Clássico: torcedor relata momentos de pânico vividos no entorno do Rei Pelé

Publicado em 09/05/2016, às 16h56

Por Redação

As cenas de violência na final do Campeonato Alagoano impressionaram negativamente e ganharam as principais manchetes dos noticiários do país, nesse domingo (9). O bicampeonato conquistado pelo CRB foi manchado pela selvageria envolvendo torcedores do Galo e do CSA. Os espancamentos filmados dentro de campo foram o ápice das confusões iniciadas antes mesmo da bola rolar. Torcedor do CSA com presença frequente no estádio, Antonio Henrique Teixeira viveu momentos de pânico na chegada e saída do Rei Pelé. 

Por telefone, ele relatou ao PFC como tudo aconteceu. Acompanhado pelo pai, que dirigia o veículo, e outro familiar, menor de idade, Antonio seguia pela Avenida Siqueira Campos, quando foi orientado por agentes de trânsito a entrar na Rua Cabo Reis, e chegar ao Trapichão pela parte de trás, na rua Cel. José Francisco Vieira. O local, no entanto, era onde estava concentrada a torcida do CRB, visitante do jogo.  

"Por volta das quinze horas, estávamos dirigindo para o estacionamento do Rei Pelé, tínhamos comprado o bilhete antecipado justamente para evitar esse tipo de situação, queríamos o lugar mais tranquilo dentro do estádio. A SMTT foi nos desviando e terminamos pegando a rua de trás do estádio, foi quando demos de frente com a torcida do CRB. Fomos orientados por policiais da cavalaria a retirarmos a bandeira do CSA que estava exposta no carro. Seguimos e imediatamente retiramos nossas camisas também. Mesmo assim não tinha como voltar, mas seguimos em frente tentando evitar o máximo de contato, levantamos os vidros, mas infelizmente tinha adesivo no vidro do carro", contou. 

A visualização de um simples adesivo proporcionou de imediato a mudança de comportamento de alguns torcedores na rua, segundo Antonio. 

"O fluxo de pessoas estava muito grande. As pessoas começaram a observar que estávamos sem camisa e identificaram o carro pelo adesivo. Começaram com os insultos, a bater no carro, a jogar latas de cerveja, depredaram o carro, abriram a tampa da caçamba, bateram como se quisessem arrancar mesmo. Atiraram pedra, jogaram umas quatro pedras, uma delas quebrou um vidro de trás, onde eu estava. A pedra não caiu dentro do carro, mas estilhaçou o vidro", explicou.  

Apesar do vandalismo, nenhum membro da família se machucou. Antonio identificou alguns conhecidos torcedores do CRB que estavam perto da cena e pediu ajuda para conter o tumulto. Ele disse que a partir deste momento, os ânimos se acalmaram um pouco, o trânsito começou a fluir e pôde finalmente chegar à entrada do estacionamento. De acordo com o torcedor, em nenhum momento o policiamento esteve presente para evitar a situação. 

"Tinha uma cavalaria logo no começo, que nos alertou sobre a bandeira do CSA, mas não nos acompanhou no percusso até o estacionamento. Depois que saímos da confusão é que outra guarnição da cavalaria saiu da esquina da Siqueira Campos  e foi ver o que estava acontecendo" - comentou. 

Após o susto e a demora, Antonio e a família conseguiram acesso ao estacionamento porque apresentaram o bilhete do local e estavam com o carro danificado. A reportagem do PFC presenciou cenas de desordem na entrada do Rei Pelé por volta das 15h40, 20 minutos antes da partida. A Rua Lagoa Hotel estava com trânsito paralisado, onde vários motoristas ainda tentavam chegar ao estacionamento, e dezenas de veículos estavam estacionados na calçada do estádio, trancando outros tantos automóveis. Cena semelhante podia ser vista no estacionamento do Trapichão. 

 Dentro de campo, o CSA lutava para reverter a vantagem do CRB. Mandante da decisão, o Azulão tinha a maioria da torcida presente no Rei Pelé. Próximo do final da partida, as confusões voltaram a acontecer.  "Saímos do jogo antes do término, por volta dos 38 minutos do segundo tempo. Na saída, outra cena de terror. Briga entre torcida, muito tumulto, correria. Briga ainda na saída da arquibancada, tentamos desviar e sair, mas tinha confusão o tempo inteiro. Conseguimos sair do estádio, mas era outra cena de terror nas ruas. Até agora fico pensando naquelas cenas e fico aterrorizado. Quando cheguei em casa é que tomei conhecimento do que houve dentro de campo. Mas fora não foi muito diferente. Tudo muito conturbado", relembrou. 

Antonio informou que o pai fez o boletim de ocorrência, através do site da Polícia Civil, e entrou em contato com o seguro do carro para saber se vai ou não precisar acionar a franquia. Nesta segunda-feira, a rotina voltou ao normal com o trabalho. Mas questionado sobre futebol e voltar a ir ao estádio em dia de clássico...

"De jeito nenhum. Ainda conversava sobre isso com minha esposa, momento de aflição. A primeira coisa que passa na cabeça é a família. Sobre clássico, vou me abster de qualquer hipótese de ir ao estádio, pelo menos enquanto a situação da segurança pública estiver assim. Tenho um filho, tenho muita vontade de levá-lo a um clássico, mas não vejo essa possibilidade. Passarei um bom tempo sem ir ao estádio em clássicos. Já tinha presenciado algumas cenas de tumulto em outras situação, mas nada parecido com a de domingo", desabafou Antonio, um dos milhares torcedores alagoanos, um dos que viveu momentos de terror quando ia apenas a um jogo de futebol. 

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