Enquanto estudiosos e pesquisadores ainda buscam desvendar as causas das rachaduras que ameaçam as residências do Pinheiro, moradores se apressam para deixar o bairro, e a movimentação de caminhões de mudança nas ruas é cada vez maior.
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Uma moradora, que não quis ser identificada, contou que o medo é um sentimento que tem tomado os residentes do Pinheiro. “Esse prédio não tem rachaduras, mas minha mudança sai amanhã. Não consigo ficar mais aqui. Ao redor está tudo condenado. Minha irmã mora na rua ao lado e não consegue mais dormir, com medo do que pode acontecer”, disse a moradora, enquanto trabalhadores carregavam a mudança de um vizinho até um caminhão.
Moradores convivem com o medo
No mesmo condomínio, outro morador conta que ainda não pode ir embora. “Sou proprietário do meu apartamento, não posso sair daqui sem ter alguma garantia de pra onde eu vou. A gente tenta se agarrar na fé de que não vai acontecer nada, sabe?”, relatou o homem.
Nas calçadas do Pinheiro, o assunto geral é a desocupação do bairro. Moradores que preferiram não ser identificados contaram que estão apreensivos quanto aos companheiros que não têm condições de realizar uma mudança e garantir moradia em outro lugar da capital.
“A gente lembra do desastre que aconteceu lá em Minas Gerais [Mariana-MG] e das famílias que perderam tudo e ficaram sem nenhum apoio. É muito difícil sentir medo e não saber o que fazer”, relatou uma moradora.
Na área demarcada pelos estudiosos como zona de risco, o pedido é de evacuação até o mês de março. “Provavelmente isso não aguenta o inverno não”, disse Adriano Lôbo, outro morador do bairro, enquanto colocava algumas malas de mudança dentro do carro.
“Eu tô programado pra sair neste fim de semana. O lugar que eu vou morar ainda tá todo bagunçado, eu ia fazer reforma, mas não dava pra esperar. O bairro como um todo eu não sei, mas esse prédio eu acredito que está condenado”, falou Adriano, apontando para o condomínio em que morou com a família durante os últimos anos, um dos mais atingidos pelas rachaduras.
Hamilton Quirino, que trabalha em um posto de gasolina no Pinheiro, conta que a cada dia vê mais caminhões de mudança saindo do bairro. “Quem tem condições já tá indo embora, a gente não sabe é como vai ficar os que não têm”, disse ele.
Moradores antigos relatam que fissuras sempre foram comuns no bairro, mas que começaram a assustar apenas depois dos abalos sísmicos.
Selma Gomes, que mora no Pinheiro há mais de 45 anos, conta que se sente desamparada sobre a sua situação de moradia. “Falam em rota de fuga, mas ninguém vem aqui explicar nada. A gente precisa ser ressarcida de alguma forma, mas aqui é Brasil... a gente vai ter que ficar com uma mão na frente e outra atrás”, lamenta.
Sem muitas esperanças, a dona de casa acha que pode não voltar mais para o Pinheiro. “Como eu não tenho leitura, não estudei, não fiz faculdade, só sei que depois que aqui abrir, não tem quem feche mais não, só Deus. Eu não tô com medo de ficar aqui não, eu tô apavorada”, disse a moradora.
*Estagiária sob supervisão da editoria
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