros carnívoros, incluindo espécies de megaraptores já evidenciadas em escavações. “É uma área muito rica e bastante promissora. Já foram encontradas algumas vértebras que podem classificar novas espécies em breve, estamos em busca de mais materiais”, comenta Fabiano Iori.

“O Brasil abriga uma quantidade enorme de fósseis, mas é preciso investimento para que seja possível identificar outras novas espécies. Recentemente tivemos outros achados interessantes no Sul e Nordeste, além dessa região geológica no Estado de São Paulo, conhecida como Grupo Bauru, que tem muito a ser explorada”, finaliza Rafael Delcourt.

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